Artigo atualizado

Alber Elbaz, um dos símbolos da moda parisiense, morreu no último sábado, aos 59 anos, num hospital de Paris. A notícia foi confirmada pela Compagnie Financière Richemont, grupo de bens de luxo com o qual o criador tinha lançado a sua primeira marca própria, a AZ Factory, em janeiro de 2021, durante a Semana da Alta-costura de Paris.

O criador de origem marroquina ficou conhecido pelo rejuvenescimento da marca francesa Lanvin, da qual foi diretor criativo entre 2001 e 2015. Seguiu-se um hiato de cerca de cinco anos, durante o qual o designer quase não se expôs publicamente. Elbaz morreu no último sábado, após ter estado três semanas internado devido à Covis-19.

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Alber Elbaz em julho de 2019 © Anthony Ghnassia/WireImage

“Não perdi apenas um colega, mas um querido amigo”, disse o fundador e presidente da Richemont, Johann Rupert, num comunicado emitido, citado pela WWD, no seguimento da morte de Elbaz. “O Alber tinha uma merecida reputação de uma das figuras mais brilhantes e queridas da indústria. Fui sempre fui levado pela sua inteligência, sensibilidade, generosidade e criatividade acima da média”.

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“Foi um grande privilégio estar com Alber no seu último trabalho, enquanto se esforçava para realizar seu sonho de ‘moda inteligente e inclusiva’. Foi esta sua visão da moda que fez com que as mulheres se sentissem bonitas e confortáveis, ​​ao combinar o artesanato tradicional com a tecnologia”, adicionou.

Alber Elbaz nasceu em Marrocos, mais precisamente em Casablanca, mas cresceu em Israel, na cidade de Holon. Prestou serviço militar na forças israelitas e estudou mais tarde na Shenkar College of Engineering and Design, em Tel Aviv. A moda era já um talento conhecido — Alber terá desenhado os primeiros vestidos com apenas sete anos –, por isso, foi encorajado pela mãe a partir para Nova Iorque, em meados dos anos 80, para perseguir uma carreira na indústria.

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Elbaz anda à frente das coleções da Guy Laroche, em 1998 © THOMAS COEX/AFP via Getty Images

Foi aí que que trabalhou, durante sete anos, como assistente do designer Geoffrey Beene, depois de uma breve passagem por uma marca de vestidos de noiva. Mas Elbaz só daria nas vistas em 1996, aí já na Europa, quando foi contratado para ser o criativo à frente da Guy Laroche. Seguiu-se um novo desafio: a linha de pronto-a-vestir da Yves Saint Laurent, a Rive Gauche, a qual desenhou durante apenas três estações, até à chegada de Tom Ford.

Em 2001, é contratado como diretor criativo da Lanvin e é aí que o seu nome se estabelece na indústria da moda. Durante mais de uma década, Elbaz redefine e rejuvenesce a imagem da casa fundada em 1889 por Jeanne Lanvin. A marca, até então com pouca projeção na imprensa, foi catapultada pelos jogos de cor e volumes, mas também pelo desfiles espetaculares, do criador.

O designer “inteligente, espirituoso e excêntrico, que pôs sempre as mulheres em primeiro lugar”, como descreveu este domingo a crítica de moda Suzy Menkes, destacou-se aos olhos do mundo ao reintroduzir a silhueta de uma mulher num vestido de cocktail, tornando-a cool, entre a sua elegância clássica e a extravagância da cor e dos acessórios, fazendo ainda uma ponto com o sportswear e o conforto. Em 2010, a marca de luxo lançou uma coleção em parceria com a H&M, inteiramente desenhada por Elbaz.

Meryl Streep com um vestido Lanvin desenhado por Alber Elbaz, em 2012 © Getty Images

Menos de dois anos depois, em fevereiro de 2012, Meryl Streep recebeu o Óscar de Melhor Atriz com uma criação sua, um vestido drapeado, cujo reflexo dourado do lamé se confundiu com o próprio galardão. Nesse mesmo ano, uma campanha da Lanvin era protagonizada, pela primeira vez, por pessoas reais. “Trabalho sobretudo por intuição. Quando penso muito e tento racionalizar todos os problemas, não funciona. Acho que a intuição é a essência deste ofício”, admitiu numa entrevista, em 2014.

O ano seguinte ficou marcado pela sua saída da Lanvin, após ter entrado em desacordo com a estratégia definida para a empresa. As vendas ressentiram-se e a marca voltou a perder relevância no mercado, tendo sido adquirida em 2018 pelo grupo chinês Fosun. Após a saída, o designer dedicou-se a projetos pontuais como as colobarações com a Tod’s, a Converse e a Lancôme, entre outras.

Em janeiro deste ano, Alber Elbaz voltou a ser notícia, desta vez a propósito do lançamento da sua própria marca, a AZ Factory, fruto de uma união de esforços entre o designer e a Richemont. Além do respeito por todos os tipos de corpos, a marca nasceu imbuída no humor e sarcasmo que caracterizavam o criador de moda. “Fizeste-nos sonhar, fizeste-nos pensar e agora voaste. Amor, confiança e respeito, sempre”, foi a mensagem deixada nas redes sociais da marca.