Não têm sido dias fáceis para o Manchester United. Depois do anúncio e da consequente suspensão da Superliga Europeia, de onde o clube saiu em conjunto com os restantes emblemas ingleses, as críticas dos adeptos à liderança da família Glazer subiram de tom e tornaram-se uma constante. A demissão de Ed Woodward, vice-presidente, que só vai acontecer no final da época mas que foi anunciada no meio do turbilhão, não amenizou os protestos: que tiveram os seus expoentes nos atos de vandalismo na casa do mesmo Woodward e na invasão do centro de treinos por parte de um grupo de adeptos, que acabou por conseguir falar com Solskjaer.

Pelo meio, o Manchester United empatou sem golos com o Leeds no fim de semana e começou a preparar a primeira mão da meia-final da Liga Europa — naquela que é ainda a grande esperança da época dos red devils, que já não chegam à conquista da Premier League e têm praticamente assegurada a presença na Liga dos Campeões da próxima temporada. Na antecâmara da receção à Roma de Paulo Fonseca, Bruno Fernandes respondeu a algumas perguntas de adeptos do Manchester United e acabou por revelar que as grandes discussões amigáveis no balneário são tidas entre ele, português, e os dois brasileiros do plantel, Alex Telles e Fred.

“Glazers out”. Adeptos do Man. United invadiram centro de treinos e exigiram a saída dos donos norte-americanos

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“Discutimos acerca do Rivaldo e do Figo, sobre qual era o melhor. Não importa se gosto deles ou não, defendo sempre os jogadores portugueses. Estão sempre a discutir sobre quem é que é o melhor jogador do mundo, da história, blá blá blá. Discutimos sempre porque eles dizem que o Pelé foi o melhor da história do futebol e eu coloco sempre o Cristiano no meio, claro. Para mim, Cristiano e Messi, digo sempre, fazem história há muitos anos. Tal como eu, eles nunca viram o Pelé jogar, não podem dizer que ele era o melhor porque nunca o viram. Dizem só porque são brasileiros. Acho que Pelé é um dos melhores do mundo mas só porque ouço as pessoas e vi vídeos. Toda a gente pode escolher Maradona ou Eusébio”, contou o internacional português, que deixou ainda algumas pistas sobre aquilo que pretende fazer quando acabar a carreira.

“Vejo o tempo a passar, começo a conviver com miúdos nascidos em 2000, 2001, 2002 e a minha irmã é de 2000. Isso causa alguma confusão na minha cabeça. Estou a tentar aproveitar o futebol. Acho que quero ser treinador, gostaria de ser treinador. Não sei qual a equipa que gostaria de treinar. Claro que se eu conseguisse treinar o Manchester United, o maior clube, ficaria feliz. Os adeptos podem fazer já alguma pressão para me trazer como treinador! Não tenho a certeza, mas pelo que sinto pelo futebol, pelo sentimento que tenho, acho que tenho de continuar a estar no futebol porque toda a minha vida é aqui. Acho que, no futuro, a minha vida tem de ser no futebol também”, atirou Bruno Fernandes, entre algumas gargalhadas.

Ora, esta quinta-feira e depois de eliminar o Granada, o Manchester United recebia a Roma de Paulo Fonseca, que nos quartos de final afastou o Ajax, que não deixava de ser um dos grandes candidatos à conquista da Liga Europa. Apesar disso, e logo depois do final da segunda mão dos quartos, Ole Gunnar Solskjaer garantiu que ainda não tinha visto os italianos jogar: e os adeptos giallorossi responderam com tarjas no centro de treinos da equipa, onde a cara do treinador norueguês surgia com a frase “não os conheço e ainda não os vi jogar”. Solskjaer explicou que não queria desrespeitar a Roma e que só quis explicar que ainda não tinha analisado profundamente o adversário seguinte — e cabia agora a Paulo Fonseca garantir que o técnico dos red devils sabia perfeitamente quem era a Roma depois do jogo desta quinta-feira.

Bruno Fernandes era naturalmente titular, com Pogba e Rashford também no apoio a Cavani, sendo que McTominay e Fred eram a dupla responsável pelo meio-campo e Daniel James e Mason Greenwood arrancavam a partir do banco. Do outro lado, Paulo Fonseca lançava Mkhitaryan (que, a par de Smalling, reencontrava a antiga equipa) e Pellegrini junto a Dzeko e Veretout na zona intermédia, à frente de Diawara. Logo nos instantes iniciais da partida, ainda sem que nenhum dos conjuntos tivesse feito ou provocado grande coisa, o treinador português foi desde logo forçado à primeira alteração: Veretout sofreu uma lesão muscular no primeiro sprint, ainda tentou continuar mas acabou por ser substituído por Villar, espanhol de 23 anos formado no Valencia.

O arranque em falso da Roma, porém, ainda iria piorar. Quando ainda não estavam cumpridos dez minutos de jogo, o Manchester United abriu o marcador: numa jogada desenhada com regra e esquadro, McTominay começou tudo na esquerda, solicitou Pogba, que tirou dois adversários da frente e combinou com Cavani, que assistiu Bruno Fernandes de primeira; o jogador português, à saída do guarda-redes, picou a bola e marcou (9′). Os ingleses iam dominando de forma clara a partida mas, na primeira vez em que a Roma chegou mais perto da baliza de De Gea, Pogba acabou por cometer um erro que custou o empate — Karsdorp foi até à linha de fundo, cruzou em esforço e o médio francês intercetou a bola com o braço. Na conversão da grande penalidade, Pellegrini não falhou (15′).

Depois do empate, o Manchester United continuou a dominar a partida de forma geral e teve uma grande oportunidade para voltar a ficar em vantagem, com um remate de Pogba de fora de área que Pau López defendeu (25′). Na sequência desse lance, porém, o guarda-redes magoou-se no ombro e teve de ser substituído por Mirante, tornando-se a segunda alteração forçada para Paulo Fonseca. À passagem da meia-hora, os italianos acabaram por dar a volta o marcador, num golo que não deixou de ser contra a corrente natural do jogo: Mkhitaryan recebeu na esquerda e tirou um passe de rotura perfeito que encontrou Pellegrini na grande área; o italiano cruzou para a zona da pequena área e Dzeko, entre Maguire e Shaw, empurrou para a baliza deserta (33′).

Até ao intervalo e sem que o resultado se alterasse, o quase surreal aconteceu. Spinazzola também se lesionou e saiu para deixar entrar Bruno Peres, com Paulo Fonseca a ser obrigado a fazer três substituições durante a primeira parte devido a problemas físicos. À parte isso, e sem estar a realizar uma grande exibição — muito longe disso, aliás –, a Roma estava a vencer em Old Trafford ao ter concretizado os dois únicos lances de perigo de que beneficiou; do outro lado, o Manchester United abriu o marcador, teve sempre mais bola mas foi traído por dois erros defensivos e por alguma displicência no ataque. O exemplo maior disso mesmo foi a enorme oportunidade desperdiçada por Cavani, já nos descontos, a permitir a defesa de Mirante e depois o corte de Smalling (45+5′).

Logo no arranque da segunda parte, e sem que nenhum dos treinadores tivesse feito alterações, Cavani acabou por empatar novamente a partida. Novamente através de uma ótima jogada de ataque, o uruguaio recebeu de Pogba, jogou com Bruno Fernandes e o internacional português devolveu ao avançado, que atirou de primeira para dentro da baliza (48′). A Roma, que estava a ganhar em Old Trafford, sofria um golo em contra-ataque porque colocava muitos elementos na hora de chegar perto da baliza de De Gea e não tinha capacidade de recuperar posições — para além das repetidas perdas de bola na hora de sair a jogar, principalmente de Diawara, que deixavam o Manchester United com via verde para soltar a velocidade. Cavani ficou muito perto de bisar, ao atirar por cima depois de um cruzamento de Shaw na esquerda (53′), e as oportunidades desperdiçadas dos ingleses eram consecutivas.

O golo, por fim, chegou já depois de estar cumprida a hora de jogo. Shaw desequilibrou na esquerda, Pogba solicitou Bruno Fernandes e o médio português abriu na direita, em Wan-Bissaka; o lateral atirou um remate fraco que Mirante defendeu para a frente e Cavani, no sítio certo à hora certa, encostou na recarga (64′). A Roma desencontrou-se por completo e Smalling fez grande penalidade sobre Cavani, oferecendo mais um golo a Bruno Fernandes (71′), com Pogba a engrossar as contas pouco depois, de cabeça e na sequência de mais uma assistência do médio ex-Sporting (75′). Até ao fim, e pouco depois de entrar, Mason Greenwood fechou o resultado com um pontapé cruzado a passe de Cavani (86′).

O Manchester United goleou a Roma em Old Trafford graças a uma segunda parte absolutamente demolidora e colocou-se em ótima posição para garantir uma das vagas na final da Liga Europa, em Gdansk, no dia 26 de maio. No dia em que tudo aconteceu a Paulo Fonseca, com três jogadores lesionados em 45 minutos, Bruno marcou dois golos, fez duas assistências e esteve em todos os golos da equipa de Solskjaer. E mostrou que, pelo menos esta quinta-feira, ganhou todas as discussões a Fred e Alex Telles.