Morreu o homem acusado de em abril de 2019 ter baleado uma colega de trabalho no Taguspark, em Oeiras, tendo tentado suicidar-se de seguida com um tiro. O suspeito ficou com várias lesões cerebrais que fizeram com que tivesse perdido todas as suas capacidades físicas e mentais e o caso nunca chegou a ir para julgamento.

De acordo com o despacho do Tribunal de Cascais a que o Observador teve acesso, o homem morreu no final de abril, mas só agora a família da vítima foi notificada. O procedimento criminal contra Ricardo N. foi agora extinto.  “Com fundamento do falecimento do arguido, julgo extingo o procedimento criminal“, lê-se no despacho.

Homicida do Taguspark perdeu a memória e agora não pode ser julgado. Há uma lacuna na lei

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O alegado homicida e a vítima trabalhavam os dois no banco Millennium BCP, no Taguspark, em Oeiras. A investigação da Polícia Judiciária (PJ) conseguiu apurar que o bancário teria uma obsessão pela colega de trabalho, apesar de a colega já lhe ter dito que não queria ter uma relação com ele.

Já depois do homicídio, a partir da análise dos telemóveis da vítima e do suspeito, a PJ conseguiu apurar que, entre 1 de outubro de 2018 e 19 de abril de 2019 (200 dias ao todo), os dois comunicaram 328 vezes — o que dá uma média de mais de uma chamada ou mensagem por dia. Deste total, apenas 13 chamadas foram feitas pela vítima: as restantes 315 chamadas e quatro mensagens de texto detetadas tiveram origem no telemóvel do suspeito.

Uma semana antes do crime, a vítima terá confidenciado a uma amiga que o colega lhe tinha feito ameaças porque tinha ficado “desgostoso” pela “impossibilidade” de ambos terem uma relação amorosa. O homicídio aconteceu um dia depois de a vítima e o marido terem regressado de um fim de semana em Paris. À PJ, vários colegas de trabalho revelaram que, nesses dias, o suspeito foi tentando junto deles “monitorizar” a viagem da colega.

O crime aconteceu na hora de almoço de 30 de abril de 2019. A vítima dirigia-se para o seu carro quando foi surpreendida pelo alegado agressor. Ainda tentou ligar para o marido a pedir socorro, mas foi atingida por um tiro na cabeça. De seguida, o bancário baleou-se a si próprio. Foi transportado para o Hospital de Santa Maria em estado grave, ficou em coma e perdeu todas as suas capacidades físicas e mentais, que depois foi recuperando, mas de forma muito ligeira. Meses mais tarde ficou consciente, mas continuou sem memória do que tinha acontecido naquele dia. Ricardo estava internado numa unidade de cuidados continuados e nem sequer falava: comunicava só por escrita ou por gestos.

Apesar de ter sido acusado pelo Ministério Público, o tribunal decidiu não marcar julgamento e pediu ao hospital atualizações sobre o seu estado de saúde de quatro em quatro meses. Recentemente, o juiz tinha pedido ao Instituto de Medicina Legal uma “perícia psiquiátrica” ao suspeito.