Dos 308 concelhos portugueses, no continente e regiões autónomas, 302 encontram-se no nível de risco moderado, com menos de 240 novos casos por 100 mil habitantes a 14 dias, segundo os dados do Boletim Epidemiológico da Direção-Geral da Saúde, divulgado esta sexta-feira. Mas a tendência do número de casos, a nível nacional, é agora de aumento com o R(t) superior a 1, de acordo com o relatório do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa), divulgado esta sexta-feira.

Entre todos os concelhos, 287 estão abaixo dos 120 novos casos por 100 mil habitantes a 14 dias (264 no continente), ou seja, abaixo da linha vermelha traçada pelo Governo e fora da lista de alerta (que tem 10 concelhos). Em 81 destes concelhos a incidência acumulada das últimas duas semanas foi de zero casos.

Em Lisboa, pelo contrário, a incidência está perto do limite: 118 novos casos por 100 mil habitantes a 14 dias. Lisboa é assim a única das capitais de distrito e o único concelho entre os 15 com a maior densidade populacional do continente que se encontra perto da linha vermelha.

Concelhos Incidência cumulativa a 19.Maio
Amadora 39
Lisboa 118
Porto 75
Odivelas 40
Oeiras 48
Matosinhos 53
São João da Madeira 27
Almada 45
Barreiro 49
Cascais 47
Vila Nova de Gaia 47
Seixal 30
Maia 40
Espinho 7
Entroncamento 56

A região de Lisboa e Vale do Tejo é também a única do continente que na última semana, até 16 de maio, teve um índice de transmissibilidade superior a 1 — R(t) de 1,11.

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Os valores de R(t) do Insa foram estimados com base nos dados de 12 a 16 de maio, depois dos festejos do Sporting, na noite de 11 de maio. O facto é que a região já estava a aumentar o índice de transmissibilidade desde o início do mês, mas a diferença agora foi maior — 0,91 a 2 de maio, 0,95 a 9 de maio e 1,11 a 16 de maio.

Especialistas atribuem aumento de novos casos e do R(t) em Lisboa aos festejos do título do Sporting

Carlos Antunes, engenheiro na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e Óscar Felgueiras, epidemiologista da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, disseram ao Observador que consideram que haja uma associação entre o aumento de casos e os festejos depois de se saber que o Sporting era o vencedor do campeonato nacional de futebol.

Bernardo Mateiro Gomes é mais prudente nas respostas ao Observador. Ainda que não desvalorize que os festejos possam ter contribuído para o aumento do número de casos, o médico de Saúde Pública lembra que os adeptos não se juntaram só em Lisboa e que nem todos os que celebraram a vitória em Lisboa eram do concelho.

Os riscos corridos na noite de 11 de maio — muita gente junta e alguns sem usar máscara — também acontecem noutros contextos, lembra o médico. “Devemos ter a prudência suficiente para percebermos o contexto de fadiga pandémica e do aumento de situações de risco, nomeadamente em espaços fechados”, diz Bernardo Mateiro Gomes, para justificar porque é que não atribui todas as culpas às celebrações na capital. E acrescenta: “Já existia alguma tendência prévia de crescimento”.

Arganil e Ribeira Grande no nível de risco muito elevado

Arganil e Ribeira Grande (Açores) são os únicos concelhos no nível de risco muito elevado — têm ambos mais de 600 novos casos por 100 mil habitantes, a 14 dias, segundo os dados referentes a 19 de maio, divulgados esta sexta-feira.

Arganil, aliás, é um dos concelhos que recuou na fase de desconfinamento na semana passada e que esta semana ainda não pode avançar. Está assim com medidas de 19 de abril.

Concelhos Incidência a 19.Mai Incidência a 12.Mai Incidência a 5.Mai Incidência a 27.Abr Incidência a 20.Abr
Arganil 608 826 590 236 127
Lamego 181 261 281 157 92
Montalegre 389 289 67 56 44
Odemira 287 271 227 562 991

Golegã, Odemira, Montalegre e Nordeste (Açores) são os quatro concelhos no nível de risco elevado — entre 240 e 479,9 novos casos por 100 mil habitantes, a 14 dias.

Odemira e Montalegre, com 287 e 389 novos casos por 100 mil habitantes, recuaram esta semana no desconfinamento, para as medidas de 19 de abril, porque voltaram a estar acima dos 240 casos por 100 mil habitantes — tal como se tinha alertado na semana passada.

DGS. Castelo de Paiva, Montalegre e Odemira em risco de recuar no desconfinamento

Já a Golegã mantém-se em alerta. Se não baixar dos 240 novos casos por 100 mil habitantes arrisca-se a recuar no desconfinamento na próxima semana.

Lamego desceu a incidência, mas não o suficiente

Lamego é outro dos concelhos que se mantém na terceira fase do desconfinamento, mas já está no nível de risco moderado. O problema é que não conseguiu descer para menos de 120 novos casos por 100 mil habitantes a 14 dias e ficou retido com medidas de 19 de abril.

O recuo de Lamego aconteceu na semana passada quando apresentou, pela segunda semana consecutiva, uma incidência cumulativa acima de 240 casos por 100 mil habitantes. Mas, enquanto Lamego fica retido com 181 casos, Arganil fica retido com 608.

Lista de alerta: cinco entram, cinco ficam e cinco saem

Vila Nova de Paiva entrou na lista de concelhos em alerta por ter registado mais de 120 novos casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias. No último mês, no entanto, o concelho tinha registado zero casos em três semanas seguidas.

Fafe não conseguiu sair da lista dos concelhos em alerta por uma unha negra: apesar de ter vindo a descer a incidência cumulativa nas últimas semanas, registou 121 novos casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias.

Albufeira, Castelo de Paiva, Fafe, Golegã e Oliveira do Hospital mantém-se na lista de concelhos que precisam de estar atentos à incidência cumulativa. Sendo que a Golegã é o único em risco de recuar caso na próxima semana se mantenha acima de 240 novos casos por 100 mil habitantes a 14 dias.

Concelhos Incidência a 19.Mai Incidência a 12.Mai Incidência a 5.Mai Incidência a 27.Abr Incidência a 20.Abr
Albufeira 152 152 65 82 159
Castelo de Paiva 226 298 226 207 136
Fafe 121 131 160 206 141
Golegã 243 206 169 56 75
Oliveira do Hospital 130 229 280 223 88
Lagoa 180 119 26 75 75
Santa Comba Dão 144 57 163 115 38
Tavira 139 77 61 41 90
Vila do Bispo 233 39 39 58 19
Vila Nova de Paiva 149 21 0 0 0

Lagoa, Santa Comba Dão, Tavira, Vila do Bispo e Vila Nova de Paiva entram esta semana na lista dos concelhos em risco. Na verdade, Santa Comba Dão regressa depois de ter saído na semana passada.

Desconfinamento. Resende avança finalmente e Odemira volta a recuar juntamente com Montalegre

Alvaiázere e Melgaço que estavam há, pelo menos, duas semanas na lista de concelhos em alerta por terem mais de 120 novos casos por 100 mil habitantes a 14 dias saem esta semana com distinção: um regista 15 casos e o outro 37, por 100 mil habitantes. Da lista sai também Torres Vedras, Vale de Cambra e Vila Nova de Poiares.

Concelhos Incidência a 19.Mai Incidência a 12.Mai Incidência a 5.Mai Incidência a 27.Abr Incidência a 20.Abr
Alvaiázere 15 152 182 45 15
Melgaço 37 124 124 136 124
Torres Vedras 84 127 101 117 107
Vale de Cambra 94 141 136 52 14
Vila Nova de Poiares 101 144 101 14 0

Estes concelhos juntam-se aos restantes (num total de 264), em Portugal continental, que estão na quarta fase de desconfinamento (com medidas de 1 de maio), fora da lista de alerta, incluindo Resende que era o único concelho retido na segunda fase (com medidas de 5 de abril).

Concelhos Incidência a 19.Mai Incidência a 12.Mai Incidência a 5.Mai Incidência a 27.Abr Incidência a 20.Abr Incidência a 13.Abr Incidência a 6.Abr
Incidência a 30.Mar
Resende 59 158 237 404 572 385

Lisboa e regiões autónomas a contribuirem para a “tendência crescente da incidência de SARS-CoV-2”

Na semana de 12 a 16 de maio, a região de Lisboa e Vale do Tejo foi a única do continente com um índice de transmissibilidade acima de 1 — R(t) 1,11 —, segundo o relatório do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, divulgado esta sexta-feira.

As restantes regiões do continente registaram índices de transmissibilidade de 0,98 no Norte e Centro, 0,95 no Algarve e 0,92 no Alentejo.

Para o valor médio a nível nacional de 1,03 contribuíram também as regiões autónomas, com os Açores a registarem um R(t) de 1,08 e a Madeira 1,12.

De forma geral, houve um aumento do R(t) desde o início do mês — de 0,93 a 1 de maio para 1,05 a 16 de maio, “indicando a transição de uma tendência decrescente para uma tendência crescente da incidência de SARS-CoV-2”, indicam os autores do relatório.

Esta variação foi mais acentuada na região de Lisboa e Vale do Tejo, onde o R(t) passou de 0,90 a 1 de maio para 1,15 a 16 de maio.”

De facto, a região de Lisboa e Vale do Tejo e as regiões autónomas estão a puxar o país para um nível crescente de transmissibilidade e para uma incidência de casos elevada.

Entre as restantes regiões, o Algarve é a que mais contribui para uma incidência elevada (72,8 novos casos por 100 mil habitantes a 14 dias), ultrapassada apenas pelas ilhas: Madeira com uma incidência cumulativa de 105,4 casos por 100 mil habitantes e Açores com 114,9 casos.

Atualizado com as opiniões relacionadas com os festejos do Sporting.