“Caros madridistas, há 20 anos, desde o primeiro dia em que pisei a cidade de Madrid e vesti a camisola branca deram-me o vosso amor”. É assim que Zinedine Zidane começa uma carta aberta aos adeptos dos ‘merengues’, que não é só amor. Há críticas aos valores que se perderam pelo caminho, à memória curta e ainda de algum tipo de censura ao trabalho que desenvolveu. “Gostava que nos últimos meses a minha relação com o clube e com o presidente fosse um pouco diferente da de outros treinadores”.

Na carta, publicada na íntegra no jornal desportivo As, o agora ex-treinador do clube espanhol explica os motivos da saída e é claro: “vou embora porque o clube não me dá a confiança que preciso”. “Não pedia privilégios, claro que não, mas mais memória”, diz Zidane que frisa que “as relações humanas são mais importantes que dinheiro, que a fama” e que devem estar “acima de tudo”.

Zidane abandona o comando técnico do Real de Madrid após época sem títulos

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Zidane começa por recordar a carreira de jogador e treinador com a camisola branca vestida e o momento em março de 2019 quando aceitou o pedido de Florentino Pérez para voltar a sentar-se no banco aos comandos da equipa técnica. Isto, recorde-se, depois de oito meses fora do cargo de treinador do Real Madrid. “Quando encontrava cada um de vós na rua sentia o apoio e desejo de ver-me novamente com a equipa. Porque partilho os valores do madridismo, este clube que pertence aos seus sócios, aos adeptos, ao mundo inteiro. Tentei transmitir eu também estes valores em tudo o que fiz, tentando ser um exemplo”, escreve Zidane.

“Passar 20 anos no Real foi a coisa mais bonita que aconteceu na minha vida e isso devo-o exclusivamente a Florentino Pérez que apostou em mim em 2001, que lutou por mim, para me trazer para o clube quando havia quem estivesse contra”, nota o francês que diz que “sempre estará grato ao ‘presi'”.

“Vou embora, mas não abandono o barco nem estou cansado de treinar”, explica Zidane aos adeptos, acrescentando que deixa o clube porque sente que o clube deixou de lhe dar a confiança que precisa. “Sinto que o clube não me dá a confiança que preciso, não me dá apoio para construir algo a médio ou longo prazo. Conheço o futebol e conheço a exigência de um clube como o Real, sei que quando não ganhas tens que sair”, escreve na carta que termina a dizer que “sempre será um de vós [madrilistas]”.

Zidane acusa ainda o clube de ter intencionalmente colocado notícias nos jornais para o pressionar, algo que, escreve, o “magoou” e que atingiu também os jogadores e criou “dúvidas e mal-entendidos”. Ainda assim, garante o ex-treinador, os jogadores sempre estiveram do seu lado e presenteavam-no com “vitorias grandiosas” quando o coro de críticas e os rumores do seu despedimento se adensavam.

Antes das despedidas, Zidane pediu ainda aos jornalistas com os quais fez “centenas de conferências de imprensa” que façam mais questões sobre o futebol dentro das quatro linhas e menos sobre “polémicas”: “Não esqueçamos o futebol, cuidemos do futebol”.