O primeiro-ministro, António Costa, disse, este domingo, que o Estado tem “feito o que lhe compete fazer” para que o Reino Unido recue na decisão de retirar Portugal da “lista verde” de viagens internacionais do Governo britânico.

“Aquilo que temos feito é o que nos compete fazer, é dar toda a informação, todos os dados, para que o Reino Unido possa decidir”, afirmou, sublinhando que o Governo português mantém “canais de diálogo” com o executivo britânico, tendo em vista explicar que a medida não se justifica.

António Costa falava aos jornalistas no Funchal, à margem da apresentação da moção de orientação política que leva ao Congresso do PS, nos dias 10 e 11 de julho, intitulada ‘Recuperar Portugal, garantir o Futuro’.

“O Estado tem feito o que lhe compete fazer”, reforçou, especificando: “É dar informação, manter os canais de diálogo com o Governo britânico, tendo em vista explicar, quer, no nosso ponto de vista, que a medida não se justifica, quer os graves prejuízos que isso causa, desde logo aos britânicos, que, neste momento, não podem sair sem estarem sujeitos a quarentena para nenhum sítio da Europa, quer também os danos que causa na economia nacional.”

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O primeiro-ministro admite, contudo, que os governantes britânicos sejam “menos sensíveis” aos danos que causam na economia portuguesa, mas disse esperar que estejam atentos aos “graves prejuízos à liberdade de circulação dos seus concidadãos”.

“Não podemos ter este sistema de instabilidade de três em três semanas haver aqui alterações, isso não é bom nem para quem planeia as suas férias nem para quem tem de organizar a indústria turística para acolher em condições”, alertou.

António Costa realçou que o seu Governo tem procurado explicitar junto do Reino Unido a “desadequação” da medida, face à realidade pandémica no país, ao nível nacional e regional, mas sublinha que se trata de um “país soberano” e, por isso, toma as “decisões que entender”.

“Nós temos dado informação discriminada regionalmente, o Reino Unido não ignora essa situação. Não ignora designadamente que aqui, na Madeira, a situação pandémica é francamente melhor do que a existente no próprio Reino Unido, quer em termos gerais, quer em termos de variantes, quer em termos de mutações. Eles não ignoram”, afirmou.

O primeiro-ministro considerou, por outro lado, que a situação pandémica na Região de Lisboa e Vale do Tejo não terá influenciado a decisão do Reino Unido, embora reconheça que “merece toda a preocupação” das autoridades.

“A Região de Lisboa e Vale do Tejo é uma situação que, obviamente, nos merece toda a preocupação e estamos a seguir com a devida atenção e foi por isso que se iniciou, já há duas semanas, uma campanha especial de testagem”, disse.

Na quinta-feira, o Ministério dos Transportes britânico anunciou que Portugal, incluindo os arquipélagos da Madeira e Açores, vai deixar a “lista verde” de viagens internacionais do Governo britânico na terça-feira às 04:00.

Segundo o ministério, Portugal passa para a “lista amarela” para “salvaguardar a saúde pública contra variantes preocupantes” e proteger a o programa de vacinação britânico.

Num comunicado, o Governo britânico refere que, de acordo com a base de dados europeia GISAID, foram identificados em Portugal 68 casos da variante B1.617.2, identificada pela primeira vez na Índia, denominada pela Organização Mundial de Saúde por variante Delta, “com uma mutação adicional potencialmente prejudicial”.

De acordo com os dados mais recentes da Direção Regional de Saúde da Madeira, o arquipélago, com cerca de 260 mil habitantes, regista 127 casos ativos de Covid-19, num total de 9.496 confirmados desde o início da pandemia, e 72 mortos associados à doença.

A pandemia de Covid-19 provocou, pelo menos, 3.723.381 mortos no mundo, resultantes de mais de 172 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 17.034 pessoas dos 852.646 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

António Costa defende que Portugal não pode estar dependente de um só mercado turístico

O secretário-geral do PS, António Costa, afirmou, este domingo, que Portugal tem de continuar a apostar no setor do turismo, mas deve evitar ficar dependente de um só mercado, como o do Reino Unido, apostando na diversificação da oferta.

“Esta crise [pandémica] demonstrou bem a fragilidade de alguns dos setores económicos mais robustos, mais promissores e que foram áreas de especialização natural em muitas regiões. É o caso do turismo”, disse.

E reforçou: “Isso significa que nós, cada vez mais para o futuro, não podemos depender tanto e só de um setor económico, temos de ter a capacidade de desenvolver e de ativar outros setores económicos, porque novas crises podem surgir e não podemos estar tão fragilizados perante essas crises como estivemos desta vez.”

O secretário-geral socialista, que é também primeiro-ministro, falava, no Funchal, perante militantes e autarcas socialistas, na apresentação da moção de orientação política, que leva ao Congresso do PS, nos dias 10 e 11 de julho, intitulada ‘Recuperar Portugal, garantir o Futuro’.

“Não quer dizer que não tenhamos de lutar e continuar a lutar para fortalecer e apoiar setores como o do turismo”, declarou, realçando, no entanto, a necessidade de apostar na “diversificação da oferta turística” em cada uma das regiões.

António Costa sublinhou a importância do mercado britânico para Portugal, vincando que deve continuar ativo, mas disse que o país tem de procurar novos mercados emissores para além dos tradicionais.

“É tempo também de, cada vez mais, olharmos para outros mercados, para não ficarmos só dependentes de um só mercado”, afirmou, reforçando: “Essa dependência é uma fragilidade.”

O secretário-geral do PS afirmou, por outro lado, que existem muitas áreas nas quais o país deve investir para diversificar a base económica e garantiu que a sua moção de orientação política aponta nesse sentido e tem em conta quatro desafios estratégicos: a demografia, as alterações climáticas, a transição digital e o combate às desigualdades.

António Costa destacou também o oceano como uma “riqueza enorme que o país tem”.

“É 80% do nosso território, graças à profundidade atlântica que os Açores e a Madeira nos proporcionam, e não podem continuar a ser os grandes esquecidos do nosso processo de desenvolvimento”, disse. E reforçou: “Pelo contrário, têm de ser um dos grandes ativos do nosso processo de desenvolvimento.”