Foram apenas 28 dos 92 atletas, a que se juntaram treinadores e demais elementos da comitiva nacional. No entanto, funcionou quase como se estivessem os 92 atletas. Mais até, os 92 atletas e todos aqueles que ajudaram numa preparação olímpica atípica, marcada pelas dúvidas, pelos receios, pelos meses seguidos de treinos em condições que ninguém imaginava. Porque, no final, sobra o nome que marca a representação nacional nos Jogos Olímpicos de Tóquio: Missão. E a Missão vai começar a partir de amanhã em diante com uma missão e por uma missão, entre vários estágios em locais distintos do Japão por forma a preparar a antecâmara da prova.

“Amanhã partirão os primeiros elementos da Missão, que vão providenciar toda a logística que vai depois acolher o resto da Missão com cerca de 200 elementos entre atletas, treinadores, preparadores, equipa médica, pessoas do staff. Vai ser uma Missão sui generis, nuns Jogos que irão acontecer um ano após a previsão inicial e num contexto de restrições atento à situação pandémica que ainda se vive. Os estudos dizem que a maioria do povo japonês gostaria que fossem adiados ou que não se realizassem. Sabemos que é uma situação atípica mas animam-nos dois propósitos: o da esperança, que estes Jogos sejam um sinal para o mundo que os tempos mais difíceis estão ultrapassados; e o da obrigação de servir Portugal e elevar o nome de quem representamos”, começou por destacar José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal.

“Para a Missão, têm sido tempos difíceis, com medos e receios que ainda não estão totalmente afastados. Tudo fizemos para dar as melhores condições para a preparação dos atletas, garantindo a segurança e as demais condições para uma participação de excelência. Os verdadeiros protagonistas são sempre os atletas. Saibamos respeitar e valorizar os nossos atletas, que os seus sonhos se concretizem. Como escreveu Manuel Alegre, ‘Mais do que ser primeiro, herói é quem sabe dar por inteiro e dentro de si ir sempre mais além'”, frisou, antes de valorizar os 92 atletas de 17 modalidades “com um equilíbrio entre homens e mulheres jamais atingido”. “A avaliação do apuramento olímpico é muito positiva. Temos a exata noção da responsabilidade desportiva e também social perante o país que representamos e queremos que se sintam orgulhosos”, concluiu.

“A minha primeira palavra vai para o presidente do Comité Olímpico, que representa a fibra daquilo que há de melhor em Portugal e nos portugueses, firme no seu posto, corajoso na sua determinação, sempre a pensar naquelas e naqueles que servem Portugal. Agradeço a todos os que tornaram possíveis estes Jogos, não só da parte do Japão mas cá em Portugal, numa edição que é completamente diferente, com cinco anos de distância. Os atletas prepararam o seu caminho, em ascensão, tiveram os melhores resultados em Europeus e Mundiais. Tudo isso corresponde a um percurso preparado que teve de ser alterado, sem se saber se havia ou não, sem certeza. O que é necessário da vossa parte, em termos de sentido de missão e entrega total, este ano tem outro significado porque vale mais, porque custou mais. Nós sabemos que custou mais e por isso têm mais mérito”, disse depois Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República, no discurso de despedida aos elementos da Missão.

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“O povo português identifica-se com a vossa luta, torce ainda mais por vocês. São os embaixadores qualificados de Portugal. Temos uma magnífica diplomacia, política, económica, social, das nossas comunidades, dos nossos trabalhadores, das mulheres e homens da Cultura e da Ciência. Mas os Jogos Olímpicos são um momento especial e os nossos embaixadores são especiais, pela concentração do tempo, pela importância do momento, pelo sofrimento para lá chegarem, pelas alegrias que esperamos que sejam muitas estando a competir com os melhores dos melhores. Vocês são os melhores dos nossos melhores embaixadores”, salientou, antes de dar nota também de uma alteração na Missão que entende como uma alteração na própria sociedade portuguesa.

“Alguns até já estão no Japão. Igualámos a maior delegação de sempre e temos mais mulheres, temos mais uma modalidade, temos uma modalidade coletiva. É uma evolução, 35% de mulheres é uma evolução e estamos orgulhosos. Portugal está a mudar e a nossa Missão acompanha essa mudança. Quem fica cá, como eu e muitos outros, vai ficar a sofrer ainda mais à distância, porque sofre-se mais à distância. Ainda assim, vamos estar perto, sempre perto. Quero agradecer em nomes de todos os portugueses pela vossa saga. Aos mais experientes, a saga de irem ainda a estes Jogos, aos mais novatos irem a uns Jogos improváveis, por definir quase até ao último minutos. Foi como preparar exames sem saber se havia exames”, prosseguiu.

“Tenho sido um paladino da esperança. Do mesmo modo que precisámos no passado e hoje precisamos ser disciplinados, a fazer o que precisamos fazer de fundamentais para acabar a pandemia, a vida não pára, não acaba com a pandemia. Há mais vida para além da pandemia, há mais desporto, mais solidariedade, mais esperança para além da pandemia e vocês são o símbolo dessa esperança no futuro. Ficaremos eternamente gratos pela vossa presença, nunca mais haverá uma experiência assim”, concluiu o presidente da República.