A coordenadora do BE defendeu na segunda-feira que a discussão sobre a remodelação do Governo é “inútil” em face da necessidade de resolver os problemas do país, e considerou “bizarra” a forma como alguma oposição se tem comportado.

Noutros momentos já me pude pronunciar sobre isso, mantenho que a nossa responsabilidade neste momento é responder aos problemas do país. Não vou debater esse assunto, porque acho absolutamente inútil debater isso quando estamos aqui com trabalhadores, mais de 400 trabalhadores da Altice, que podem vir a ser despedidos e quero centrar-me nessa questão”, afirmou Catarina Martins, à margem de encontro com trabalhadores da Altice, no Porto.

A líder do Bloco considerou até a atitude de alguma oposição “bizarra”. “Muito sinceramente, nós defendemos a necessidade de resolver os problemas do país e é sobre isso que nos vamos focar sempre e achamos até bizarra a forma como alguns partidos da oposição se tem comportado nos últimos dias”, disse.

Quanto à avaliação que faz da atuação do Governo, Catarina Martins disse que, nesta altura”, “é preciso muita atenção às questões do trabalho”. “Há uma série de despedimentos em curso no país, uns mais encapotados do que outros. Lembro por exemplo os ‘outsourcing’ das cantinas, da limpeza, onde tem havido tantos problemas, e temos também empresas a despedir em período de pandemia para postos de trabalho que se mantêm e o caso da Altice não é o único”, exemplificou, salientando que a primeira forma de recuperar o país de uma crise é assegurar postos de trabalho.

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Questionado sobre se a renovação da equipa governamental seria benéfica no âmbito das negociações para o Orçamento do Estado, a coordenadora do BE disse apenas que um Governo que projeto os direitos dos trabalhadores é “seguramente” melhor.

Seguramente um Governo que proteja os direitos dos trabalhadores que impeça o despedimento coletivo na Altice, tenha disponibilidade para mudar a lei de trabalho para proteger os trabalhadores estará em melhor condições para negociar um orçamento à esquerda”, concluiu.

O presidente do PSD, Rui Rio, defendeu na segunda-feira ser notório o “desgaste” e a “desorientação” do Governo de António Costa, considerando ser evidente a necessidade de uma remodelação que, caso fosse primeiro-ministro, incluiria Eduardo Cabrita.

Questionado sobre se a remodelação pode esperar para depois das eleições autárquicas marcadas para 26 de setembro, o líder do PSD, que falava no Porto, à margem de um ciclo de conferência, deixou claro que, se fosse primeiro-ministro, já o teria feito, antes que a situação “se degradasse como se tem degradado” e antes das negociações para o Orçamento do Estado (OE). “Eu acho que sim, acho quanto mais depressa a remodelação for feita melhor, mas a partir daí, o primeiro-ministro é que gere os ‘timmings’ dele”, disse. Acrescentou ainda que se Rio fosse primeiro-ministro o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, não teria condições para continuar no cargo.

O primeiro-ministro, António Costa, disse no sábado, em entrevista ao jornal Público, que “não está prevista nenhuma remodelação” do Governo, e defendeu o trabalho dos seus ministros e a estabilidade governativa. Costa afirmou que “não está prevista nenhuma remodelação” do seu Governo “no horizonte”.

António Costa defendeu também que a política requer “muita persistência”, dando como exemplo que na segunda-feira vai assinalar o arranque da extensão do metro ligeiro a Loures, uma das propostas que apresentou quando foi candidato à câmara daquele município, em 1993.

Nos últimos dias, alguns partidos têm defendido a demissão do ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita.

Numa outra entrevista, ao semanário Expresso, publicada na sexta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, afirmou esperar que o PS lhe “permita que acabe” a sua atividade profissional, nos próximos anos, na Faculdade de Economia do Porto

Num comentário a estas declarações, o primeiro-ministro considerou que Santos Silva ainda tem “uns cinco anos” e que “mesmo o mais frio racionalista tem sempre um momento de ingenuidade quando fala com os jornalistas”.

Bloco de Esquerda diz que país não está na “silly season”

A coordenadora do BE considerou ainda um “não assunto” as dúvidas acerca do isolamento profiláticoa que o primeiro-ministro António Costa foi sujeito e defendeu que o país não está na “silly season”.

“A saúde pública não ter gente suficiente preocupa-me muito mais. Se vamos falar de responsabilidade política vamos falar de temas sérios. (…) Eu julgo que quem está em casa ver este tipo de debate ficará confuso. Se nós estamos realmente num momento complicado do país ou se estamos em plena na ‘silly season’. Não estamos”, afirmou, em declarações aos jornalistas.

Para a líder do BE, há debates que abrem os telejornais cuja pertinência não percebe, sobretudo quando a responsabilidade política dos responsáveis é a de garantir que há equipas de saúde pública que fazer rastreios atempados, que as indicações são compreendidas pela população e que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem “a força que deve ter”.

O resto, muito sinceramente, parece-me uma absoluta irresponsabilidade e uma inutilidade”, observou.

Sublinhando que toda a gente deve respeitar as indicações das autoridades de saúde, independentemente do cargo que ocupa, Catarina Martins mostrou-se mais preocupada com a falta de recursos humanos para fazer face à pandemia de Covid-19, cujo reforço tem vindo a defender.

A mim não me levantou dúvida nenhuma e acho que é um não assunto. Acho que o assunto é saber como é que a responsabilidade política está a responder à pandemia. A saúde publica tem gente suficiente? Não tem”, disse.

O presidente do PSD considerou na segunda-feira que as autoridades de saúde devem clarificar as regras relativas à Covid-19, sublinhando que ninguém compreendeu porque é que o primeiro-ministro teve de ficar em isolamento profilático embora tenha a vacinação completa.

O primeiro-ministro, António Costa, retomou na segunda-feira a atividade presencial e a agenda pública após ter realizado um novo teste PCR determinado pelas autoridades de saúde, com resultado negativo, anunciou o seu gabinete.

“Após a realização de novo teste PCR determinado pelas autoridades de saúde e tendo o resultado do mesmo sido, novamente, negativo, as autoridades de saúde autorizaram o retomar da atividade presencial do primeiro-ministro e, como tal, da sua agenda pública”, refere uma nota do gabinete de António Costa.

O primeiro-ministro esteve desde quarta-feira passada a cumprir um período de confinamento profilático determinado pelas autoridades de saúde após ter estado em contacto com um membro do gabinete que testou positivo à Covid-19. António Costa não teve sintomas e manteve a atividade à distância.

Na altura, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, questionou o isolamento profilático que o primeiro-ministro tem de cumprir, dado que António Costa já recebeu a vacina contra a Covid-19. O chefe de Estado considerou que as autoridades de saúde deveriam esclarecer a situação aos portugueses.

Ao jornal Expresso, a DGS disse tratar-se do “princípio da precaução em Saúde Pública”. “No atual momento epidemiológico, de acordo com a Norma 015/2020 e 019/2020 da Direção-Geral da Saúde, as pessoas vacinadas são abordadas, no que diz respeito ao isolamento e testagem, respetivamente, da mesma forma que as pessoas não vacinadas”, indicou a direção-geral em resposta àquele semanário.

A autoridade de saúde nacional admite, no entanto, alterar a norma e pondera até fazê-lo: “Esta matéria encontra-se presentemente em discussão e poderá ser atualizada com base na evolução da evidência científica e se a situação epidemiológica assim o suportar”.

Já na segunda-feira , o primeiro-ministro explicou que seguiu orientações da Direção-Geral da Saúde (DGS) e ressalvou que estar vacinado não garante uma proteção em 100%.

Se me está a perguntar se eu fiquei feliz por ficar mais 10 dias confinado? Claro que não fiquei feliz. Se percebo? Percebo qual é o racional. As vacinas garantem uma proteção, mas não garantem uma proteção a 100%. Ou seja, há uma pequena percentagem de pessoas que a vacina não protege”, explicou.

Por esse motivo, sublinhou António Costa, “as autoridades têm de garantir” esse afastamento preventivo.