As discordâncias entre Costa e Marcelo tinham ficado mais do que claras nas últimas semanas. Desta vez, o Governo seguiu pelo caminho que Marcelo Rebelo de Sousa preferia — a aposta na recuperação económica, porque como Marcelo tem dito “há mais vida além da pandemia” — e o Presidente da República mostrou-se satisfeito: as medidas esforçam-se por “tomar em consideração a realidade” e a porta para o regresso do estado de emergência mantém-se fechada.

O balanço de Marcelo foi feito aos microfones dos jornalistas, de visita a Bragança, nesta sexta-feira, um dia depois de ter sido conhecida a aposta do Governo na generalização dos testes, seja para aceder a restaurantes ou a hotéis. “As medidas pareceram-me muito equilibradas e até fazendo um grande esforço de colagem à realidade, procurando fórmulas em temas sensíveis, como a restauração”, sentenciou o Presidente.

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As novas normas merecem, portanto, a concordância de Marcelo Rebelo de Sousa, até porque “enfrentar a pandemia não aconselha divergência”, fez questão de frisar, lembrando também que “ainda ontem” acertou com António Costa que vai voltar a haver uma reunião no Infarmed, no dia 27 de julho.

Desta vez, as decisões do Governo procuram “soluções diferentes que tomam em consideração a realidade”, tentando conjugá-la com o objetivo de “salvaguardar a saúde pública”: é o que o Presidente tem pedido, e por isso aproveitou para frisar que os números de mortos, internados e internados em cuidados intensivos estão a “estabilizar”.

Com a vacinação a avançar, Marcelo, que chegou a pedir que a matriz de risco fosse alterada, entende que a economia tem de passar a ser o foco.

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É também por isso que o Presidente se concentra agora no Plano de Recuperação e Resiliência, que, como o Expresso noticia esta sexta-feira, já lhe mereceu algumas críticas à porta fechada, junto de empresários. Preocupado com o crescimento económico do país, Marcelo não escondeu as suas reservas: o PRR “foi o plano possível, nas condições possíveis”. Ou seja, foi “feito em contrarrelógio, em seis meses, quando ainda se pensava que a pandemia durava até ao fim do ano passado, com as contas correspondentes.”

Conclusão? Marcelo ouviu os “lamentos e queixumes” do setor privado e assume que este “não é o plano ideal, mas é o que temos”. “É natural que haja quem entenda que o PRR por si só devia ser uma realidade diferente. Por isso tenho dito que se deve juntar ao quadro financeiro plurianual, que não tem as limitações do PRR. Tem de se somar as duas realidades”. Seja qual for a opinião de cada um sobre o plano, o Presidente avisa: “Não há planos ideais. Temos de executar num tempo curto, se não o dinheiro perde-se”.

Virado para a economia e recusando comentar a sua relação com o primeiro-ministro — não “comenta comentadores” — ou uma eventual remodelação, Marcelo seguiu caminho.