Temos que recuar até Outubro de 2015 para encontrar um mês com tantos novos desempregados inscritos nos centros do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) como aqueles que verificámos em Abril de 2020: foram 65.542 as pessoas que, neste mês, meteram os papéis nos centros de emprego.

A crise provocada pela pandemia ocorreu numa altura em que o desemprego registava a sua fase mais baixa do ciclo económico. Com a economia a crescer todos os anos desde 2014, o desemprego registava uma queda constante e sustentada desde esse período – embora nalguns meses ocorressem alguns aumentos decorrentes de fatores sazonais e pontuais.

Para se ter uma ideia da amplitude registada ao longo de todo o ciclo económico, o ponto mais alto do total de inscritos no (IEFP) tinha ocorrido em Janeiro de 2013, com um total de 740.062 pessoas. Em Fevereiro de 2020, o mês imediatamente anterior às primeiras medidas de confinamento, esse número tinha caído para 315.562, menos de metade.

Mas a reação do desemprego a esta crise foi atípica, porque esta crise económica é também atípica.

Primeiro porque foi criada por fatores exteriores ao funcionamento da economia, não tendo resultado de desequilíbrios económicos ou financeiros importantes. E depois porque as medidas de apoio e mitigação dos seus efeitos, colocadas no terreno pelo Estado, amorteceram o impacto que uma recessão da amplitude da verificada em 2020 teria normalmente na destruição de emprego se as circunstâncias e causas fossem diferentes. Entre as medidas mais relevantes que provocaram esse efeito está o lay-off simplificado e os apoios a esta fórmula, que levaram a que muitas empresas tivessem evitado proceder a despedimentos perante encerramentos e limitações à atividade que sabiam ser temporários e ditados por medidas administrativas.

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Com a evolução da pandemia e das medidas de confinamento, o número de novos inscritos no IEFP foi caindo de forma quase constante em todos os meses depois de Outubro de 2020. Neste mês registaram-se nos centros de emprego novos 55.246 desempregados, que compara com 31.617 em Junho de 2021.

Este indicador, calculado pelo IEFP, regista as pessoas que não têm um emprego, estão imediatamente disponíveis para trabalhar e têm capacidade para o trabalho. O valor inclui pessoas que nunca trabalharam mas procuram o primeiro emprego e pessoas que já trabalharam e procuram novo emprego.

Este artigo faz parte de uma série chamada “Pandemia em Números”, onde se analisa a economia portuguesa na sequência da Covid-19. Trata-se de uma parceria entre o Observador, a Fundação Francisco Manuel dos Santos e a Pordata.