De todos os militares de Abril que já morreram, apenas António Spínola teve direto a luto nacional. Uma espécie de pró-forma, já que aconteceu na condição de antigo Presidente da República e não pelo papel que desempenhou na revolução. Com a morte de Otelo Saraiva de Carvalho, quer António Costa quer Marcelo Rebelo de Sousa estiveram de acordo em não abrir uma exceção.

De “símbolo do 25 de abril” a “perverso”. As reações à morte de Otelo Saraiva de Carvalho

A decisão do Governo, de não decretar luto nacional, foi bem recebida por Marcelo Rebelo de Sousa, avança o Expresso, citando fonte de Belém. De acordo com a mesma publicação, o Presidente da República acredita que uma decisão em sentido contrário “ia levantar perguntas sobre porquê este e não aquele, quando o tema Otelo é ainda quente”.

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E foi consciente da sensibilidade do tema que o Presidente da República emitiu uma nota de pesar prudente recordando o capitão de Abril como uma figura controversa e causadora de “profundas clivagens” na sociedade portuguesa que a história terá de avaliar.

“Um dos mais ativos capitães de abril, exerceu funções muito relevantes durante a revolução e candidatou-se à Presidência da República em 1976. Afastado do poder na sequência do 25 de novembro de 1975, viria a ser considerado, pela Justiça, envolvido nas FP25, condenado e amnistiado”, escreveu o Presidente acrescentando que “é ainda cedo para a História o apreciar com a devida distância”.

Manuel Alegre foi uma das vozes que, logo no domingo, se levantou para confessar “alguma revolta” pela falta de luto nacional, em declarações ao Diário de Notícias, considerando Otelo “o homem do 25 de Abril” e lembrando que foi o militar que desenhou o plano de operações e comandou a Revolução a partir do Posto de Comando do MFA, na Pontinha.

Ao Expresso, o presidente da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço, limitou-se a dizer que “os militares de Abril não estão na moda há muito tempo”, escusando-se a fazer mais comentários sobre a decisão de não decretar luto nacional pela morte de Otelo Saraiva de Carvalho.