Dezasseis de maio de 2021 em Camp Nou, Barcelona, Catalunha, Espanha. Sergio Busquets cruza uma bola para a direita da área, ao segundo poste, e Lionel Messi faz golo de cabeça. Eram cerca de 18h00 e estava feito o último golo do astro argentino pelo seu clube de sempre. Nesse jogo, frente ao Celta de Vigo, o Barça perdeu. Nem foi campeão, sequer. Não foi a melhor despedida, mas alguma vez o adeus de um dos melhores jogadores de sempre do seu clube de sempre podia ser boa?

Messi chegou ao Barcelona com 13 anos, no ano 2000, diretamente da Argentina e do seu clube de criança, o Newell’s Old Boys. Durante um par de épocas, ainda nas camadas jovens, as coisas não foram fáceis para um jovem ainda a sonhar — e se calhar nem em sonhos pensou tornar-se, ainda aos 34 anos, um imortal do desporto. A documentação do jogador ainda não estava em conformidade e o rapaz até se lesionou no primeiro jogo de sempre ao serviço dos blaugrana. A partir daí foi sempre a “comer” etapas, tendo pelo caminho, e depois mais tarde, jogado com estrelas como Piqué ou Fábregas.

A história de Lionel Andrés Messi Cuccittini na equipa sénior do Barcelona passa por Portugal. Foi na inauguração do Estádio do Dragão, no Porto, que La Pulga, então com o número 30, jogou 15 minutos na derrota por 2-0 com os dragões. Frank Rijkaard, técnico do Barcelona àquela data, optou por lançá-lo numa partida em que utilizou quase apenas reservas. Estava lançado no futebol profissional uma das maiores lendas da modalidade e do desporto.

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A retrospetiva da carreira de Messi no Barcelona, além de estranho, porque a maioria dos adeptos (os do Barcelona principalmente) achavam que apenas a Catalunha teria direito ao astro, é assustadora. É de uma incredulidade tremenda. Olhar para os números de Lionel, o rapaz que precisou de injeções nas pernas para crescer devido a um problema hormonal, é olhar para uma absurda demonstração de… qualidade? Talvez, mas qualidade têm muitos outros jogadores. Os números de Messi são, e já que Dali era catalão, surreais.

1, 8, 17, 16, 38, 47, 53, 73, 60, 41, 58, 41, 54, 45, 51, 31 e 38

Os números acima podiam ser do Euromilhões, mas não são. Efetivamente, deram muitos milhões a ganhar, seguramente, mas tratam-se de todos os golos que Messi marcou, por temporada, ao serviço da equipa principal do Barcelona.

Desde 2008/2009 que Messi marca mais de 30 golos por época e, entre 2009/2010 e 2018/2019 marcou mais de 40. Ao todo foram 672 golos. Em Espanha, foi oito vezes melhor marcador do campeonato, numa senda apenas interrompida por Suárez, quando o uruguaio era colega do “10” no Barcelona, e também por outro extraterrestre chamado Cristiano Ronaldo. Na maior competição de clubes do mundo, a Liga dos Campeões, foi seis vezes melhor marcador.

Ao longo da carreira na Catalunha fez ainda 305 assistências.

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Lionel Messi venceu 35 (!) títulos ao serviço do Barcelona. Teve sucesso não só a nível doméstico, como internacional, sendo um dos principais responsáveis (ver linha dos golos) pela qualidade catalã, com ou sem Guardiola, com ou sem tiki taka.

A nível doméstico foram 10 ligas espanholas, sete Taças do Rei de Espanha e oito Supertaças de Espanha. Na Europa do futebol ganhou a Champions por quatro vezes, a Supertaça Europeia por três ocasiões, tendo também um “tri” no Mundial de Clubes (realizados no Japão e nos Emirados).

Foi ainda seis vezes Bola de Ouro e também seis vezes eleito o melhor do mundo pela FIFA, além de mais dezenas e dezenas de outros prémios, sejam eles em Espanha, na Argentina, o Golden Boy de 2005 ou o Laureus em 2020.

O fim

É cliché escrevê-lo, mas é o fim de uma era. Um choque, talvez, pelo menos para os adeptos do Barcelona. Algo a aproveitar para clubes mais endinheirados (olá, PSG? olá, Manchester City e Guardiola?) ou até por clubes dos EUA, onde Messi pretende terminar a carreira.

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Messi é um dos melhores de sempre e continua a sê-lo. Esguio, rápido, certeiro, com um toque e uma corrida característica. Alguém que assusta adversários, que joga e faz jogar, que marca e dá a marcar. É um craque, uma lenda e um histórico do clube catalão e do desporto mundial. Acabou algo que parecia não ter fim.

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Eram cerca das 18h00 do dia dezasseis de maio quando Messi marcou de cabeça. Ninguém sabia mas 20 anos depois, pelo Barcelona, que se despede dele com o vídeo abaixo, foi o fim.