Depois de ter perdido a representação parlamentar com a rotura com a única deputada que conseguiu eleger a 6 de outubro de 2019, o Livre apresentou candidatos em 15 autarquias — foi coligado com Medina em Lisboa — conseguindo eleger em quatro. Longe dos planos a curto prazo do partido estava a organização para novo momento eleitoral. Agora, Marcelo Rebelo de Sousa convocou a direção do partido para ir a Belém na próxima segunda-feira e o Livre volta a entrar em campo. Direção já fez saber aos membros e apoiantes que partido quer “reconquistar o seu lugar no Parlamento”.

A travessia no deserto parecia mais longa do que poderá acontecer. Com a antecipação de legislativas o Livre tem mais uma hipótese de tentar sentar deputados na Assembleia da República, mas tem que dar ‘corda aos sapatos’ para acelerar processos internos. O Livre escolhe os candidatos através de primárias e tem obrigatoriamente que convocar um Congresso Estatutário para aprovar programa eleitoral. Tudo isto em pouco mais de dois meses, com uma época festiva pelo meio.

No partido já há uma certeza: é para avançar e apresentar candidatos em todos os círculos eleitorais. E ainda que não seja a direção do partido — o Grupo de Contacto — a escolher candidatos, esta já fez saber aos membros do partido a sua posição. Numa carta enviada ainda na quarta-feira aos membros e apoiantes do partido, a que o Observador teve acesso, a direção afirma que o Livre está “pronto para se apresentar ao escrutínio e reconquistar o seu lugar no parlamento”.

“Um dos compromissos do Livre na próxima legislatura é o de impedir os retrocessos que um regresso da direita conservadora e neoliberal ao poder traria ao país, bem como travar o avanço da extrema-direita e dos populismos”, escreve a direção do partido na missiva enviada onde considera também que ainda que o Orçamento “deixava a desejar com muitos aspetos a trabalhar e a melhorar”, mas que “toda a esquerda, sem exceção, tinha a responsabilidade de fazer melhor e de responder aos anseios dos portugueses”.

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“Num contexto em que ainda sentimos os efeitos da pandemia e da crise económica e social gerada, a última coisa que o país precisa hoje é de eleições antecipadas”, afirma o Grupo de Contacto que sem alterações de calendário terminaria o mandato em janeiro.

Congresso adiado ou antecipado? Resultado de primárias em dezembro

Há várias contas a serem feitas nos corredores do partido. Com eleições legislativas em janeiro, sendo a data provável apontada o dia 16, sobram ao Livre pouco mais de dois meses para realizar primárias, convocar um congresso estatutário e realizar um congresso ordinário. Se o Congresso ordinário, que deveria realizar-se em janeiro de 2022, pode ser totalmente alterado (sendo adiado ou antecipado), já que não são os órgãos do partido que escolhem os candidatos que se apresentarão às eleições, o mesmo não se pode dizer do processo de diretas e do congresso estatutário.

Para aprovar um programa eleitoral, o Livre terá que convocar um congresso estatutário, cuja data é proposta à Assembleia pelo Grupo de Contacto. Segundo os estatutos do partido, o Congresso terá que acontecer “durante os 120 dias anteriores às eleições”, para as diretas sobrará menos tempo.

Fontes do partido explicam ao Observador que “em dezembro” já deverá haver “caras escolhidas” em todos os círculos ou seja, dentro de pouco mais de um mês o processo de primárias do partido deverá estar terminado. Qualquer candidato que integre as listas do Livre, mesmo podendo ser ‘independente’ tem que assinar uma carta compromisso com o programa e princípios do partido.

O programa que apresentarão às eleições só deverá ser aprovado depois, no congresso estatutário. Dentro do partido olha-se agora para a agenda e, excluindo a época festiva, sobram poucos fins de semana disponíveis antes de janeiro. O segundo fim de semana de dezembro é a data mais provável apontada dentro do partido para a realização do congresso estatutário.

Com a ida a Belém na segunda-feira, o grupo de contacto deverá reunir ainda na próxima semana para alinhavar datas e apresentar à consideração da Assembleia do Livre que deverá depois validar as decisões do órgão de direção.