Cidália Figueira, a vereadora independente eleita pelo Chega para a Câmara Municipal de Moura, pôs fim à ligação com o partido e vai manter-se no cargo como independente.

Em declarações ao órgão de comunicação local Planície, Cidália Figueira justificou a decisão com “divergências políticas”, com questões que não lhe agradaram na campanha e após ter sido eleita. A vereadora afirma que chegou mesmo a falar com André Ventura e que o líder do Chega assumiu a existência de “alguns desentendimentos”. Porém, garantiu-lhe que iria haver uma “viragem” em prol da “união”.

Menos de dois meses depois das eleições, Cidália Figueira acaba por se afastar definitivamente do partido: “Embora me reveja na ideologia política do Chega, não me revejo nas atitudes que tiveram comigo.”

Bruno Nunes, da Comissão Autárquica Nacional do Chega, garante que o caso já tinha sido “sinalizado” pelos dirigentes do partido por ter havido “um voto constante ao lado do PS” em Moura. Até ao ponto de a retirada de confiança estar em cima da mesa há umas semanas pela “ligação que existe entre a eleita do Chega e o PS”.

“Percebemos que existia uma aproximação e que poderia resultar num acordo de atribuição de pelouros por parte do PS à eleita do Chega”, explica, frisando que o partido foi “sempre contra” esta possibilidade e que “não aceita qualquer tipo de coligações em troca de lugares, financiamentos ou avenças”.

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O dirigente do Chega e vereador em Loures afirma que o partido vai analisar o processo, partindo do princípio de que, “alegadamente, existem alguns favorecimentos pessoais“. O Chega está disposto a agir a nível político e judicial: “Em último caso, se considerarmos que possa ter havido um alegado favorecimento pessoal, não teremos problema em entregar o caso ao Ministério Público para perceber se houve apenas uma decisão política ou se houve mais do que isso.”

Todavia, Bruno Nunes acredita que não está em causa o trabalho em Moura e garante que “não haverá um revés na política do município”, nomeadamente devido aos seis deputados — inclusive o de André Ventura — na Assembleia Municipal de Moura que continuam a ter o “direito de fiscalização” do trabalho do executivo.

“O Chega não terá problema nenhum de perder seja quantos eleitos forem que entreguem os seus valores ou os princípios do partido a outro partido político, neste caso ao PS”, assume o coordenador autárquico.

Na Câmara Municipal de Moura o PS elegeu três vereadores, tal como a CDU, e o Chega conseguiu o primeiro eleito para a autarquia, o que permitiria uma solução governativa aos socialistas.

Este não é o primeiro imprevisto do Chega no pós-autárquicas. O partido já votou a favor de duas listas da CDU para as Assembleias de Freguesia de Amora e de Corroios, o que permitiu aos comunistas liderarem aquele órgão autárquico nas duas freguesias do município do Seixal e viabilizou a presidência da CDU na Assembleia Municipal, que poderia ter evitado.

Já nos Açores, no rescaldo das eleições regionais, o partido perdeu um dos lugares que tinha no Parlamento dos Açores por questões internas — Carlos Furtado, que era líder do partido na região, não abdicou do lugar apesar de se ter tornado independente.

Este é um dos maiores desafios assumidos pelo líder do Chega, que quer evitar que volte a haver erros de casting e vai ser o próprio a ter a palavra final na escolha das listas dos candidatos às legislativas.