“Não gerimos a empresa com base em dinâmicas ou valores de ações” e o que mostram os resultados é que houve um crescimento de “cerca de 28% [nas vendas brutas] relativamente ao mesmo período homólogo”, segundo os resultados do terceiro trimestre de 2021 divulgados pela Farfetch. As frases são de Luís Teixeira, o chefe de operações da empresa que foi o primeiro unicórnio (empresa avaliada em mais mil milhões de dólares) com ADN português. Quanto à queda do valor das ações após os resultados (no after-market desceram 20% e abriram esta sexta-feira a cair 15%), assume: “A realidade é que os analistas esperavam que tivéssemos crescido um pouco mais”.

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Os mercados andam bastante sensíveis àquilo que são flutuações“, referiu o responsável da empresa em conversa com o Observador esta sexta-feira de manhã que vê, por seu lado, os resultados como sendo “fortes e bons”.

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Na quinta-feira à noite, a Farfetch apresentou um EBITDA [lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] ajustado de cerca de cinco milhões de dólares positivos. “É a linha [o EBITDA] pela qual gerimos o nosso negócio”, diz Luís Teixeira. De acordo com os dados revelados pela empresa, e usando os seus indicadores, estes simbolizam um crescimento de 15 milhões de dólares quando comparado com o período homólogo, em que foram negativos.

Olhando a dois anos [atrás], crescemos 100%. Conseguimos ter um EBITDA positivo”, defende Luís Teixeira.

Mesmo assim, ainda há indicadores que mostram espaço para melhoria. Quanto aos resultados operacionais negativos (que incluem as amortizações) — que se situam acima dos 100 milhões de dólares com sinal menos –, o líder de operações da empresa refere que estes valores “também estão a cair”, o que “é bom”, garante.

Já quanto aos eventuais desafios que pode encontrar no futuro, nomeadamente por causa da crise global de abastecimento, a perspetiva do diretor de operações é que, pelo menos nos tempos mais próximos, a Farfetch vai ter capacidade de continuar a servir os seus clientes. “Temos 40% mais stock do que tínhamos no período homólogo do ano passado”. Não obstante, o responsável assume que estão a olhar para novas formas de “abrir o leque” de transportadoras e “melhorar os processos de gestão de upstream supply chain“(relação entre fornecedores de matérias-primas e fornecedores), para evitar falhas.

Relativamente à aposta no mercado chinês,  que tem sido assumida abertamente pela empresa, Luís Teixeira frisa: “O que sabemos é que o mercado chinês, e é o que dizem todas as consultoras, tem todo o potencial para no futuro ser o principal mercado da indústria da moda de luxo”. Por isso, e apesar de os EUA continuarem a ser o principal mercado, salienta que o “singles day“, um dia dedicado a compras na China, “foi um sucesso”.

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Luís Teixeira falou também das conversações que a Farfetch tem tido com a suíça Richemont, um grupo que detém algumas das principais marcas de luxo. Porém, quanto a isso “não há mais novidades”. Como já foi avançado, a “parceria” pode passar “por várias opções”, como a “utilização dos serviços da Farfetch Platform Solutions para as marcas da Richemont e também da Yoox Net-a-Porter Group” (uma concorrente da empresa com ADN português). Porém, a Farfetch é também “uma plataforma para indústria do mundo de luxo” mas vê-se igualmente como “fornecedora de software”, pelo que a eventual parceria poderá passar por um modelo mais parecido como “o que a IBM tem para facilitar o comércio eletrónico”, adianta.

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Atualmente, a Farfetch emprega cerca de seis mil pessoas em todo o mundo no total de 13 escritórios. Cerca de metade estão em Portugal. A empresa foi fundada em 2008 por José Neves, que é o seu presidente executivo e preside também ao seu conselho de administração.