A líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, defendeu esta segunda-feira que Portugal deve ter “mais capacidade na ferrovia”, incluindo “capacidade de construção” e destacou o papel do partido no impulso que foi dado ao setor. “Há dois anos estar aqui era uma dor de alma, o que víamos mais eram áreas fechadas, sem trabalho, e hoje não. Vemos que está aqui a ser feito muito trabalho, de recuperação, até de inovação em muitos setores que permite hoje a Portugal ter muito mais capacidade e isso é muito bom”, afirmou Catarina Martins, numa visita às instalações oficinais da CP em Guifões, no concelho Matosinhos.

A líder do partido considera, no entanto, que “se é possível fazer até aqui”, pode-se também fazer o “resto”, que passa por ter “capacidade de construção em Portugal, e não apenas de reparação”, mas também “mais capacidade na ferrovia”.

“Há uns anos diziam-nos que não havia nada a fazer senão desistir de qualquer capacidade ferroviária. A EMEF ia ser privatizada, a CP Carga foi privatizada. Foi feito outro caminho, é possível. Quando fazemos este caminho, a nossa economia fica mais forte, combatemos o endividamento do país, estamos a fazer um caminho de transição energética, muito importante para as alterações climáticas. Respeitemos também quem trabalha e façamos o resto do caminho, para não repararmos só mas também construir. Tem de ser o horizonte para o país”, vincou.

Para a bloquista, “o impulso” para o investimento que tem vindo a ser feito no setor “foi dado por uma maioria que houve, também, à esquerda”.

“Em 2015, quando foi feito um acordo de maioria, o primeiro projeto que o BE apresentou na Assembleia da República foi precisamente para que existisse um Plano Ferroviário Nacional. Ainda estamos muito longe de todo esse investimento que é preciso, ainda há tantos sítios neste país que não têm comboio, há capitais de distrito sem comboio, tanta gente a quem foi retirado o comboio”, detalhou.

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Catarina Martins prosseguiu referindo que a percentagem de mercadorias transportada por comboio é ainda muito baixa.

Isso “quer dizer que temos tanto camião nas estradas, tanta poluição, há tanto por fazer. Mas fez-se caminho, e onde nos diziam que iam fechar, foi aberto, isso é importante. Falta é fazer o resto”, reiterou.

Questionada sobre as novas medidas de combate à pandemia de Covid-19 que podem vir a ser tomadas, a coordenadora do BE disse apenas que “tudo isso está a ser discutido por especialistas”.

A dirigente voltou a defender “o reforço dos meios do Serviço Nacional de Saúde, nomeadamente a atenção aos cuidados primários de saúde, aos médicos de família, os enfermeiros de família, que asseguram também o processo de vacinação”.

“É muito pouca gente com muito trabalho, muito poucas condições, e como nós precisamos que a terceira dose seja tão bem sucedida como as anteriores, como nós precisamos que os cuidados de saúde sejam sobre a Covid mas também sobre tudo o resto, é fundamental neste momento reforçar a capacidade do SNS e tratar bem os seus profissionais, também contratando mais profissionais”, disse.

Catarina Martins defende “salários dignos” para trabalhadores da EMEF integrados na CP

A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, defendeu esta segunda-feira que devem ser respeitados os direitos dos trabalhadores da extinta EMEF que foram integrados pela CP, exigindo “salários dignos” para “funções altamente especializadas”.

“A EMEF foi extinta, agora é tudo CP, há trabalhadores que estão mais ou menos num limbo, e estamos a falar de salários que são pagos a trabalhadores especializados que são muito baixos. Entram aqui para ter funções altamente especializadas e com formação, com salários que ficam pouco acima do salário mínimo nacional, e com uma progressão de carreira que os faz ir até ao salário mínimo espanhol”, afirmou esta segunda-feira Catarina Martins, numa visita numa visita às instalações oficinais da CP em Guifões, no concelho Matosinhos.

Para a líder bloquista, Portugal precisa de respeitar quem trabalha, de perceber que esta economia especializada, que cria valor, que diminui o endividamento do país e que responde, até, à crise climática”.

“Esta é a economia de que precisamos, com salários dignos, e é o caminho que temos de fazer. É por isso que aqui estamos”, prosseguiu.

Em declarações aos jornalistas, Rúben Silva, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores do Metro e Ferroviários, adiantou que, desde janeiro de 2020, altura em que a EMEF foi extinta, os trabalhadores “que foram integrados [na CP] viram cortado o subsídio de transporte e não viram a atualização salarial para as tabelas CP”.

“Têm um Regulamento de Carreira e Acordo de Empresa EMEF, que já não existe. Não foram transitados para a CP. E, desde 2020, são trabalhadores numa situação precária, porque têm baixos salários. Até hoje o Governo e a administração não têm conseguido integrar definitivamente na CP”, detalhou.

O dirigente sindical referiu ainda que se trata de “mão-de-obra barata” e que “a empresa infelizmente, embora esteja a formar permanentemente trabalhadores, perde trabalhadores com muita facilidade”, porque “a concorrência a nível de manutenção é muito grande”.

Uma das principais preocupações do sindicato é que “estes trabalhadores sejam definitivamente integrados na CP, tenham os direitos dos trabalhadores CP e deixem de viver neste clima de precariedade”.

“Não sabemos, com as eleições, numa mudança de política ferroviária, se este departamento de manutenção não será até vendido, porque é uma mão-de-obra extremamente barata”, apontou.

Por isso, pedem “estabilidade na carreira” e querem “ver o seu futuro na CP refletido e reconhecido por parte da administração e do Governo”.

“Existe um investimento claro nos comboios e na ferrovia portuguesa, é inegável. Era necessário, mas também é necessário olharmos pelos trabalhadores da manutenção e integrá-los finalmente, para o grupo CP possa progredir e ser um grupo coeso, e não seja suscetível a mudanças políticas que possam alterar este panorama, e garantirmos o serviço público de ferrovia, de qualidade, a baixo custo, e que permita ao nosso país progredir, até em questão das metas climáticas possamos atingi-las. A ferrovia sem dúvida será o caminho”, defendeu Rúben Silva.