O dia é de preparação do debate desta noite, com todos os candidatos, e António Costa vai dedicar a tarde a isso mesmo, mas de manhã esteve a ensaiar argumentos, num encontro em Lisboa organizado pelas Mulheres Socialistas-Igualdade e Direitos. O mais forte dos quais continua a ser o da radicalização do PSD que António Costa continua a fazer de tudo para colar ao Chega, aproveitando o palco em que se debateram “valores que não são relativizáveis”.

Direitos das mulheres, violência doméstica, racismo, direitos LGBTI, minorias. Tudo esteve em debate na sessão onde Costa falou para alertar para “o maior perigo” que representam os “movimentos de extrema-direita” que é “quando conseguem condicionar os partidos tradicionais, os chamados partidos do sistema”. Quando esses partidos “começam a mitigar e a normalizar as propostas com uma raiz profundamente não igualitária e de desrespeito da dignidade da pessoa humana, então começa-se a abrir uma brecha que não se sabe se irá desenvolver”.

Campanhas para as eleições legislativas de 2022: Ação de campanha de António Costa, candidato pelo PS a primeiro-ministro. Participa no Encontro Continuar a Avançar em Igualdade, promovido pelas Mulheres Socialistas-Igualdade e Direitos. Lisboa, 17 de janeiro de 2022. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

E é aqui que entra o PSD de Rui Rio. Costa recuou ao frente-a-frente entre o social-democrata e André Ventura para referir a pena de morte e dizer que “quando se começa a achar que a prisão perpétua pode não ser bem uma prisão perpétua, é o primeiro passo para começar a achar que o racismo não é bem racismo, que a xenofobia não é bem xenofobia e que o reconhecimento da desigualdade de género não é bem o reconhecimento da desigualdade de género”. Para o socialista, estes valores “não são negociáveis” nem “relativizáveis”.

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Neste capítulo, o PS reclama várias lutas e uma dela foi a aprovação da lei da paridade, em 2006, que Costa sublinha ter sido primeiro aplicada na atividade política e como isso introduziu uma “mudança radical” e uma “maior feminização da atividade política”. O PS continua a ser um dos poucos partidos que ainda não teve uma mulher na liderança (PSD, BE, CDS, PAN tiveram ou têm), mas Costa apontou para outros lados, nomeadamente para o seu Governo.

[Ouça aqui a reportagem da Rádio Observador]

Costa insiste que “mitigação” de Rio é “perigosa”

“Eu não compus o Governo para que fosse diverso. Mas garantindo que a diversidade não era um fator de exclusão”, anotou. E depois foi por aí fora: “Pela primeira vez na História, tivemos uma ministra negra. Pelo menos uma pessoa de etnia cigana e pelo menos uma pessoa invisual. E pela primeira vez, pessoas que integram o universo LGBTI”.

Disse ainda que tudo isto foi feito sem gerar surpresa na sociedade e que isso “significa que a cultura de exclusão que alguns querem alimentar já não tem efetivamente adesão na sociedade portuguesa”. Uma posição que é, nesta fase, ao mesmo tempo um desejo que a votação na extrema-direita não venha a refletir outra coisa na noite eleitoral.

E os “candidatos com ar moderno que aparecem na TV”

Mas nem só essa direita esteve debaixo do fogo socialista nesta manhã. António Costa também falou de outros direitos, sociais. O direito à reforma é, por exemplo, uma referência frequente nos últimos dias, e em particular um argumento contra um sistema misto nas pensões, com Costa a sublinhar que parte das contribuições são “confiadas ao mercado fazendo perigar a solidez do contrato intrageracional” que é o modelo social defendido pelo PS. A confiança nessa “entidade intemporal que é o Estado e que está para lá das vicissitudes do mercado” é o contraponto de Costa a outra direita, que acusa Rio de também se encostar, representada pela Iniciativa Liberal.

Campanhas para as eleições legislativas de 2022: Ação de campanha de António Costa, candidato pelo PS a primeiro-ministro. Participa no Encontro Continuar a Avançar em Igualdade, promovido pelas Mulheres Socialistas-Igualdade e Direitos. Lisboa, 17 de janeiro de 2022. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Se, para o líder do CDS, esta é a “prima moderninha”, Costa concorda que, sim,  “há candidatos que aparecem na TV com um ar muito moderno” — sem deixar dúvidas sobre a referência à IL — e que o que propõem, assegura, “é um enorme risco para as gerações futuras”.

Depois do debate desta segunda-feira, o penúltimo desta campanha, António Costa faz as malas para seguir para a Madeira.