A procura por livros que possam ser adaptados à televisão cresceu exponencialmente nos últimos anos devido à aposta das plataformas de streaming na produção de conteúdos próprios. De acordo com a The Bookseller, que ouviu vários agentes literários, os direitos são muitas vezes adquiridos ao mesmo tempo por editoras e plataformas, com as empresas a mostrarem-se cada vez mais dispostas a apostarem em rascunhos iniciais.

Luke Speed, responsável pela aquisição de direitos de adaptação para cinema na agência britânica Curtis Brown, estimou que cerca de 60% dos grandes projetos televisivos atuais sejam baseados em obras literárias. “Não consigo ver a procura a diminuir, mas a crescer. Temos dificuldades em responder à procura. Chegam tantos pedidos que é difícil oferecer a todos aquilo que procuram”, disse à The Bookseller.

Harriet Egleton, da Daniel Schlingmann, adiantou que muitas vezes as empresas não se importam de receber livros ainda por concluir, explicando que a aquisição de direitos costumava ser impulsionada pela popularidade da obra, o que já não se verifica. “Agora vemos os direitos dos livros a serem leiloados no Reino Unido e Estados Unidos da América ao mesmo tempo que são submetidos para cinema e televisão”, afirmou.

De acordo com a agente, as plataformas de streaming “estão dispostas a arriscar para terem acesso a material muito inicial”, abordando cada vez mais as agências nesse sentido. A competitividade é tal que um livro publicado começa a ser considerado ultrapassado. “O mercado está a mover-se muito depressa”, considerou Elizabeth Kilgarriff, da Firebird pictures, ouvida pela mesma revista. “A competitividade está a levar as pessoas a procurarem por coisas mais cedo.”

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Jordon Moblo, diretor do departamento da Netflix responsável por encontrar livros que possam ser adaptados, explicou à The Bookseller que “tem havido tantas adaptações de sucesso recentemente e com o sucesso dessas adaptações vem a procura por mais”. “Adicionalmente, existem muito mais compradores no mercado do que há cinco, dez anos, e com o surgimento das plataformas de streaming, houve um aumento na procura por conteúdo original.”

Isso levou produtores e estúdios a investirem “mais recursos na identificação e aquisição de propriedade intelectual, incluindo na contratação de olheiros literários e executivos internos que se especializam no mercado da adaptação, o que por sua vez gerou acesso maior a livros e propriedade intelectual que antes não existia”. Por outro lado, a adaptação de um livro pode representar “um caminho de desenvolvimento mais fácil”, uma vez que parte do trabalho já foi feito pelo autor.

Outra vantagem prende-se com a audiência. “Muitos livros já têm a sua própria audiência, e uma adaptação garante quase sempre que uma percentagem dessa audiência irá assistir à adaptação.” Falando especificamente do caso da Netflix, “uma empresa relativamente recente” em comparação com gigantes da indústria, como a Disney ou a Warner Bros, Jordon Moblo disse que a plataforma tem intenção de continuar a adquirir obras de “autores notáveis”, que serão acrescentados aos conteúdos já disponíveis, de modo a construir uma “biblioteca” de valor que será apreciada por espectadores durante anos.