A Rússia e os Estados Unidos confrontaram-se esta segunda-feira no Conselho de Segurança a propósito das tropas russas concentradas na fronteira com a Ucrânia, enquanto os países ocidentais intensificam esforços diplomáticos para evitar a eclosão de um conflito militar.

Esta reunião do Conselho de Segurança, com início previsto para as 16h00 TMG (e de Lisboa), realiza-se a pedido dos Estados Unidos, apesar da forte oposição da Rússia, outro dos cinco membros permanentes do órgão das Nações Unidas.

Um pouco antes do início, o embaixador da Rússia nas Nações Unidas, Vassily Nebenzia, acusou Washington de tentar “criar histeria” e “enganar a comunidade internacional” com “acusações infundadas” para convocar a primeira reunião do Conselho de Segurança sobre a crise na Ucrânia.

A sua homóloga norte-americana, Linda Thomas-Greenfield, respondeu-lhe que o destacamento de mais de 100.000 militares russos em torno da Ucrânia ameaça “a segurança internacional” e justifica um debate público na ONU.

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A embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas também acusou Moscovo de querer enviar – com provas a fundamentar tal acusação – ainda mais 30.000 militares para a Bielorrússia, cujo regime é muito próximo do Kremlin.

Rosemary DiCarlo, secretária-geral adjunta da ONU para as Questões Políticas reagiu de imediato, afirmando não haver “qualquer alternativa à diplomacia” nesta crise.

“Não deve haver intervenção militar”, acrescentou.

Por sua vez, o Presidente Biden recebeu esta segunda-feira um aliado, o emir do Qatar, o xeque Tamim ben Hamad al-Thani, com quem debaterá a segurança em matéria de gás na Europa e meios para “garantir a estabilidade da oferta internacional de energia”, segundo a Casa Branca.

Decorrerá na terça-feira uma conversa telefónica entre o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, e o seu homólogo norte-americano, Antony Blinken, anunciou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova.

Perante a ameaça de uma invasão, Kiev apelou no domingo à Rússia para retirar as suas tropas concentradas ao longo da fronteira entre os dois países e prosseguir o diálogo com o Ocidente, se quiser “seriamente” um desanuviamento da tensão.

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Os Estados Unidos e o Reino Unido brandiram no domingo a ameaça de novas sanções contra a Rússia.

Londres indicou querer visar alvos russos “que interessam diretamente ao Kremlin”. Moscovo respondeu esta segunda-feira acusando as autoridades britânicas de assim prepararem um “ataque” contra as empresas russas.

“Trata-se de um ataque ostensivo contra os negócios” russos, comentou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, prometendo uma “retaliação” se necessário.

Em Washington, um representante democrata e outro republicano afirmaram que o Congresso está perto de um acordo sobre um projeto de lei que prevê a imposição de novas sanções económicas à Rússia.

Entre o arsenal de sanções referidas, tanto o Reino Unido como os Estados Unidos pretendem atingir o gasoduto estratégico Nord Stream 2, entre a Rússia e a Alemanha, ou o acesso dos russos a transações em dólares, moeda que domina o comércio internacional.

Confrontado com a perspetiva de sanções, Lavrov indicou que o seu país quer “boas relações, justas, mutuamente respeitosas com os Estados Unidos, como com qualquer outro país do mundo”.

A Rússia “não quer ficar numa posição em que a [sua] segurança seja regularmente violada”, prosseguiu o MNE russo.

Moscovo é acusada desde o final de 2021 de ter concentrado mais de 100.000 soldados na fronteira com a Ucrânia com vista a uma ofensiva militar de grande envergadura àquele país.

A Rússia nega qualquer plano nesse sentido, exigindo em simultâneo garantias escritas sobre a sua segurança, entre as quais a recusa de adesão da Ucrânia à NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte) e o fim do reforço militar da Aliança Atlântica ao leste da Europa.

Tal exigência foi rejeitada pelos Estados Unidos esta semana, numa resposta escrita a Moscovo. O Kremlin indicou que está a refletir sobre a sua reação.

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Vários países ocidentais anunciaram nos últimos dias o envio de novos contingentes para a Europa de Leste.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, vai propor esta semana na NATO um destacamento de tropas para responder à escalada da “hostilidade russa” em relação à Ucrânia.

Um anúncio apreciado pelo secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, que saudaram ambos a “liderança” britânica.

A ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock, o seu homólogo francês, Jean-Yves Le Drian, e o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, são esperados esta semana em Kiev.

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A ministra da Defesa canadiana, Anita Anand, cujo país está a fornecer assistência militar à Ucrânia, chegou à capital ucraniana no domingo para uma visita de dois dias. A responsável anunciou o envio de tropas canadianas para o oeste da Ucrânia e o repatriamento temporário de todos os funcionários não-essenciais da sua embaixada em Kiev.