Uma multidão apedrejou um homem até à morte por ele alegadamente queimar páginas do Alcorão em Tulamba, na província de Punjab (Paquistão), no sábado à noite. A polícia encontrou o homem, com a idade a rondar os 50 anos, inconsciente e amarrado numa árvore.

Os aldeões armados com bastões, machados e barras de ferro mataram [o homem] e enforcaram o corpo numa árvore”, descreveu o polícia Munawar Hussain à agência de notícias Reuters.

O linchamento será “tratado com toda a severidade da lei”, garantiu o primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, reforçando que o governo tem “tolerância zero para qualquer um que faça justiça com as próprias mãos”, no Twitter. Na mesma publicação, exigiu um relatório sobre a atitude das autoridades que “falharam no dever [de proteção]”

A ministra dos Direitos Humanos do Paquistão, Shireen Mazari, condenou igualmente a inércia policial, no Twitter. “Leis existem – a polícia deve impor essas leis e não permitir que as multidões governem o dia”, lê-se na publicação.

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Já o representante do primeiro-ministro, Tahir Ashrafi, questionou: “Quem consegue justificar o ato bárbaro de apedrejar até a morte um doente mental?”, numa entrevista citada pela AlJazeera. Mencionou ainda que a saúde mental da vítima “não estava boa nos últimos 10 a 15 anos”, de acordo com a própria família, e distanciou-se dos comportamentos da multidão furiosa: “Esta não é a religião do meu profeta, matar pessoas sob a própria interpretação de religião”, acrescentou.

O corpo do homem foi, mais tarde, entregue à família e o funeral foi realizado este domingo. Mais de 80 pessoas foram presas por ligações ao mais recente caso de violência relacionado com blasfémia no país, e estão a ser realizadas investigações para identificar mais culpados.

Este assassinato ocorre cerca de dois meses após um gerente de uma fábrica do Sri Lanka ser espancado até a morte e queimado por uma multidão por blasfémia na cidade de Sialkot, também na província de Punjab.

As acusações de blasfémia no Paquistão podem levar à pena de morte. Alguns grupos de direitos humanos ressalvam, contudo, que podem ser usadas para resolver conflitos pessoais, sendo as minorias o principal alvo.