A invasão da Ucrânia pela Rússia tinha começado há poucos dias quando começaram a surgir vídeos nas redes sociais de um caça, alegadamente ucraniano, a abater vários aviões russos. Não tardou a que este ‘Top Gun’ misterioso ganhasse uma alcunha: o ‘Fantasma de Kiev’.

Este mito ganhou força com informações das tropas ucranianas, no primeiro dia do conflito, que davam conta de que tinham sido abatidos cinco aviões e um helicóptero russo na região de Lugansk.

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As próprias Forças Armadas da Ucrânia falaram desse caça misterioso nas suas redes sociais. “Dezenas de pilotos experientes, do capitão ao general que estava na reserva, voltaram para a Força Aérea. Quem sabe, talvez um deles seja o vingador aéreo no MiG-29, que tem sido avistado pelos habitantes de Kiev.”, lê-se numa publicação no Twitter, que data de dia 25 de fevereiro — um dia após o início do conflito.

Minutos depois, partilharam um vídeo onde é possível ver um caça a abater outro avião. “O que faz este ás ucraniano? MiG-29 da Força Aérea das Forças Armadas da Ucrânia destrói Su-35 dos russos”, descreviam os militares ucranianos.

Estes aviões, contudo, não são reais. O vídeo foi criado em homenagem ao Fantasma de Kiev, mas as imagens foram retiradas da Digital Combat Simulator World (DCS), um jogo online gratuito que simula combates aéreos: “Estas filmagens são da DCS, mas ainda assim são feitas por respeito ao ‘Fantasma de Kiev’. Se ele é real, que Deus esteja com ele; se não for, rezo para que haja mais como ‘ele’.”, lê-se na descrição do vídeo publicado no YouTube.

A informação foi também confirmada pela própria DCS à agência de notícias Reuters, que ressalvou nada ter a ver com o vídeo em causa.

Esta não é, contudo, a única imagem associada ao ‘Fantasma do Kiev’ que, mais tarde, se veio a comprovar que era falsa ou que podia ser atribuída a outras situações. Por exemplo, o antigo presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, publicou no Twitter uma imagem de um piloto sentado num caça e que diz tratar-se do ‘Fantasma de Kiev’.

Mas essa fotografia, explica o Deutsche Welle, foi publicada em 2019 pelas Forças Armadas ucranianas na sua página de Twitter.

Mas apurar se este Fantasma de Kiev é ou real acabou por tornar-se um objetivo secundário para os ucranianos que tentam resistir à ofensiva russa e para os civis que acompanham o evoluir do conflito — até porque o “mito” poderá ter servido para aumentar o moral de quem está a viver de perto a realidade da guerra.

Vários especialistas, consultados pelo jornal norte-americano The New York Times, consideram que a partilha de histórias que enalteçam a valentia dos ucranianos e a violência dos russos faz parte de uma estratégia da Ucrânia, não só para estimular a moral das tropas ucranianas mas, também, para criar empatia no resto do mundo para a sua causa. Mesmo que, mais tarde, venha a comprovar-se que algumas das histórias eram falsas.

Pode ser o caso deste ‘Fantasma de Kiev’, mas também dos guardas ucranianos do Mar Negro que foram dados como mortos, depois de terem enfrentado as tropas russas.

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