Têm chovido críticas à posição do PCP sobre a guerra na Ucrânia, e este domingo, o secretário-geral do partido quis deixar tudo em pratos limpos: “O PCP não apoia a guerra e isso é uma vergonhosa calúnia”.

Perante um Campo Pequeno que, segundo a SIC, estava lotado, com mais de 7.000 lugares ocupados, Jerónimo de Sousa demarcou-se do Presidente russo Vladimir Putin. “O PCP tem um património inigualável na luta pela paz, não tem nada a ver com o governo russo e o seu Presidente (…). A opção de classe do PCP é oposta à das forças políticas que governam a Rússia capitalista e dos seus grupos económicos”, disse o secretário-geral do PCP, no comício que assinalou os 101 anos do partido.

Quando na audiência se ouviam gritos e palavras de ordem (“Paz sim, guerra não!”), Jerónimo de Sousa lamentou a “campanha anticomunista”, “assente em grosseiras falsificações”. “Não caricaturem a posição do PCP, que, sem equívocos e ao contrário de outros, condena todo um caminho de ingerência, violência, confrontação”, afirmou.

O apoio à paz e a rejeição de qualquer conflito militar estiveram no centro do discurso, ainda que o secretário-geral do Partido Comunista tenha tropeçado nas palavras: “O PCP não condena… perdão, o PCP não apoia e condena a violação dos princípios do direito internacional, da carta da ONU e da ata final da conferência de Helsínquia, princípios que o PCP sempre defendeu e que continua a defender até hoje”.

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Apesar de se ter afastado do Kremlin, Jerónimo de Sousa deixou críticas ao governo ucraniano em linha com as que Moscovo tem usado para justificar a invasão da Ucrânia. “O golpe de estado de 2014 promovido pelos Estados Unidos na Ucrânia instalou um poder xenófobo e belicista”, afirmou. Nesse sentido, o líder do PCP sublinha que “a mobilização e ação pela paz” e o apelo “à solidariedade e ajuda humanitárias às populações”, iniciativas que o partido apoia, “não se podem confundir com o apoio a grupos fascistas ou neonazis”.

Posto isto, Jerónimo de Sousa avançou para a identificação do grande culpado pela guerra, que não considera ser, pelo menos em primeiro lugar, a Rússia, o país que invadiu militarmente a Ucrânia e tem sido, por isso, alvo de sanções de todo o mundo.

Criticando o “contínuo alargamento da NATO para o leste da Europa” e a instalação “de cada vez mais forças e meios militares junto às fronteiras da Rússia”, o secretário-geral do PCP lançou a questão e deu a resposta: “A quem serve a guerra? Não serve a ucranianos nem russos, nem tão-pouco aos restantes povos europeus, serve, sim, à administração norte-americana e ao seu complexo militar industrial, para desviar atenção dos problemas internos, para vender armas em larga escala, para se aproveitar económica e militarmente de uma guerra a milhares de quilómetros das suas fronteiras.”

Antes de seguir para temas nacionais, Jerónimo de Sousa deixou ainda um apelo à dissolução da NATO e desarmamento do mundo, reivindicações antigas a que juntou também um pedido “pelo fim das sanções e dos bloqueios” — a arma escolhida pelo mundo ocidental para tentar travar a invasão russa da Ucrânia.