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"Peacemaker". Onde é que começa e acaba o bom gosto? Não sabemos, mas passa por John Cena

Este artigo tem mais de 2 anos

Não é uma série de super-heróis: é boa comédia, que está disponível entre nós em 8 episódios na HBO Max. Estivemos à conversa com o protagonista, John Cena, e o criador e realizador, James Gunn.

“Adoro fazer as pessoas rir. Muita da comédia vem da possibilidade de seres capaz de te rires de ti próprio. Não queres que façam a piada sobre ti, queres que te levem a sério, mas há mérito em seres capaz de rires de ti próprio, ou das pessoas se rirem a tua custa"
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“Adoro fazer as pessoas rir. Muita da comédia vem da possibilidade de seres capaz de te rires de ti próprio. Não queres que façam a piada sobre ti, queres que te levem a sério, mas há mérito em seres capaz de rires de ti próprio, ou das pessoas se rirem a tua custa"

“Adoro fazer as pessoas rir. Muita da comédia vem da possibilidade de seres capaz de te rires de ti próprio. Não queres que façam a piada sobre ti, queres que te levem a sério, mas há mérito em seres capaz de rires de ti próprio, ou das pessoas se rirem a tua custa"

“Não, não me sinto confortável. Dançar é algo que me deixa muito desconfortável”. Conta John Cena a dada altura numa entrevista realizada há umas semanas, a propósito de “Peacemaker”, cujos oito episódios estrearam em simultâneo em Portugal com a chegada da HBO Max. A pergunta da dança deve-se a dois momentos: um primeiro, o genérico, em que praticamente todo o elenco dança uma coreografia ao som de “Do Ya Wanna Taste It”, dos Wig Wam; o segundo, uma cena no primeiro episódio, em que John Cena desata a dançar, praticamente nu, alheio aos perigos que o rodeiam. O visível desconforto faz parte da piada, numa série que equilibra de forma exemplar o humor de forma clássica com uma capacidade rara de gozar consigo mesma.

Dito isto, tente evitar as aparências. “Peacemaker” é muito mais uma grande série de comédia – provavelmente uma das melhores que verá este ano – e muito menos uma sobre super-heróis. “Peacemaker” faz parte dessa espécie – ou talvez seja um anti-herói, mas já se tratará esse tema – saído do filme “O Esquadrão Suicida” de James Gunn, estreado no ano passado, que também está na mesma conversa Zoom que Cena. Gunn conquistou-nos com “Guardiões da Galáxia”, deu o salto da Marvel para a DC, refez “O Esquadrão Suicida” e agora aventura-se com “Peacemaker”: “Fiz a série porque a queria fazer. Escreveu-se sozinha, durante a rodagem do filme, percebi que queria trabalhar mais com o John [Cena], porque nos demos muito bem. Percebemos que havia mais a explorar na personagem, a sua origem, a sua relação com o pai, as suas qualidades sexuais. Foi uma forma de explorar de um modo mais profundo. Ele diz muito sobre o mundo hoje em dia. Isso é muito tangível na sua relação com Leota Adebayo [Danielle Brooks]”.

Peacemaker é uma personagem que conquista rapidamente. Muito se deve a John Cena. Para se falar dele tem de se começar com a sua relação com o pai (interpretado por Robert Patrick), um ídolo da supremacia branca feito cientista louco, que tem uma oficina numa realidade paralela onde desenvolve as coisas mais maquiavélicas. Esta personagem existe na série com a maior das naturalidades – é uma das grandes conquistas de “Peacemaker”, normalizar as características de banda-desenhada – e, por isso, não se estranha que o pai de Peacemaker tenha feito uma lavagem cerebral ao filho desde que este era muito novo para ser exatamente aquilo que o seu nome diz: um fazedor de paz.

[o trailer de “Peacemaker”:]

Obviamente que isso tem as suas incongruências. Nem sempre Peacemaker pratica o bem. Raramente é um herói, muitas vezes é um anti-herói. Não precisa de ver o filme de James Gunn para entrar na série, há uma boa introdução no início da série que resume bem estas dicotomias na personagem. Mas além de herói e anti-herói, Peacemaker é também um grande otário, frequentemente a roçar os limites do politicamente correto e a desbundar classe nesses limites. Mais uma vez, isso deve-se a John Cena, que livra-se do ego da sua imposição física e do seu passado na WWE, para se entregar a uma personagem que só pode funcionar com uma boa inconsciência do seu ridículo: “Adoro fazer as pessoas rir. Muita da comédia vem da possibilidade de seres capaz de te rires de ti próprio. Não queres que façam a piada sobre ti, queres que te levem a sério, mas há mérito em seres capaz de rires de ti próprio, ou das pessoas se rirem a tua custa. A WWE ensinou-me a saber entreter as pessoas. Gosto desse processo e creio que ajuda no sucesso de “Peacemaker”, responde John Cena a uma provocação lançada logo no início da entrevista.

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Provocação essencial: como é que ele vê a sua personagem? Herói, anti-herói ou imbecil? Antes da conclusão acima transcrita, Cena diz que o vê como todos e que essa ambiguidade é o que faz as personagens. E o público? “Podem vê-lo como quiserem. Estou habituado a críticas. A carreira na WWE deu-me calo.” É nesta posição, de herói, anti-herói e imbecil que Peacemaker é recrutado para uma equipa de operações especiais para neutralizar uma ameaça na terra.

O inimigo, ou inimigos, em “Peacemaker” não existem na banda-desenhada, foram criados por James Gunn para a série e vivem em paralelo com teorias da conspiração que se têm manifestado nos últimos anos no mundo real. A equipa e Peacemaker andam atrás de uns seres denominados como “borboletas” que se instalam no corpo dos seus hóspedes e tomam controlo. Objetivo? Não se sabe ao certo, mas certamente que passará pelo controlo da terra. O desconhecimento do inimigo durante grande parte dos episódios proporciona o cenário perfeito para Peacemaker existir: parte da viagem é existencial, à procura de um lugar no mundo. Se é herói, anti-herói ou imbecil.

Herói, anti-herói ou imbecil? Antes da conclusão acima transcrita, Cena diz que o vê como todos e que essa ambiguidade é o que faz as personagens. E o público? “Podem vê-lo como quiserem. Estou habituado a críticas. A carreira na WWE deu-me calo.”

É difícil ser levado a sério. Logo no genérico vemo-lo com um capacete que lhe dá um ar ridículo. Toda a sua indumentária remete para um outro tempo e formas como os super-heróis eram representados na televisão e no cinema. O capacete, que não é tão usado como é inicialmente sugerido, é um acessório que dá à personagem a oportunidade de ser ridicularizada, de não ser levada a sério. Quando perguntamos pelo capacete – que são vários, já agora, que têm diferentes poderes –, John Cena diz logo “Adoro o capacete, é estranho, é totalmente Peacemaker”. E James Gunn recorda uma cena em que Peacemaker vai a uma escola explicar o que faz e como Cena insistiu em levar o capacete: “Tenho de levar o capacete, adoro o capacete!”

Ao capacete junta-se uma águia – Eagly –, o melhor amigo de Peacemaker, que transporta um certo patriotismo e que obedece aos eu dono até certo ponto. A ainda há Adrian Chase / Vigilante (Freddie Stroma), um sidekick que transforma por completo a série a partir do momento em que aparece. Não vale a pena aprofundar a personagem – para não estragar – mas tem o dom de roubar todas as cenas.

Poucas séries – ou filmes – à volta do universo de banda-desenhada de super-heróis são tão convidativas a deixar entrar quem é alheio, ou ignorante, deste universo. “Peacemaker” é uma série de ação, sim, de fantasia ou alguma ficção científica, mas vê-se como uma excelente série de comédia, com atores e respetivas personagens dispostos a aceitar o risco de trabalharem no limite do bom gosto. Às tantas, perguntamo-nos: afinal, o que é isso do bom gosto?

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