(Em atualização)

Uma jornalista apareceu em direto a segurar um cartaz contra a guerra durante a transmissão do noticiário da noite do Canal 1, um canal de televisão estatal russo. A interrupção aconteceu pelas 21h35 (18h35 em Lisboa). O vídeo foi partilhado nas redes sociais.

No cartaz que a jornalista, Marina Ovsyannikova, segura é possível ler a seguinte mensagem: “Parem a guerra. Não acreditem na propaganda. Aqui, estão-vos a mentir”. Assim que apareceu em direto, a transmissão foi abruptamente interrompida e a imagem da pivô a falar foi substituída por uma peça jornalística sobre um hospital.

Antes de interromper a transmissão em direto, gravou uma mensagem onde diz que “nos último anos” trabalhou no Canal 1, onde esteve envolvida na propaganda do Kremlin. Agora, diz, está “envergonhada”.

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“Infelizmente nos últimos anos trabalhei no canal federal e ajudei o Kremlin na propaganda e tenho vergonha do que fiz. A minha mãe é russa, o meu pai é ucraniano e o colar no meu pescoço é o símbolo de esperança de que um dia, os dois povos possam fazer as pazes”, afirmou no vídeo. “Nós calámo-nos em 2014. Não dissemos nada quando Navalny foi envenenado.”

Ovsyannikova disse ainda que o que está a acontecer na Ucrânia é “um crime” e que a Rússia é “o agressor”. “E a responsabilidade por essa agressão recai apenas na consciência de uma pessoa, e essa pessoa é Vladimir Putin.” A jornalista, que classifica o povo russo como “pensante e inteligente”, incita ao protesto: “Não tenham medo de nada, eles não nos podem prender todos”.

Jornalista está detida há mais de 12 horas. Advogados não sabem do seu paradeiro

Marina Ovsyannikova terá sido detida há mais de 12 horas pelas autoridades russas. A informação está a ser veiculada por Pavel Chikov, um advogado russo e ativista dos direitos humanos.

De acordo com o divulgado no Twitter pelo diretor executivo da Agora, um grupo internacional de direitos humanos, Ovsyannikova foi detida há mais de 12 horas, na estação de televisão, em Moscovo. Não terá sido permitido ao seu advogado, Daniil Berman, que representou Maria Alekhina das Pussy Riot, falar com ela.

A advogada Anastasia Kostanova disse à BBC que tem tentado falar com a jornalista por telefone, mas sem sucesso. A equipa de defesa da jornalista a “noite toda” à sua procura, o que significa que as autoridades russas “estão a escondê-la” e “a tentar privá-la de assistência legal”.

“Aparentemente, estão a tentar preparar a acusação mais severa”, disse Kostanova.

No Twitter, Chikov afirmou que Ovsyannikova estará a ser alvo de uma “pré-investigação” por parte das autoridades russas e que não há base legal para a detenção da jornalista do Canal 1.

Moscovo diz que Marina Ovsyannikova é “hooligang”

Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, disse esta terça-feira que a jornalista protagonizou um ato de “hooliganismo”. Citado pela agência Interfax, o porta-voz de Putin desvalorizou o incidente e preferiu destacar, ao invés, o trabalho que tem vindo a ser feito pelo Canal 1 – na opinião do Kremlin, o canal noticioso tem feito um trabalho de informação “objetivo”, “oportuno” e “rigoroso”.

Zelensky agradece a jornalista: “Estão a espalhar a verdade”

Volodymyr Zelensky reagiu ao que aconteceu esta segunda-feira no Canal 1, agradecendo o apoio aos “russos que continuam a espalhar a verdade”.

“Estou agradecido àqueles russos que não deixam de espalhar a verdade, que estão a lutar contra a desinformação e dizem os factos reais aos seus amigos e famílias”, afirmou o Presidente ucraniano.

Agradecendo “aqueles que não têm medo de protestar”, Zelensky afirmou que desde que a Rússia “não esteja completamente fechada do resto do mundo, a transformar-se numa Coreia do Norte” ainda é possível contestar as decisões do governo.

Nações Unidas: Marina Ovsyannikova “não deve ser alvo de represálias por exercer direito à liberdade de expressão”

A porta-voz do gabinete das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasani, disse que as autoridades russas deviam garantir que a jornalista não seja “alvo de represálias por exercer o seu direito à liberdade de expressão”, citou o The Guardian.

Já a União Europeia aplaudiu esta terça-feira a coragem dos cidadãos russos que exprimem a sua oposição ao regime de Vladimir Putin, nomeadamente a jornalista que interrompeu o noticiário.