O documento revelado pela BBC conta apenas com cinco páginas, estaria algures guardado nos arquivos das agências policiais da Rússia mas revela em grande parte a forma como Roman Abramovich conseguiu fazer a enorme fortuna que tem hoje entre suspeitas de corrupção, de roubo e até de sequestro. “A BBC não pode confirmar toda a informação mas a confirmação com outras fontes da Rússia suportam muitos dos detalhes que se encontram escritos neste documento com cinco páginas”, explica o órgão britânico.

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O documento deverá ter sido alvo de contrabando para sair da Rússia e a fonte confidencial que fez chegar o mesmo à BBC revelou ter copiado de forma secreta os arquivos das agências policiais da Rússia. “Não há qualquer base legal que permita alegar que Roman Abramovich ganhou muito dinheiro por cometer crimes”, destacou a equipa de advogados do russo perante dois grandes negócios que funcionaram como rampa de lançamento para a fortuna conseguida: a compra e venda da Sibneft e a aquisição da Slavneft.

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  • O primeiro problema com a justiça tem já 30 anos e prende-se com um alegado roubo de um camião de combustível que seria mais tarde vendido com o russo a receber a receita desse negócio. Os advogados de Abramovich comentaram a esse propósito que tudo não passou de um mal-entendido;
  • Em 1995, Roman Abramovich comprou num leilão fraudulento a Sibneft, uma empresa de petróleo do governo russo, por cerca de 250 milhões de dólares antes de vender a mesma companhia de novo ao governo por 13 mil milhões de dólares (para se ter uma ideia, e ao câmbio de hoje, seria o mesmo do que comprar algo por 228 milhões de euros e vender depois por 11,8 mil milhões de euros). Segundo a BBC, o russo admitiu num tribunal do Reino Unido pagamentos corruptos na aquisição da perante uma queixa apresentada pelo ex-sócio Boris Berezovsky em 2012 (mas ganhou a queixa);
  • A BBC Panorama conseguiu chegar ao antigo procurador chefe que investigou o caso, que não sabendo da existência do documento confirmou muitos dos seus contornos. “Basicamente foi um esquema de fraude onde aqueles que participaram na privatização formaram um grupo criminal que permitiu que Abramovich e Berezovsky enganassem o governo e não pagassem o dinheiro que a companhia valia na realidade”, revelou Yuri Skuratov, afastado do cargo em 1999 depois da revelação de um vídeo de cariz sexual que, de acordo com o próprio, se tratou de uma manobra por estar próximo de chegar à família de Boris Yeltsin, na altura presidente da Rússia e um dos alegados “protetores” do esquema;

  • Noutro momento revelado no documento, em 2002, existiu um leilão alegadamente manipulado por Roman Abramovich a envolver a empresa petrolífera Slavneft. O russo terá feito uma parceria com outra empresa para adquirir a Slavneft mas uma companhia chinesa preparava-se para apresentar uma oferta que duplicava os valores colocados em cima da mesa e que poderia fazer com que várias pessoas, do Kremlin ao próprio Parlamento, perdessem. “A CNPC, companhia chinesa, teve de retirar essa oferta depois de um dos seus representantes ter sido raptado à chegada ao aeroporto de Moscovo e ser apenas libertado após haver a garantia de que a companhia sairia da corrida”, diz o documento.
  • “Disse que os chineses queriam entrar no leilão e que estavam dispostos a pagar um preço muito maior do que era oferecido. Disseram-me que isso não interessava e que tinha de estar calado porque não era algo da minha conta. A venda estava decidida, a Slavneft ia para Abramovich e por aquele preço e os chineses iriam sair do negócio de qualquer forma”, contou ao BBC Panorama Vladimir Milov, que na altura era vice-ministro da Energia da Rússia, sem comentários sobre o alegado sequestro.