Uma goleada em Anfield frente ao Liverpool, uma derrota no Emirates com o Arsenal, um empate em Old Trafford diante do Chelsea. Os adversários não eram propriamente os mais acessíveis (só faltava mesmo o Manchester City para completar o top 4 da classificação) mas o Manchester United igualou aquela que foi a pior série da temporada sem vitórias na Premier League, hipotecando as poucas possibilidades que ainda poderiam existir para chegar à quarta posição e consequente apuramento para a Liga dos Campeões. Assim, e nos três jogos que faltavam até ao final da época, os red devils jogavam sobretudo pelo orgulho, pelo início de uma fase diferente com Erik ten Hag e pela confirmação matemática de um lugar na Liga Europa.

Se não fosse o “problema”, estavam fora da Europa: Ronaldo volta a marcar e dá empate ao United frente ao Chelsea

Pouco, muito pouco para quem investiu tanto no início de 2021/22 em Ronaldo, Varane e Jadon Sancho. E ainda menos para tentar segurar os melhores jogadores sem essa qualificação para a Champions, estando à cabeça o avançado português que, aos 37 anos, tem cada vez mais o futuro incerto em Old Trafford.

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“Ficaria muito feliz se ele continuasse mas, se decidir sair, não o posso recriminar. Quando um jogador está habituado a jogar a Liga dos Campeões todos os anos da carreira e, de repente, fica sem essa competição… É difícil aceitar. Estar nesta forma aos 37 anos mostra que trata muito bem dele. O Cristiano mostrou que, mesmo com esta idade, consegue jogar na Premier. O estilo de jogo dele, agora, é diferente mas os golos continuam a ser uma constante e cumpre a função dele, que é marcar. Tem contrato e terá de ser ele a decidir se quer, ou não, continuar”, salientou o antigo avançado Dimitar Berbatov numa artigo de opinião.

“Futuro de Ronaldo? Isso é algo que devemos falar entre Erik [ten Hag], a Direção e eu. Cristiano tem mais um ano de contrato. Também é importante descobrir o que ele quer, se ele quer ficar. Mas ainda não falei com o Erik. No final, é decisão de Erik e também do Cris. Não me cabe a mim falar sobre isso. Hoje, por exemplo, a atuação dele foi muito boa. Mostrou um bom desempenho quando o Chelsea estava com posse de bola. Ajudou muito na segunda parte a nível defensivo. Ele mostrou que ainda pode ser uma parte vital da equipa mas é óbvio que a equipa precisa de mais avançados. Não acho que seja suficiente fazer algumas pequenas correções e emendas, é importante ver o quadro geral e, com sorte, trazer os melhores jogadores possíveis. Foi o que quis dizer quando falei em ‘operação de coração aberto'”, assumiu Ralf Rangnick depois do empate com os blues, entre vários elogios à atitude do português em campo aos 37 anos.

Da parte do avançado, ainda nenhum sinal público. Nem mesmo com o aumento das notícias a darem conta da possível vontade de sair para jogar a Champions (esta segunda-feira falava-se até num regresso ao Real Madrid). Até por tudo o que se passou nas duas últimas semanas, não será também momento para qualquer tomada de decisão. E o próprio Ronaldo tem mostrado isso em campo, ganhando pelo segundo mês seguido o prémio de Melhor Jogador. Frente ao Brentford, o objetivo passava por dar continuidade aos oito golos nos últimos cinco jogos da Premier League, cinco nos últimos três de forma consecutiva. Foi mais um, sendo que dos últimos 12 golos do Manchester United nove foram do número 7. Mais do que isso, Ronaldo foi feliz. Voltou a ser feliz. Voltou a ser Ronaldo. E tendo em conta que era o último encontro em Old Trafford, ficou uma dúvida inevitável: terá sido esta a última noite do avançado no Teatro dos Sonhos.

A influência de Juan Mata na equipa no regresso à titularidade não demorou a fazer-se sentir, com a equipa da casa a ter outra qualidade com bola no meio-campo contrário, mas foi em Dalot que começaram as duas primeiras jogadas de perigo do Manchester United: primeiro lançou longo em Ronaldo que parou no peito mas pelo movimento já não não conseguiu dar o último toque para a baliza; depois, explorou a profundidade de Elanga pela direita e o sueco assistiu Bruno Fernandes para o 1-0 (9′). Ivan Toney ainda teve um desvio de cabeça com muito perigo após um cruzamento do inevitável Eriksen, a figura que tomou conta de todo o jogo com bola do Brentford, mas foram os red devils que acabaram melhor com Ronaldo a assistir Juan Mata de calcanhar para um remate ao lado e Mata a devolver o passe para o golo que viria a ser anulado pelo VAR em cima do intervalo, deixando o português muito agastado até pela qualidade da jogada (44′).

O segundo tempo começou com as mesmas características e com os portugueses mais uma vez em foco: Dalot acertou no poste após assistência de Ronaldo num lance que viria depois a ser anulado por fora de jogo (48′), Bruno Fernandes atirou a rasar o poste depois de uma grande entrada a receber um fantástico passe de Matic (53′). O Manchester United começava a justificar o segundo golo mas ia correndo o risco de um filme tantas vezes visto esta época e De Gea teve de aplicar-se num livre direto de Eriksen (56′) e Mbeumbo a obrigar também a uma defesa com o pé logo no minuto seguinte. E apareceu o do costume: Ronaldo recebeu descaído sobre a direita após mais um grande passe de Dalot, foi carregado na área e transformou a grande penalidade depois de em Londres frente ao Arsenal ter dado a oportunidade falhada a Bruno Fernandes (61′).

A forma como o português festejou o golo mostrou que estava satisfeito, a maneira como se deixou ficar a olhar para os adeptos até podia ser quase uma despedida. Ninguém sabe, a não ser o próprio. Mas o resto do encontro com as contas resolvidas, ainda mais depois do 3-0 de Varane após canto de Alex Telles (72′), foi para o adeus a alguns nomes com mais ou menos anos no clube: Matic, que vai sair; Juan Mata, que acaba contrato; Cavani (que entrou saído do banco), que não vai renovar. Ronaldo estendia mais um recorde, com pelo menos um golo a 168 equipas diferentes entre clubes e seleções, naquele que foi o 18.º golo nesta Premier e o 24.º da temporada em 38 encontros. E todos esperavam que não fosse o último em casa…