Um “episódio invulgar”. É assim que Luís Marques Mendes classifica o acontecimento que marcou a semana: a publicação e ordem de revogação do despacho sobre o futuro do aeroporto de Lisboa, que fez tremer o futuro do ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, no Governo. Pedro Nuno Santos acabou por ficar, mas fez mal, na visão do comentador da SIC.

“Nunca vi um ministro na praça pública a desautorizar uma ordem do primeiro-ministro. É feio e é grave”, começou por dizer o comentador, defendendo que “só havia uma saída correta e digna”, que era a saída do ministro, “ou por sua iniciativa ou do primeiro-ministro”. Por isso, para Marques Mendes, “ambos estiveram mal”.

Para o comentador, o ministro não saiu pelo seu pé por “calculismo e medo”. Pedro Nuno Santos “teve medo de perder influência e poder, de ficar no limbo no partido e de comprometer uma candidatura futura à liderança do PS”.

Já Costa “teve medo” porque “esperava que Pedro Nuno Santos se demitisse”. Marques Mendes considera que Costa “deveria ter exercido a sua autoridade”, mas o primeiro-ministro “teve medo que Pedro Nuno Santos, saindo do Governo, ficasse dentro do PS a minar o Governo sendo seu adversário interno, o que desgasta mais que um adversário externo”.

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Para Marques Mendes, “ambos pensaram no partido e não pensaram no estado do Governo nem no estado da democracia”. A justificação do ministro, de que tudo não passou de um “erro de comunicação”, é do “domínio da ficção científica”, considera Marques Mendes, afirmando que “houve um acto de deslealdade política” de Pedro Nuno Santos em relação ao primeiro-ministro.

No final, o ministro “humilhou-se para se agarrar ao lugar” e António Costa “exerceu meia autoridade”, sentenciou o comentador.

“A autoridade é um bem que se degrada quando não se usa. Dá a sensação de que António Costa ou está na Europa ou, quando esta cá, tem a cabeça na Europa e não consegue coordenar um governo. Este é um governo unipessoal. É um governo Antonio Costa. Quando não há Costa, não há governo”.

Quanto à “questão de fundo”, que é a construção do aeroporto, Marques Mendes considera que a opção apresentada pelo ministro incluía “duas coisas lamentáveis”. Por um lado, a opção Portela mais Montijo e Alcochete em 2035 “era para agradar a gregos e troianos”. Por outro, o custo. “Decide sem saber quanto vai custar? Quem vai pagar? Isto é uma brincadeira”.

“Congresso correu bem a Montenegro”

Luís Marques Mendes, que foi ao congresso do PSD este fim de semana no Porto “dar um abraço” ao novo líder do PSD, considera que a reunião “correu bem” a Luís Montenegro, porque este conseguiu “surpreender em dois ou três pontos”. Nas listas “deu sinais de qualidade e unidade”, ao incluir nomes como Paulo Rangel, Pinto Luz, Carlos Moedas, Hugo Soares, Miranda Sarmento.

Além das escolhas para as listas, teve algo que “ninguém imaginava: humildade política”. Isto porque, segundo Marques Mendes, o novo líder do PSD disse uma coisa que os militantes “não gostam de ouvir”. É que se o PS ganha eleições, é porque o PSD “não consegue convencer os eleitores. É preciso lucidez e coragem. É um bom principio de conversa”, defende o comentador, segundo o qual Montenegro quis marcar as áreas onde vai ter iniciativa política, como saúde e impostos. E ainda “lançou um míssil”, ao rejeitar o referendo sobre a regionalização. “Agora vem a parte mais importante que é construir uma alternativa”.

Os grandes desafios de Montenegro nos próximos anos, na visão de Marques Mendes, serão a luta contra a maioria absoluta, atrair novas caras e ter causas. Do lado das oportunidaes estará um governo “cada vez mais desgastado” e o facto de nas “próximas legislativas já não haver António Costa”. E, para o comentador, “sem Costa é menos difícil”.

Bolosonaro é “incoerente”

Marques Mendes falou ainda sobre a viagem do Presidente da República ao Brasil, e a controvérsia do almoço com Jair Bolsonaro, que acabou por sair dos planos. Para Marques Mendes, Marcelo Rebelo de Sousa “fez bem em manter a agenda”, porque o comportamento do presidente do Brasil “é incoerente”. “Há um ano, Marcelo esteve no Brasil, reuniu-se com Lula, Temer e Henrique Cardoso e Bolsonaro não teve problema em reunir-se” com o presidente português. Não é coerente. Não evidencia sentido de estado”. Para Marques Mendes, o episódio foi “rocambolesco e tem a importância que tem” e “Marcelo não tem responsabilidades”.

O comentador falou ainda sobre as cimeiras da última semana, nomeadamente a do BCE em Sintra, onde Christine Lagarde sinalizou que a inflação poderá não ser um fenómeno transitório. Neste sentido, revelou Marques Mendes, o Governo “está a preparar novos apoios para setembro ou outubro, para os mais pobres e famílias mais vulneráveis”.