Quase 80% dos inquiridos num estudo que deu origem a um livro a lançar esta quinta-feira, em Lisboa, consideram que o Governo deve intervir para promover hábitos de alimentação mais sustentáveis e saudáveis.

Esta postura tende a ser mais comum entre as mulheres, pessoas com menos de 54 anos mais escolarizadas, residentes em zonas urbanas e com filhos menores”, lê-se no livro Sustentabilidade e Alimentação, Segundo Grande Inquérito em Portugal, divulgado pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (Imprensa de Ciências Sociais).

A obra compila dados do inquérito realizado no período pre-pandemia, enquadrados com o contexto pandémico e as tendências de alimentação no mundo ocidental, nomeadamente a procura de uma alimentação de base mais vegetal, depois de um século marcado pelo crescimento exponencial da produção de carne.

“As estimativas mais recentes indicam que podem existir atualmente cerca de 1,6 milhões de vírus por identificar em mamíferos e aves, metade dos quais com potencial de atravessar barreiras interespécies, e adaptar-se a hospedeiros humanos”, destacam os autores, citando trabalho já publicado por outros especialistas.

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O livro é assinado por Mónica Truninger (sociologia), Luísa Schmidt (sociologia), João Graça (psicologia), Luís Junqueira (sociologia) e Pedro Prista (antropologia).

Aves, porcos e vacas estão entre os animais mais usados na indústria alimentar propensos a hospedar vírus influenza, como a gripe das aves e a gripe suína.

De acordo com os investigadores, os atuais padrões de produção e consumo de carne têm sido apontados como um dos principais fatores de risco para “o aparecimento muito provável” de novos surtos pandémicos.

“Embora a alimentação de base vegetal ainda tenha uma expressão reduzida entre os portugueses (5% come, pelo menos, sete refeições de base vegetal por semana), muitos demonstram abertura para uma mudança de hábitos alimentares, sobretudo as mulheres, os mais novos, os mais escolarizados e os residentes em áreas metropolitanas“, lê-se no livro.

Entre os principais obstáculos a uma alimentação mais vegetal, os inquiridos identificaram o custo (39,6%), a falta de sabor e saciedade (18,2%), a segurança alimentar (14,9%) e a falta de acessibilidade/oferta (11,4%).

No livro analisam-se os resultados do Segundo Grande Inquérito sobre Sustentabilidade e Alimentação em Portugal, aplicado à população portuguesa e cujos resultados foram publicados em 2018.

Os autores da obra agora publicada destacam que os atuais padrões alimentares das sociedades ocidentais industrializadas têm sido associados a um número crescente de problemas ambientais globais, com impacto na saúde humana.

“Em Portugal, comemos açúcar, sal e gorduras a mais e frutas e legumes a menos. Estes problemas são agravados pelas desigualdades que caracterizam o tecido social do país e precisam de ser conhecidos com maior profundidade”, defendem os investigadores.

Os autores recorreram a diversa bibliografia para demonstrar também que a transformação para sistemas alimentares ambientalmente mais sustentáveis implica “profundas alterações” nos sistemas de produção e consumo, por forma a proteger a biodiversidade e mitigar as alterações climáticas.