As tensões entre a China, Taiwan e os Estados Unidos fazem parte de uma história de várias décadas, mas ganharam um novo capítulo com a ida da Presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, à ilha.

Nancy Pelosi volta a provocar China. Pequim “não pode impedir líderes mundiais de viajarem a Taiwan”

Após a visita, a China desencadeou alguns dos maiores exercícios militares ao longo da costa de Taiwan, que reconhece como parte do seu território. A hipótese de uma invasão não é algo novo, mas traz consigo uma questão: como é que Taiwan se poderia defender em caso de ataque?

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Caso a China decidisse invadir a ilha, começaria um conflito desiquilibrado, uma vez que o país tem uma força militar muito superior à de Taiwan. Segundo a BBC, o orçamento chinês para o setor da Defesa é 13 vezes maior, superando largamente o de Taiwan em militares, equipamentos e armas. Esta é uma desvantagem conhecida e que a região tem em conta, adotando a chamada “estratégia de guerra assimétrica” ou, como é mais conhecida, “porcupine strategy” (“estratégia porco-espinho”, em português) que foi confirmada na sua Revisão Quadrienal de Defesa de 2021. “Resistir ao inimigo na margem oposta, atacá-lo no mar, destruí-lo na zoma costeira e aniquilá-lo no início das pontes” é o mantra defendido no referido manual.

A estratégia parte do pressuposto de que, se é impossível tornar um país totalmente impermeável a um agressor, deve aumentar-se os custos da invasão ao máximo, para que esta hipótese se torne inaceitável. Assim, promete-se uma receção tão “espinhosa” – quando se sente em perigo, o porco-espinho liberta os espinhos para atacar os predadores – que, mesmo que as diferenças entre as forças militares sugiram uma vitória, o país seja demovido de invadir pelos custos que terá de suportar.

A ideia passa por, em vez de investir em pequenas quantidades de equipamentos modernos, comprar ou desenvolver vastas quantidades de equipamento mais barato e menos sofisticado. O The Telegraph aponta que esta estratégia pode trazer melhores resultados, como a guerra na Ucrânia tem vindo a mostrar. A defesa ucraniana tem recorrido a algumas armas mais baratas, como os sistemas anti-tanque Javelin norte-americanos e os NLAW britânicos que se têm provado úteis no conflito. O jornal britânico lembra que este tipo de sistemas pode, nas mãos certas e em quantidades suficientes, conter um exército como o russo.

Os mísseis britânico e norte-americano que estão a ajudar os ucranianos a equilibrar a balança do conflito

Num artigo publicado no The Conversation, Zeno Leoni, um especialista do departamento de Estudos de Defesa do Instituto Lau China, da King’s College London, explica que a tática envolve métodos para “escapar aos pontos fortes do inimigo e explorar as suas fraquezas”.

Citado pela BBC, o especialista explica que esta estratégia é composta por três camadas. A primeira é a inteligência e consequente preparação das forças de defesa, dotadas de um sofisticado sistema de alerta precoce que permite evitar um ataque surpresa de Pequim. As forças armadas chinesas, segundo Leoni, ficariam obrigadas a iniciar qualquer invasão com mísseis de médio alcance e ataques aéreos para destruir radares, pistas de aterragem e baterias de mísseis.

A resposta de Taiwan, prossegue Leoni, passaria pelo destacamento de forças navais para uma guerra de guerrilha em alto mar – que devia contar com o apoio dos EUA. Embarcações pequenas, armadas com mísseis e ajudadas por helicópteros e baterias de mísseis em terra tentariam travar o exército chinês.

Caso os militares conseguissem entrar na ilha, Taiwan “apresentaria” outras armas: “A geografia e a população são a espinha dorsal da terceira camada defensiva”. Leoni diz que o terreno de Taiwan, com montanhas escarpadas, poucas praias aptas para desembarque e grande parte do território de características urbanas, é uma vantagem ara os defensores.

Esta estratégia apoia-se numa outra questão pertinente: até que ponto os Estados Unidos estão dispostos a intervir em caso de conflito? O país segue há muito uma política de “ambiguidade estratégica”. Por um lado, mantêm a política de “uma China” que reconhece, mas não apoia a reivindicação chinesa sobre Taiwan.

Em maio, como lembra o New York Times, o Presidente norte-americano, Joe Biden, afastou-se da política tradicional seguida pelos líderes do país. Assinalou que iria recorrer à força militar para defender Taiwan caso a China atacasse – ainda que, posteriormente, tenha assegurado que não há mudanças na “ambiguidade estratégica”.