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Não é de agora que a natureza é usada como arma de guerra e, nos primeiros dias da invasão da Ucrânia, as águas do rio Irpin — uma das “barreiras” que ladeiam Kiev — subiram subitamente e fizeram com que o exército russo tivesse de recuar as suas ofensivas. Esta foi a primeira inundação da zona pantanosa em mais de 70 anos. Apesar de o resultado ser positivo para os ucranianos, a pergunta impunha-se: como aconteceu este fenómeno?

Imagens de satélite mostram inundação do rio Irpin, ponto crítico no avanço das tropas russas. Tática ucraniana?

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Nada disto foi um acaso. As inundações provocadas pela subida do rio foram causadas por mão humana, à semelhança do que já se suspeitava na altura, sendo resultado da destruição de uma barragem. Em declarações ao The Guardian, Jasper Humphreys, diretor de programas no departamento de estudos de guerra do King’s College London, apelidou este episódio de “warWilding”.

Acordei durante a noite alguns dias depois de ler a história sobre como o exército ucraniano inundou o rio Irpin e os seus antigos pântanos para salvar a capital ucraniana. Sentei-me na cama e sussurrei para mim mesmo: ‘isto é o warWilding’”, disse Jasper, explicando que a expressão designa “a criação ou até a destruição do habitat fruto da manipulação tática da natureza”.

Teoricamente o “warWilding” é uma grande oportunidade que permite salvar grandes áreas e criar, à sua volta, zona neutras que permitam construir uma base para a paz. Um exemplo de sucesso, citado por Humphreys, é o “Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique”, que ficou com “90% da vida selvagem dizimada” durante a guerra civil, mas conseguiu recuperar “graças a ações coordenadas e investimentos feitos”.

O ecossistema ribeirinho de Irpin restaurado seria um dos mais lendários ‘WarWildings’ da história. Seria um hotspot de biodiversidade com safaris para turistas e uma barreira selvagem capaz de proteger Kiev de invasores durante centenas de anos”, prosseguiu o diretor.

Ao mesmo jornal, Thor Hanson, especialista em efeitos ambientais causados pelas guerras, considera que o termo é “cativante” e “pode ser útil para explicar certas consequências ambientais da guerra”. Hanson fala na necessidade de se promover a “construção da paz ambiental” na Ucrânia, podendo “ajudar a reduzir o conflito ao diminuir o contacto entre os agressores”.

Apesar de os sinais serem positivos, nem todos os “warWildings” tiveram impacto positivos no meio envolvente, como é o caso dos pântanos no centro do Iraque, que foram destruídos pelas tropas de Saddam Hussein. Ainda assim, Humphreys acredita que, no rio Irpin, os sinais são “positivos”.