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O ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) português reforçou na quinta-feira a necessidade de apoio contínuo à Ucrânia e de se contrariar “narrativas enganadoras por parte da Rússia”, numa reunião com autoridades norte-americanas em Washington.

João Gomes Cravinho reuniu-se na manhã de quinta-feira com o conselheiro de Segurança Nacional norte-americano, Jake Sullivan, para relembrar o apoio de Portugal à Ucrânia, assunto esse que esteve também em destaque no encontro que manteve à tarde no Departamento de Estado norte-americano, com o homólogo, Antony Blinken.

Falámos, naturalmente, do panorama internacional, muito complexo, muito difícil que vivemos, no qual há uma grande convergência de pontos de vista entre a nossa política externa e a política externa americana, muito em particular em relação à invasão da Ucrânia pela Rússia e aquilo que é preciso fazer para continuar a apoiar a Ucrânia, para continuar a contrariar narrativas enganadoras por parte da Rússia, que ganham alguma atração em outras partes do mundo”, disse o MNE aos jornalistas portugueses no final do encontro com Blinken.

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“É muito importante que as nossas opiniões públicas tenham consciência de que algumas das dificuldades que estamos a viver atualmente no panorama económico são consequência direta da atividade ilegal e ilegítima por parte da Rússia e não algo que apareceu e que será culpa dos governos dos vários países”, acrescentou o governante.

Neste que foi o primeiro encontro bilateral entre Blinken e Cravinho, os líderes abordaram as consequências que a invasão da Ucrânia pela Rússia está a ter no mundo aos mais diversos níveis — securitário, energético, alimentar, humanitário, entre outros.

Cravinho indicou que o tema não se ficará por Washington, continuando a ser abordado na próxima semana em Nova Iorque, durante as reuniões de alto nível da 77.ª sessão da Assembleia-Geral da ONU, que reunirão chefes de governo e de Estado de todo o mundo.

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“Será um tema dominante nas Nações Unidas, inevitavelmente. Afinal, temos um membro permanente do Conselho de Segurança que comete atrocidades contra a Carta das Nações Unidas. E, portanto, naturalmente que na Assembleia Geral haverá uma discussão muito intensa em torno desse tema”, declarou.

Tem sido muito interessante ouvir os pontos de vista de diferentes partes do mundo, da América Latina, do continente africano e da Ásia, que nem sempre coincidem com os nossos pontos de vista. Mas o relacionamento internacional é feito de diálogo e é feito de procura de compreender os pontos de vista dos outros. Portanto, Nova Iorque será um momento muito intenso exatamente nesse sentido”, observou.

Além da guerra, o MNE português abordou ainda com Sulivan e Blinken questões relativas às relações entre os dois países, como iniciativas conjuntas no Atlântico.

O Atlântico ganhou atualmente uma nova relevância geoestratégica. Em tempos, o Atlântico foi pensado como dois atlânticos: o norte e o sul. Atualmente compreendemos que os principais problemas do Atlântico são do Atlântico e devem ser tratados pelos países da orla ribeirinha dos quatro quadrantes. Temos vindo a desenvolver algumas iniciativas nesse sentido”, referiu.

De acordo com o chefe de diplomacia portuguesa, os Estados Unidos “mostram muito interesse em acompanhar essas iniciativas”, informando que próprio secretário de Estado norte-americano presidirá na terça feira, em Nova Iorque, a uma reunião que junta os países do Atlântico.

Em declarações à imprensa, Cravinho avaliou que as relações entre Portugal e Estados Unidos só têm vindo a melhorar ano após ano.

A verdade é que a nossa relação bilateral é muito, muito positiva. Não temos problemas, não temos dificuldades. Pelo contrário, é uma relação que tem vindo a crescer muito nos últimos tempos. Todos os números o atestam: números do investimento americano, números do investimento português nos Estados Unidos, a parte do turismo. Há uma intensidade muito positiva neste relacionamento bilateral”, advogou.

No final do encontro, o gabinete de Blinken fez circular uma transcrissão dos cumprimentos iniciais entre os dois governantes, com o secretário de Estado a referir-se a Portugal como o “mais próximo dos Aliados da NATO”.

Na agenda de dois dias em Washington, que se prolongará até esta sexta-feira, o ministro reuniu-se ainda com alguns dos membros luso-descendentes eleitos para o Congresso norte-americano, e ainda com membros da comunidade portuguesa na embaixada de Portugal, para além de um encontro com peritos da Eurásia, África e América Latina no “Atlantic Council”.

Portugal “fortemente empenhado” na reconstrução de escolas

Portugal está também a planear reconstruir escolas na Ucrânia e espera que o processo seja concluído a tempo do próximo ano letivo.

Portugal está fortemente empenhado, particularmente na região de Jitomir, que eu visitei, e que vai ser o local onde vamos fazer a reconstrução o mais rápido possível de escolas. Gostaríamos que as escolas estivessem prontas. Esperamos que as escolas estejam prontas para o próximo ano letivo”, disse o ministro em Washington.

“Estamos a falar de escolas completamente destruídas, mas, independentemente das dinâmicas da guerra, é fundamental que as crianças da Ucrânia tenham possibilidade de continuar a sua vida escolar. E vamos trabalhar com as autoridades ucranianas para as apoiar nesse sentido”, acrescentou o chefe da diplomacia portuguesa.

Cravinho esteve no mês passado em Jitomir, na Ucrânia, onde discutiu com as autoridades ucranianas as possibilidades de apoio de Portugal à reconstrução desta região, particularmente centrado na educação e nas escolas.

João Gomes Cravinho obrigado a refugiar-se em bunker durante visita a escola em Jitomir

Além do apoio para a reconstrução de escolas, na ocasião o MNE informou que as autoridades locais pediram ajuda também, conjuntamente com outros parceiros internacionais, para definir a base curricular para os alunos da região.

Também a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, informou na quarta-feira que a União Europeia vai destinar “100 milhões de euros para construir escolas” destruídas pelas forças de Moscovo, ajuda que se junta aos “mais de 19 mil milhões de euros” de ajuda entregue à Ucrânia, incluindo equipamento militar.

Von der Leyen fez o anúncio durante o discurso sobre o Estado da União Europeia, perante o Parlamento Europeu e na presença da primeira-dama ucranina, Olena Zelenska.

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Desde o início da guerra, adiantou, foram destruídas ou danificadas mais de 70 escolas e, citando Olena Zelenska, a presidente da Comissão Europeia contou que as crianças na Ucrânia vão para a escola com duas mochilas: a da escola e uma outra de emergência com água, material de primeiros socorros e uma muda de roupa interior.

“Imaginem o que é mandar as crianças para a escola e não se saber se voltam a ver-se no final do dia”, disse aos eurodeputados.