Três dias depois do dia das eleições intercalares de terça-feira, continua tudo em aberto na política norte-americana. À medida que os votos continuam a ser contados, há várias disputas eleitorais em que ainda não é possível projetar o vencedor — e nem no Senado nem na Câmara dos Representantes foi, até agora, alcançada uma maioria de qualquer um dos partidos.

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No caso do Senado, a disputa entre democratas e republicanos está particularmente renhida: o Partido Republicano conta até agora com 49 senadores, enquanto o Partido Democrata conta com 48 (incluindo um capturado aos republicanos). Numa câmara com 100 assentos, ainda nenhum dos partidos chegou aos 50 — e os três lugares que estão por contabilizar podem dar a vitória a qualquer um dos partidos.

Para os democratas ficarem com o controlo do Senado, basta elegerem 50 senadores — uma vez que o voto de desempate, que cabe à vice-presidente Kamala Harris, está do seu lado. Já os republicanos precisam de pelo menos 51 senadores para terem maioria.

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A bloquear este processo estão as votações em três estados — e os atrasos devem-se a motivos diferentes em cada um deles:

  • Nevada. Com 90% dos votos contados, o candidato republicano, Adam Laxalt, vai à frente com 49% e a democrata Catherine Cortez Masto, a atual incumbente, tem até agora 48% dos votos. A margem é demasiado curta para que seja possível projetar um vencedor. Além disso, como explica o The Guardian, há outros dois fatores a complicar o processo: por um lado, ainda falta contar uma grande parte dos votos das zonas urbanas de Las Vegas e de Reno; por outro lado, há a questão do voto antecipado por correspondência. É que, apesar de as autoridades eleitorais só aceitarem votos que tenham o carimbo dos correios com data, no máximo, até ao dia das eleições, é dada uma janela de quatro dias para permitir a chegada de todos os envelopes. Isto significa que até sábado, dia 12, ainda podem chegar votos válidos.
  • Arizona. O candidato democrata e atual ocupante do cargo, Mark Kelly, segue na frente com 52%, seguido do oponente republicano, Blake Masters, com 46%, numa altura em que estão contados 82% dos votos. Mas esta margem, tendo em conta o número absoluto de votos de cada candidato, não é suficiente para projetar um vencedor. Neste caso, de acordo com o The Guardian, o grande problema passa pelos métodos de verificação dos votos antecipados, que este ano chegaram em número recorde: 290 mil. Cada um destes votos tem de ser individualmente verificado pelas autoridades eleitorais, que confirmam a identidade de cada eleitor — e é na capital estadual, Phoenix, que falta contar a maioria dos votos. Somando o processo moroso à curta margem de avanço, é impossível projetar para já o vencedor.

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  • Geórgia. Este será o caso mais bicudo. Aqui, o problema não é um atraso na contagem dos votos, mas a lei eleitoral do estado, que obriga qualquer candidato a uma eleição uninominal a obter mais de 50% dos votos para ser declarado vencedor. Este ano, o senador democrata Raphael Warnock ficou à frente do seu oponente republicano, Herschel Walker, com 49,4% dos votos contra 48,5%. A entrada em cena de um terceiro candidato, Chase Oliver, do Partido Libertário, que obteve 2,1% dos votos, impediu qualquer um dos outros dois candidatos de obter 50% dos votos — e a eleição terá de ir a uma nova ronda de desempate, agendada para o dia 6 de dezembro. Se no Arizona se verificar a vitória democrata e no Nevada a vitória republicana, poderá ser preciso esperar até ao desempate na Geórgia para saber quem controlará o Senado.

Já no caso da Câmara dos Representantes, o Partido Republicano segue à frente do Partido Democrata, com 211 congressistas republicanos eleitos contra 194 democratas. Ainda assim, nenhum dos partidos chegou aos 218, o número vital para obter a maioria na Câmara dos Representantes, composta por 435 elementos.

Ainda tudo em aberto nas eleições nos EUA. O que está a atrasar os resultados? Há razões diferentes em estados diferentes

Neste caso, há 30 lugares ainda em aberto, em estados como o Nevada, o Arizona ou a Califórnia. Os atrasos na validação e contagem dos votos enviados por correio também se refletem aqui — embora haja menos incertezas do que no caso do Senado. As projeções apontam para uma probabilidade acima dos 80% de o Partido Republicano alcançar a maioria na câmara.

Apesar de este ano as curtas margens estarem a impedir a projeção de vencedores, a verdade é que a demora na contabilização dos votos nos EUA não é novidade, devido ao modo de validação e contagem dos votos por correspondência. Nas eleições de 2020, por exemplo, o empate na Geórgia também adiou em mais de um mês a decisão sobre quem controlaria o Senado.

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