Um duelo historicamente importante num Campeonato do Mundo muito longe de casa para uns e para outros. Inglaterra e Estados Unidos defrontavam-se no arranque da segunda jornada da fase de grupos do Mundial do Qatar depois de os ingleses terem goleado o Irão e de os norte-americanos terem empatado com o País de Gales — ou seja, com uns a querer carimbar desde já a presença nos oitavos e os outros a precisar de pontos para se manterem completamente dentro da corrida.

Gareth Southgate mantinha o onze inicial que goleou os iranianos, com Saka, Mount e Sterling no apoio a Kane e o maestro Bellingham a organizar o jogo nas costas, enquanto que Gregg Berhalter fazia uma única alteração e trocava Josh Sargent por Haji Wright na posição de referência ofensiva. Num Grupo B em que o Irão já tinha vencido o País de Gales esta sexta-feira, Inglaterra podia confirmar a liderança isolada em caso de vitória e os Estados Unidos podiam entrar em posição de apuramento em cenário de triunfo.

Numa primeira parte que terminou sem golos mas que teve vários pontos de interesse e de destaque, os Estados Unidos acabaram por registar um ascendente claro graças à pressão alta que aplicavam e que não permitia grandes espaços de desequilíbrio aos ingleses. Harry Kane teve a primeira grande oportunidade, com um pontapé de Kane que Zimmerman impediu que fosse à baliza (10′), mas as restantes ocasiões pertenceram aos norte-americanos: McKennie rematou por cima (25′), Pulisic acertou em cheio na trave (32′) e o mesmo Pulisic cabeceou ao lado logo depois (42′).

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Mason Mount ainda ficou perto de abrir o marcador mesmo em cima do intervalo, com um pontapé rasteiro que Turner defendeu (45′), mas a verdade é que o primeiro tempo terminou com superioridade dos Estados Unidos e com uma Inglaterra incapaz de agarrar na partida e controlar as ocorrências com posse de bola e tranquilidade.

Nenhum dos treinadores mexeu ao intervalo e Southgate só fez alterações a pouco mais de 20 minutos do fim, lançando Grealish e Henderson, com Berhalter a responder pouco depois com Aaronson e Moore. Apesar de os Estados Unidos terem regressado com o mesmo ímpeto e a mesma intensidade na pressão, a dimensão física começou a trair os norte-americanos a cerca de 20 minutos do fim e os ingleses dominaram na reta final da partida — beneficiando até de várias ocasiões em que poderiam ter inaugurado o marcador.

Até ao fim, porém, já nada mudou. Inglaterra e Estados Unidos empataram sem golos, num resultado naturalmente positivo para os norte-americanos, e deixaram tudo por decidir na antecâmara da última jornada do Grupo B: os ingleses têm quatro golos, o Irão tem três, os norte-americanos têm dois e o País de Gales têm apenas um.

A pérola

  • Tal como já tinha acontecido contra o País de Gales, Tyler Adams foi o elemento-chave dos Estados Unidos. O médio do Leeds, que é capitão com apenas 23 anos, é o cérebro da seleção norte-americana e é por ele que passa todo o jogo da equipa de Gregg Berhalter. Se Weston McKennie combate, se Musah brilha, se Weah aparece em zonas de finalização e Pulisic é a óbvia referência, tudo acontece porque Adams gere a transição defensiva e ofensiva dos norte-americanos com uma naturalidade que faz com que até nos esqueçamos que está em campo.

O joker

  • A oportunidade é rara, por isso, mais vale aproveitar. Harry Maguire foi um dos melhores elementos de Inglaterra num dia em que a seleção de Gareth Southgate esteve francamente abaixo do esperado e manteve a coesão defensiva que evitou o golo dos Estados Unidos. O central do Manchester United acabou o jogo com 87% de eficácia de passe e oito desarmes e esvaziou, pelo menos por uma noite, todas as críticas que normalmente lhe são feitas.

A sentença

  • O Grupo B está completamente em aberto na antecâmara da última jornada. Com Inglaterra na liderança isolada mas tanto Irão como Estados Unidos totalmente dentro das contas do apuramento — e com o País de Gales ainda com possibilidades matemáticas de qualificação, embora escassas –, todo o conjunto terá de esperar pelo derradeiro dia da fase de grupos para decidir quem fica pelo caminho e quem segue em frente.

A mentira

  • Mais uma vez, talvez pela última vez: é cada vez mais claro que esta seleção norte-americana não corresponde à ideia que todos, na Europa, teimamos em ter em relação ao futebol nos Estados Unidos. A equipa de Gregg Berhalter está vários níveis acima dos últimos conjuntos norte-americanos que marcaram presença em Mundiais e tem tudo para chegar aos oitavos de final e poder sonhar — até porque coloca em prática algum do melhor futebol que já se viu no Qatar.