Dois países, um mesmo Reino Unido, uma rivalidade natural — e, acima de tudo, saudável. Inglaterra e País de Gales encontravam-se na derradeira jornada da fase de grupos do Mundial do Qatar e tinham montanhas bem díspares para escalar: de um lado, os ingleses só precisavam de empatar para seguir para os oitavos de final; do outro, os galeses tinham de ganhar por quatro golos de diferença ou, noutra conjugação, vencer, esperar que o Irão empatasse com os Estados Unidos e ainda ficar com um saldo de golos melhor do que o dos iranianos.

Do lado da seleção de Gareth Southgate, o Campeonato do Mundo começou da melhor maneira com uma goleada frente ao Irão mas depressa escorregou num imprevisto com os Estados Unidos e o consequente empate sem golos. Do lado da equipa de Rob Page, tudo arrancou com um empate contra os Estados Unidos seguido de uma derrota contra o Irão. Um registo que, apesar de tudo, não deixava o selecionador inglês completamente descansado.

Estes americans vão mesmo à procura do dream (a crónica do Inglaterra-Estados Unidos)

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“É sempre um desafio e temos 26 jogadores mas estamos a disputar um Campeonato do Mundo. Nada disto é sobre dar internacionalizações de borla. Queremos chegar o mais longe possível. Os jogadores apoiam-se mutuamente e alguns vão ficar desiludidos se não jogarem. Tentamos dar tempo a todos ao longo do ano mas aqui, no Mundial, não podemos pensar dessa maneira a não ser que já estejamos apurados e tenhamos um jogo com uma abordagem diferente. Vamos escolher uma equipa que acreditamos que pode ganhar o jogo. Essa é a nossa prioridade”, explicou Southgate na antevisão da partida.

Assim, neste contexto, Inglaterra atuava com Rashford, Bellingham e Foden no apoio a Kane, deixando Saka, Sterling e Grealish no banco. Do outro lado, Bale, Moore e Daniel James formavam o trio ofensivo, com Ramsey, Ampadu e Allen no meio-campo e Harry Wilson a começar na condição de suplente.

Numa primeira parte que terminou sem golos, Inglaterra teve naturalmente as melhores oportunidades e foi a única equipa que esteve verdadeiramente perto de abrir o marcador. Ward evitou o golo de Rashford (10′), Foden rematou por cima depois de um lance brilhante pela direita (39′) e Stones também forçou uma boa defesa do guarda-redes galês com um cabeceamento (45+4′). Pelo meio, Neco Willliams teve de sair lesionado após ser atingido por um remate forte na cabeça.

Rob Page mexeu ao intervalo e tirou Bale para lançar Johnson — mas Inglaterra mal demorou cinco minutos a abrir o marcador. Rashford, de livre direto, bateu Ward e colocou os ingleses a vencer (50′), com Foden a aumentar a vantagem logo na jogada seguinte (51′). De um instante para o outro, Inglaterra estava a vencer o País de Gales confortavelmente e Gareth Southgate até tinha espaço para lançar Alexander-Arnold, Kalvin Phillips e Callum Wilson de uma vez.

Até ao fim, Rashford ainda bisou, aproveitando um grande passe de Kalvin Phillips no corredor direito para entrar na área e rematar cruzado (68′), e Inglaterra venceu o País de Gales de forma natural. Com a vitória dos Estados Unidos perante o Irão, os ingleses apuraram-se para os oitavos de final do Mundial no primeiro lugar do Grupo B e vão por isso enfrentar o Senegal, que ficou na segunda posição do Grupo A — enquanto que os norte-americanos, que também se qualificaram, vão cruzar com os Países Baixos. Consequentemente, Irão e País de Gales estão eliminados.

A pérola

  • Depois de ter marcado no primeiro jogo de Inglaterra, na goleada contra o Irão, Marcus Rashford bisou na partida decisiva contra o País de Gales e justificou por completo a aposta de Gareth Southgate, que o lançou para a titularidade após tê-lo deixado no banco nos outros dois encontros. O avançado do Manchester United parece estar em crescendo depois de um início de temporada pouco conseguido — e também motivado pelo momento coletivo dos red devils — e é claramente um dos ativos em destaque na seleção inglesa.

O joker

  • Fez dois contra o Irão, fez mais um contra o País de Gales. Tal como Rashford, Phil Foden também não tinha sido titular nos outros dois jogos e saltou para o onze inicial na derradeira jornada da fase de grupos. O avançado do Manchester City estava muito bem na altura da interrupção da Premier League, colocando-se ao lado de Haaland enquanto referência do conjunto de Pep Guardiola nesta época, e parece ter viajado para o Qatar com toda a vontade de prolongar o bom momento.

A sentença

  • Com os dois jogos desta terça-feira, o Grupo B torna-se o segundo a ficar fechado. Inglaterra apura-se para os oitavos de final no primeiro lugar, com os Estados Unidos a ocuparem a segunda vaga depois de terem derrotado o Irão, e iranianos e País de Gales estão eliminados do Mundial do Qatar. Cruzando com o Grupo A, que também ficou decidido durante a tarde, os Países Baixos vão enfrentar os Estados Unidos e Inglaterra vai defrontar o Senegal na próxima fase.

A mentira

  • O País de Gales voltou ao Campeonato do Mundo 64 anos depois, já que não conseguia qualificar-se desde 1958, mas não honrou por completo o histórico apuramento. Os galeses estiveram sempre abaixo do expectável, sofreram seis golos e só marcaram um e somaram somente um ponto em três jornadas da fase de grupos.