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A alegria tomou conta das ruas quando, no início de novembro, as forças russas abandonaram a cidade de Kherson. Num dia que o Presidente ucraniano descreveu como “histórico”, a população saía às ruas para receber os militares e festejar a libertação da cidade. Houve abraços, lágrimas e muitas selfies. Cerca de um mês depois, os civis procuram agora sair da cidade, numa altura em que os bombardeamentos russos se intensificam.

“É nosso.” Ucranianos regressam a Kherson e a festa toma conta das ruas

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Só nas últimas 24 horas, as forças russas lançaram 33 mísseis sob o território ucraniano, revelou o Estado-maior das Forças Armadas da Ucrânia. A cidade de Kherson foi o principal alvo dos bombardeamentos. Confrontados com o aumento dos ataques, muitos civis veem-se agora obrigados a partir.

“Antes, as [forças russas] bombardeavam-nos sete ou dez vezes por dia. Agora são 70 a 80 vezes, todo o dia. É demasiado assustador“, disse Elena, uma residente local, em entrevista à BBC. “Amo a Ucrânia e a minha querida cidade, mas temos de partir”, acrescentou.

Esta semana, deixou tudo para trás e saiu de Kherson juntamente com a família. Partiram de comboio numa evacuação organizada pelo governo ucraniano e seguiram em direção a Khmelnytskyi. Lançaram-se na viagem sem um destino definido. O principal era partir.

Com o apoio do governo, os bilhetes de comboio são grátis. Os civis são aconselhados a partir para zonas mais afastadas dos confrontos ativos e passar o inverno em zonas mais a norte e leste. Segundo a BBC, mais de 400 pessoas saíram de Kherson desde o dia de Natal face à intensidade dos bombardeamentos. Muitos fazem caminho pelos próprios meios e nos postos de controlo concentram-se filas de carros rumo a vários destinos.

“Não conseguimos aguentar mais. Os bombardeamentos são tão intensos. Ficamos durante todo este tempo e pensávamos que iria passar, que teríamos sorte. Mas um ataque atingiu a casa junto à nossa e a casa do meu pai também foi atingida”, disse ainda Iryna Antonenko, que também decidiu partir da cidade.

Ocupada desde os primeiros dias da invasão, Kherson foi recuperada pelos ucranianos a 11 de novembro, quando as tropas de Moscovo cruzaram em retirada para a margem esquerda do rio Dnipro. Após nove meses de ocupação, a cidade, um importante ponto estratégico na região, tornou-se um alvo constante dos bombardeamentos russos.

No sábado, véspera de Natal, a cidade esteve 74 vezes sob fogo russo, segundo dados divulgados pelo governador regional, Yaroslav Yanushevych. Na mais recente atualização, as autoridades revelaram que pelo menos 11 pessoas morreram e 58 ficaram feridas, incluindo uma criança de seis anos que ficou em estado grave.

Esta terça-feira, Yanushevych denunciou um novo ataque, desta vez à maternidade de um hospital. “[Os russos] atingiram o local onde duas crianças nasceram. Antes dos ataques os médicos conseguiram concluir uma cesariana”, informou o governador numa publicação divulgada através do Telegram. “Miraculosamente” não foram registadas mortes, nem feridos, mas à ala de maternidade do edifício ficou danificada.

As autoridades têm apelado aos civis que deixem a cidade e esta quarta-feira voltaram a reforçar o aviso, mas há quem esteja relutante em partir. “Eu digo às pessoas que Kherson é uma das cidades mais perigosas neste momento. Peço-lhes que imaginem que vão de férias durante uma semanas, talvez seja mais fácil mudarem-se desta forma, mas muitos preferem ficar”, disse à CNN Dmytro Poddubniy, um dos membros do conselho da cidade.

Yana Yermochenko e a mãe decidiram seguir as indicações das autoridades e partiram de Kherson em dezembro. Com o fim da ocupação as duas mulheres anteciparam que os russos iriam bombardear a região como retaliação. “É uma lotaria. Nunca sabes que sítio um míssil vai atingir, não sabes se vais viver ou morrer”, disse a residente em declarações ao canal norte-americano.

Desde o início da guerra, a 24 de fevereiro, morreram pelo menos 6.884 civis, avançou esta quarta-feira o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos. No seu mais recente relatório indicam que um total de 10.947 pessoas ficaram feridas.