A primeira derrota de Schmidt no comando técnico do Benfica começou a ser construída no verão. No jogo da 14.ª jornada da Primeira Liga, Ricardo Horta usou o Estádio Municipal de Braga como certame das capacidades que, sendo suas, foram tão requisitadas por outros. Tanto se falou na possibilidade do extremo, há sete épocas jogador do Sp. Braga, poder assinar pelo Benfica na passada janela de transferências. O negócio que virou novela acabou por cair. A permanência de Horta no plantel minhoto acabou por ser materializada e foi aí que a queda dos encarnados começou.

Na altura indicada, porque, sabemos, o tempo da ciência nem sempre é o das necessidades, surgirão as teorias científicas baseadas na monitorização dos metabolismos e das curvas de rendimento dos atletas para justificar o impacto que um Mundial a meio da época pode ter tido.

O que é certo é que não dá para pôr em gráficos ou tabelas o verdadeiro efeito da surpresa. Não se esperava que o Sp. Braga atropelasse a invencibilidade do Benfica com um esclarecedor 3-0, construído com um golo de Abel Ruiz e dois de Ricardo Horta. Mais tarde saberemos se o Qatar teve algo a ver com isto.

Antes da paragem para o Mundial, o Benfica estava praticamente imparável. Em 13 jogos do campeonato, os encarnados cederam apenas um empate em Guimarães, somando todos os restantes jogos por vitórias. A verdade é que depois disso, o Benfica importou do Qatar dois campeões do mundo com os quais RogerSchmidt voltou a poder contar para o onze inicial. Se os argentinos vinham desgastados? “O Enzo e o Otamendi são os únicos que estão com ritmo”, descansou Roger Schmidt.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Antes de receber o Benfica, o Sp. Braga foi a Alvalade perder por 5-0 para os quartos de final da Taça da Liga, numa partida em que se mostrou completamente descaracterizado. O treinador dos minhotos, Artur Jorge, admitiu que a derrota pesada diante do Sporting afetou a equipa, por isso, frente aos encarnados, os guerreiros transfiguraram-se e abdicaram do 4-4-2 habitual.

O técnico bracarense manteve dois portões no meio-campo, Al Musrati e Racic, mas acrescentou André Horta numa zona mais adiantada do miolo. A equipa configurava-se então num 4-2-3-1. A defender, muitas vezes, Iuri Medeiros revelava um cuidado particular na marcação a Grimaldo, formando uma linha defensiva de cinco elementos atrás.

Desta forma, o Sp. Braga anulava a largura oferecida pelos laterais do Benfica, Grimaldo e Bah, e, com o trio de médios, impedia praticamente o Benfica de usar o corredor central mesmo que o 4-2-3-1 do clube da Luz colocasse muita gente a disponibilizar-se para o jogo interior.

Ficha de Jogo

Mostrar Esconder

Sp. Braga-Benfica, 3-0

14.ª jornada da Primeira Liga

Estádio Municipal de Braga, em Braga

Árbitro: João Pinheiro (AF Braga)

Sp. Braga: Matheus Magalhães, Víctor Gómez, Paulo Oliveira, Niakaté (Tormena 74′), Sequeira, Al Musrati, Racic, Iuri Medeiros (Hernâni Infande 74′), André Horta (Castro 82′), Ricardo Horta (Rodrigo Gomes 88′) e Abel Ruiz (Vitinha 82′)

Suplentes não utilizados: Tiago Sá, Alvaro Djaló, Banza e Bruno Rodrigues

Treinador: Artur Jorge

Benfica: Odysseas Vlachodimos, Alexander Bah (Gilberto 71′), Otamendi, António Silva, Álex Grimaldo, Florentino (Musa 45′), Enzo Fernández (Chiquinho 89′), João Mário (Draxler 71′), Frederik Aursnes, Rafa Silva e Gonçalo Ramos (João Neves 89′)

Suplentes não utilizados: Helton Leite, Lucas Veríssimo, Gil Dias e Morato

Treinador: Roger Schmidt

Golos: Abel Ruiz (2′), Ricardo Horta (32′ e 70′)

Ação disciplinar: cartões amarelos a Florentino (27′), André Horta (78′), Rafa (85′) e Otamnedi (87′)

Mesmo com muita gente atrás, o Sp. Braga não aplicou uma estratégia defensiva na partida. Abel Ruiz e Ricardo Horta foram o destacamento ofensivo dos minhotos, posicionando-se na frente e fixando a linha defensiva das águias. Era o suficiente para que, em pouco toques, os minhotos chegassem à frente com perigo.

A estratégia bracarense parecia boa, mas, cedo na partida, teve a credibilização que necessitava. Abel Ruiz (2′) não demorou a colocar o Sp. Braga em vantagem. Os comandados de Artur Jorge tiveram um livre favorável que foi despejado na área encarnada. A defesa cortou, mas Iuri Medeiros deu uma nova vida ao lance, colocando a bola na área novamente. Com alguma dose de sorte, encontrou o espanhol que finalizou com sucesso.

Sem deixar o Benfica aproximar-se da sua área e, ao invés, saindo sempre criteriosamente para o ataque, a vantagem acabou por aumentar. Ricardo Horta (32′) recebeu um belo serviço de Abel Ruiz que trabalhou de costas para a baliza e deu o golo ao internacional português.

A ameaça à invencibilidade do Benfica era, de acordo com o que se via, fator premente para o que restava jogar. A situação instalada não sofreu alterações. Pelo contrário, agravou-se. Para isso, o guarda-redes do Sp. Braga, Matheus Magalhães teve um grande contributo ao lançar com precisão, desde a sua própria área, o movimento de Iuri Medeiros que se esgueirou, numa simples, mas eficaz jogada de contra-ataque, e assistiu Ricardo Horta (70′) para o 3-0 final.

Do lado das águias, houve ainda espaço para a estreia absoluta na equipa principal de João Neves, um dos jovens vencedores da UEFA Youth League na temporada passada.

Apesar de continuar na liderança do campeonato, o Benfica demonstrou incapacidade para criar oportunidades. Exceto um remate de Aursnes de fora de área (52′), os encarnados não tiveram capacidade de gerar o volume ofensivo habitual, algo que Roger Schmidt quererá corrigir na próxima jornada diante do Portimonense. O Sp. Braga soma três pontos que contribuem para recuperar o terceiro lugar e alimentar a esperança de, contra o Santa Clara, ascender ainda mais na classificação.