A dificuldade em acolher e “aceitar a diversidade”, como casais em segunda união, pessoas com atração pelo mesmo sexo ou em uniões homossexuais, foi reconhecida esta terça-feira pela delegação da Igreja Católica Portuguesa na Assembleia Continental do Sínodo dos Bispos.

Na sessão desta manhã dos trabalhos da Etapa Continental Europeia do Sínodo dos Bispos, a decorrer em Praga, a delegação portuguesa apresentou a síntese da equipa sinodal da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), a qual sublinha que, “diante de modelos de pastoral gastos e distantes de um novo impulso evangelizador, o clericalismo obstaculiza a mudança, o legalismo arbitrário afasta os fiéis e o rosto burocrático de muitas comunidades são geradores de tensão e muitas vezes de abandono”.

Há alguma dificuldade em acolher todos de igual forma e em aceitar a diversidade no seio da Igreja (casais em segunda união, pessoas com atração pelo mesmo sexo ou em uniões homossexuais) em valorizar a fragilidade, nomeadamente das pessoas com deficiência, e em compreender o que se entende por ‘acolhimento'”, adianta o documento apresentado esta terça-feira.

Segundo as conclusões plasmadas nesta síntese, “há, ainda, tensões diversas em temas ditos fraturantes, tais como: o acesso das mulheres ao sacramento da ordem; a ordenação de homens casados; a identidade sexual e de género; a educação para a afetividade e sexualidade; e o celibato dos padres”.

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“Devem ser consideradas, igualmente, outras questões: a forma como são geridas as situações de abusos sexuais; a comunicação hermética que dificulta, não só o diálogo interno, mas o diálogo com a sociedade em geral e, especialmente, com outras confissões cristãs e religiosas”, aponta a síntese da equipa sinodal portuguesa.

Nesta segunda fase do processo sinodal, que se prolonga até ao outono do próximo ano, subordinado ao tema “Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, a Igreja portuguesa entende, a partir da imagem bíblica apresentada no Documento da Etapa Continental apresentado pelo Vaticano – “alargar o espaço da tenda” -, que este “é sinal de esperança que revela a importância de a Igreja dar voz e vez a todos, indo às periferias, manifestando a necessidade de acolher a todos independentemente das suas circunstâncias, incluindo os que moral e canonicamente possam estar numa situação irregular”.

A Igreja que se intui é aquela que está em saída porque se assume plenamente missionária e capaz de oferecer à Humanidade luzes de esperança”, sublinha o documento lido esta terça-feira, por Carmo Rodeia e Anabela Sousa, da equipa sinodal da CEP.

Para os autores do documento, “ressoa a necessidade de sermos uma Igreja com maior transparência nos processos de decisão e na sua comunicação, que dialoga com o mundo a partir da cultura numa perspetiva de ‘rasgar caminhos’, trazendo o Evangelho e a espiritualidade para o centro do debate público, numa Europa cada vez mais descristianizada, onde a dimensão institucional da Igreja tem uma relevância cada vez menor. Sublinha-se mesmo a necessidade de readquirir ‘relevância social'”.

Como prioridades para discussão, nomeadamente, na primeira sessão da Assembleia sinodal, a realizar no Vaticano em outubro deste ano, o documento síntese da CEP aponta para a prioridade a dar aos jovens e à participação da mulher na Igreja, à reflexão sobre “o ministério ordenado, considerando a possibilidade de ordenar presbíteros homens casados” bem como “ter uma atenção permanente aos pobres e dar centralidade às diferentes questões de cariz social, bem como às questões relacionadas com a ecologia face aos crescentes problemas ambientais”.

Dar resposta às novas realidades sociais e afetivas, fortalecendo os vínculos nas Igrejas domésticas com um acompanhamento personalizado das famílias, e acolhendo os novos modelos familiares (famílias monoparentais, famílias reconstruídas a partir de outras, divorciados recasados, famílias com pais/mães do mesmo sexo e com filhos biológicos ou adotados)” é outra das prioridades identificadas, a par do diálogo com “a cultura e com o pensamento contemporâneo, em temas como a inteligência artificial, a robótica ou as questões de identidade de género (LGBTQIA+)” ou a necessidade de revisão da “comunicação e linguagem da Igreja (para dentro e para fora) e a ocupação do espaço público como uma voz credível e de serviço”.

O Sínodo sobre a Sinodalidade, que culminará no Vaticano em outubro de 2024, quer saber como é que a Igreja está a fazer o “caminho em conjunto” no anúncio do Evangelho e chamou, numa primeira fase, “todos os batizados” a darem opinião.

Uma Igreja sinodal, ao anunciar o Evangelho, ‘caminha em conjunto’. Como é que este ‘caminho em conjunto’ está a acontecer hoje” na Igrejas locais? foi uma das principais perguntas colocadas aos cristãos.

Nos trabalhos em Praga, que se prolongam até quinta-feira, estão representantes de 39 conferências episcopais da Europa.