Foi uma conferência de imprensa pouco habitual. Rodeado de jornalistas, o Presidente da Bielorrússia respondeu a múltiplas questões de órgãos de comunicação sociais de todo o mundo, incluindo os do Ocidente. Consciente da amplitude que podiam alcançar as suas declarações, Alexander Lukashenko enviou farpas para a Ucrânia, para a Polónia e para os Estados Unidos.

Sobre a guerra na Ucrânia, Alexander Lukashenko foi claro e respondeu a uma das questões que mais tem inquietado a comunidade internacional: se a Bielorrússia entrará na guerra para lutar ao lado da sua aliada Rússia. O Chefe de Estado aclarou: Minsk toma parte ativa no conflito “apenas se” Kiev lançar um ataque em primeira instância.

“Estou pronto para lutar com os russos apenas num cenário: se algum soldado [ucraniano] estiver em território bielorrusso e começar a matar o meu povo”, afirmou o Chefe de Estado bielorrusso citado pela Belta, assegurando que se tal acontecer a resposta de Minsk será “a mais cruel”. “Somos pessoas pacíficas. Sabemos o que é a guerra é. Não queremos a guerra. E não vamos mandar as nossas tropas para o território da Ucrânia, a não ser que o território da Bielorrússia seja atacado”, reiterou.

Relativamente a esta possibilidade, o Presidente da Bielorrússia acredita que “a guerra vai tomar um rumo completamente diferente” se Minsk entrar na guerra, dando a estimativa de que o país possui 75 mil soldados prontos para um eventual conflito.

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Ainda sobre a Ucrânia, Alexander Lukashenko atacou o seu homólogo. “Volodymyr Zelensky está a destruir a Europa”, disparou, avisando que ninguém vai conseguir restaurar o país depois da guerra. “Um novo problema vai emergia amanhã e o mundo não lhe vai prestar atenção. Eles vão esquecer-se da Ucrânia. Levará 100 anos [a reconstruir o país]. Ninguém vai ajudar”, atirou.

Utilizando a mesma argumentação de que os dirigentes russos, Alexander Lukashenko acredita que a operação militar desencadeada pela Rússia não foi uma “invasão”. “As autoridades ucranianas provocaram esta operação.”

“Não houve invasão nenhuma”, reiterou o Chefe de Estado bielorrusso, indicando que a operação militar visava “proteger os interesses da Rússia e das pessoas que lá vivem, o povo russo”. Ainda assim, o Presidente da Bielorrússia apelou a conversações de paz. “Se querem paz na Ucrânia, que se comece falar sobre paz. E as armas vão deixar de disparar.”

Porém, o Chefe de Estado da Bielorrússia acusa os Estados Unidos de não quererem a resolução do conflito e arrastarem a União Europeia a tomar a mesma posição.

O convite inusitado a Biden e Putin

Durante a conferência de imprensa, Alexander Lukashenko aproveitou para convidar o seu homólogo norte-americano, Joe Biden, para se deslocar à Bielorrússia para um encontro que também contaria com a presença do Chefe de Estado da Rússia, Vladimir Putin.

O Chefe de Estado bielorrusso começou por questionar por que motivo é que “Biden ia a Polónia”. “Estamos bem com isso. Mas se ele estiver disponível estamos pronto para o acolher em Minsk e ter uma conversa séria.”

Seguidamente, o Chefe de Estado da Bielorrússia indicou que, para se alcançar a paz na Ucrânia, estava disponível para acolher um encontro tripartido entre si, o Presidente dos Estados Unidos e da Rússia. “Nós temos aeroportos internacionais. A sua força aérea pode aterrar aqui. [Bill] Clinton visitou-nos uma vez. Aqui, na minha presença, nós os três — garanto que Putin viria — sentar-nos-iamos e resolveríamos o problema.”

No entanto, Alexander Lukashenko tem a certeza de que Joe Biden rejeitará o pedido. “Ele não virá. Ele vai ficar na Polónia, porque a Polónia é a hiena da Europa e desempenha o papel mais ativo em escalar a guerra na Ucrânia”, atirou o Presidente da Bielorrússia.

Ainda assim, o Chefe de Estado mantém o convite em aberto. Se Joe Biden quiser, Alexander Lukashenko assegura-lhe “segurança e conforto” na sua visita à Bielorrússia. “Mais importante do que isso, ele não vai arrepender-se desta visita”, rematou.