A situação não é comparável a 2008 e a Europa está mais protegida em relação ao que aconteceu com o Silicon Valley Bank (SVB) que, na sexta-feira, foi encerrado, depois de uma corrida aos depósitos. A Administração Biden e os reguladores atuaram, anunciando no fim de semana a garantia a todos os depósitos do banco, não deixando qualquer depositante sem o seu dinheiro.

“A determinação das autoridades é muito grande”, assume Vítor Bento, presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), assumindo que a situação nos Estados Unidos “não tem paralelo na Europa e em particular em Portugal. Não pode ser extrapolável para a nossa realidade”, declarou no Direto ao Assunto, da Rádio Observador.

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“A própria situação em que o banco em causa [Silicon Valley Bank] esteve envolvido foi de certa forma particular”. Era um banco regional em que houve uma corrida aos depósitos, não mostrando a instituição, antes disso, “sinais demasiado graves”.

Mas há diferenças em relação às regras europeias e portuguesas, salienta Vítor Bento. “Há um conjunto de regras aplicadas na supervisão, em que os bancos têm de manter determinados rácios de liquidez face às responsabilidade expectável. Nos EUA não são aplicados aos bancos regionais e por isso foi possível que o banco ficasse com um gap de liquidez. Na Europa é mais improvável. Os rácios de cobertura de liquidez face às responsabilidades imediatas são mais exigentes e vigiáveis recorrentemente”. E por isso vai realçando que “não há nenhum sinal de contágio preocupante” na Europa, apesar da queda das ações ligadas ao setor bancário na Europa. “Estas coisas de nível psicológico são sempre difíceis de prever a sua duração e depende da capacidade de reinstalar a serenidade. Numa primeira reação é natural que haja um assustar com situação, mas, não tendo bola de cristal, não tenho condições para acreditar que a situação se agrave mais do que isto”. O BCP caiu, em bolsa, na sessão desta segunda-feira 7,4%.

É por isso que não espera que o BCE avance com qualquer tipo de medida. “Estou convencido que estão a acompanhar a situação, mas não fazerem uma reunião extraordinária é um sinal” que quiseram dar de tranquilidade. Mas também acredita que não houve qualquer ação por não ser necessário. “Há bancos na Europa que têm vulnerabilidades de há muito tempo, não são de agora, não tiveram a ver com a situação atual, mas face a esta crise o grau de sensibilidade dessas situações acentuou-se”. É o caso, em particular, do Crédit Suisse.

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O SVB ficou sem liquidez quando houve a corrida aos depósitos, determinando a venda apressada de títulos da dívida pública, cujo valor nominal tinha caído com a subida das taxas de juro. O que levou a perdas por parte do SVB, induzindo mais corrida aos depósitos. E por isso as entidades reguladoras determinaram a garantia dos depósitos mesmo aqueles que estavam acima dos 250 mil euros, o limite garantido. Este banco, o SVB, tinha grande parte dos depósitos acima deste valor, e muito acima da média dos bancos. Apesar desta subida dos limites garantidos introduzida agora, Vítor Bento não acredita que vai generalizar-se essa alteração. “A garantia tranquiliza essa frente e, em princípio, é provável que as coisas comecem a estabilizar”.

Vítor Bento reitera a sua convicção de que “as duas crises [esta e a de 2008] não são idênticas. O potencial sistémico da outra crise era muito granse, este parece que não, nem sequer nos Estados Unidos, embora possa afetar mais bancos regionais”.

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