Têm pontos comuns. A ligação com os jogadores, o futebol ofensivo, o percurso recente entre Alemanha e Inglaterra, a relação aberta com a imprensa nas conferências, as tendências de esquerda fora de campo. Têm algumas diferenças. A carreira como atletas, as influências para seguirem a carreira de treinadores, o trajeto que foram querendo fazer, a forma como olham para o jogo e procuram criar ocasiões. Ao todo, desde 27 de julho de 2013, levavam já 27 confrontos entre ambos. E como as aparências podem iludir, Jürgen Klopp tinha vantagem sobre Pep Guardiola nas contas gerais (12-10 para o alemão além de cinco empates) e também nos duelos entre Liverpool e Manchester City (8-5 com mais cinco empates). Abria-se um novo capítulo.

Anfield voltou a ser do faraó: Liverpool vence Manchester City com golo de Salah

Os citizens chegavam a esta fase final da temporada com muito em aberto para ganhar entre Campeonato, Taça de Inglaterra (Sheffield United nas meias) e Liga dos Campeões (Bayern nos quartos) mas com uma diferença, que podia fazer toda a diferença, em relação às últimas épocas: não estava em primeiro da Premier League e não dependia apenas de si. Mesmo com um encontro em atraso, e em caso de vitória nesse acerto de calendário, o conjunto dos portugueses Rúben Dias e Bernardo Silva poderiam ficar a cinco pontos com dez jornadas ainda por jogar e uma receção ao líder Arsenal no final de abril. Por tudo isso, a margem de erro era quase nula desde o empate fora com o Nottingham Forest que atrasou ainda mais a equipa.

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Já os reds, numa daquelas temporadas de transição em que só mesmo os resultados conseguem mostrar que a equipa estava em final de ciclo a nível de modelo de jogo e que será alvo de alterações visando a próxima época, entravam nas últimas dez jornadas da Premier League (mais dois jogos de atraso) sem qualquer outro objetivo que não fosse o Campeonato e capazes do melhor e do pior e menos de uma semana, como ocorreu na goleada ao Manchester United por 7-0 a que se seguiu uma derrota com o Bournemouth (1-0). Ainda assim, e mesmo estando abaixo dos 50% de vitórias em relação aos encontros feitos (12 em 26), a formação de Klopp tinha ainda legítimas ambições de chegar ao quarto lugar e consequente apuramento para a Liga dos Campeões de 2023/24 numa luta com Manchester United, Newcastle e Tottenham.

Até mesmo em vantagem, o Liverpool nunca conseguiu demonstrar aquele futebol que conseguia “abafar” os adversários, revelou de novo fragilidades defensivas (quem via Alexander-Arnold sem bola e quem vê agora pensa que não é o mesmo) e teve poucas chegadas à área contrária por mais soluções que fossem tentadas. Ao invés, e sem o lesionado Haaland além de Phil Foden, o substituto natural escolhido por Pep Guardiola foi o fator decisivo da reviravolta: Julián Álvarez marcou o golo do empate, iniciou a jogada do 2-1 e fez o remate cortado em cima da linha antes da recarga que fixou o 3-1. O avançado que se sagrou campeã mundial pela Argentina e deixou o River Plate com o sonho de ganhar a Liga dos Campeões não esquece o título nacional e manteve o City na luta pela Premier League a vestir do fato de Homem Aranha na vez do Thor.

O encontro começou a um ritmo alucinante (as paragens para as seleções parecem ter feito diferença), com o Manchester City a não demorar a assentar arraiais no meio-campo contrário e a ter várias aproximações com perigo à baliza de Alisson. No entanto, e na primeira incursão à área contrária, foi mesmo o Liverpool que inaugurou o marcador numa jogada em que Diogo Jota recebeu na profundidade e preparou a carreira de tiro para Salah rematar colocado de pé esquerdo (17′). A vantagem duraria apenas dez minutos, com Julian Álvarez a concluir mais uma grande jogada coletiva já depois de Mahrez ter duas oportunidades que não foram concretizadas para empatar (27′). Com os campeões a carregarem e os reds em protestos depois de Rodri ter sido poupado ao segundo amarelo, o intervalo chegava com 1-1 num grande jogo.

Na segunda parte, bastaram menos de dez minutos para resolver o encontro com Julián Álvarez sem marcar, sem assistir mas a ser a chave da reviravolta: primeiro fez uma abertura fantástica para Mahrez na direita antes da assistência para Kevin de Bruyne encostar sozinho na área (46′); depois, fez toda a jogada, foi à área finalizar e o ressalto do corte de Alexander-Arnold acabou nos pés de Gündogan que fez o 3-1 (53′). Pelo meio e logo a seguir Gapko teve também oportunidade para marcar mas o Liverpool tinha sucumbido de vez à reentrada demolidora do Manchester City, algo que nem mesmo as quatro substituições de uma assentada (com Salah a ser um dos preteridos) mudaram. Aliás, ainda seria o Manchester City a chegar à goleada, com Jack Grealish, titular em vez de Phil Foden, a concluir mais uma grande jogada coletiva (74′).