Na noite de domingo, 1 de maio, o canal de notícias canadiano CBC News emitiu uma rara entrevista à princesa Ana, transmitida a apenas cinco dias da cerimónia de coroação de Carlos III. Ao longo de cerca de 24 minutos, a única filha de Isabel II falou sobre temas que raramente comentou no passado, como a perda de ambos os pais num período de apenas 18 meses, o futuro da monarquia e a coroação do irmão.

Depois do afastamento de Harry e Meghan Markle, das polémicas em que André se viu envolvido e das mortes de Isabel II e do príncipe Filipe, uma redução adicional de membros ativos na família “não soa como uma boa ideia”, comentou a princesa de 72 anos.

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O tema da escravatura também esteve em destaque durante a entrevista, depois da série de investigações “Cost of the Crown” do jornal The Guardian ter revelado uma série de documentos que comprovam a ligação da monarquia à exploração de escravos nos séculos XVII e XVIII. Sobre a posição tomada por Carlos III, que afirmou publicamente estar preparado para contribuir para a investigação deste temas, disse: “Suspeito que essa foi a interpretação que a imprensa retirou desse acordo em concreto”. A princesa afirmou ter uma visão “diferente” da do seu irmão, “mais realista”, e acrescentou que “a escravatura ainda existe” e que não se deveria “focar demasiado as cronologias de tempo e períodos. A História não funciona assim.

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Sobre a coroação do irmão, afirmou “não ter feito muitas perguntas” em relação às cerimónias e recordou a coroação da sua própria mãe, que terá sido muito diferente da cerimónia que está a ser preparada para 6 de maio. Ana não foi autorizada a estar presente no evento de 2 de junho 1953, mas Carlos “já tinha idade suficiente” para ir.

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“Vai ser um cenário muito diferente”, comentou. “Não vão ser tantas pessoas desta vez. Há muitas coisas envolvidas na cerimónia que têm mesmo de ser feitas, que são fundamentalmente importantes. É o significado da coroação de todas as formas. Não é apenas uma grande cerimónia, é uma parte muito essencial das responsabilidades da coroa”, afirmou.

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O cortejo de Isabel II, que morreu em setembro do ano passado, foi recordado pela filha como “uma visão muito impressionante e muito tocante”, referindo-se à “forma como as pessoas reagiram e como fizeram as coisas.” E continuou: “Deixar Balmoral nunca foi fácil, mesmo quando era criança.” “Era feliz lá?”, perguntou a repórter. “Sim”, respondeu Ana. “É um lugar que encaixava sempre naquela altura do ano, havia um verdadeiro relaxamento.”

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A princesa confessou que “em alguns aspetos” a pandemia roubou-lhe algumas coisas. “Tendo a pensar que roubou um pouco ao meu pai, que perdeu muitas das pessoas que teriam ido vê-lo e falar com ele e tido muitas das conversas que o mantinham interessado. Perdeu tudo isso. Tenho a certeza que muitas famílias lhe diriam a mesma coisa. Para a geração mais velha, perder esses contactos, perder a capacidade de… o online não foi a solução para toda a gente”, lembrou.

[veja aqui a entrevista com a princesa Ana:]

A repórter recordou o momento em que uma Isabel II de 94 anos foi forçada a sentar-se sozinha no lugar que habitualmente ocupava na Capela de S. Jorge, na segunda fila, à direita do altar, no dia do funeral do príncipe Filipe. “De algumas formas, estou aliviada por não termos visto isso naquele momento”, comentou Ana, que estaria nesse momento a acompanhar o cortejo do pai. “Quando se vê a fotografia, é muito pior, de alguma forma.” A imagem em questão tornou-se viral em 2021, quando as restrições da pandemia impunham o distanciamento social.

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Sobre o Jubileu de Platina de Isabel II, foi-lhe perguntado se a Rainha se teria divertido durante as celebrações. “Diversão? Foi um fim de semana um tanto comprido para ser tido como divertido, mas quando chegou ao fim ela percebeu que todos o apreciaram e isso fez toda a diferença.”

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Como será o reinado de Carlos III? “Sabem que tipo de rei ele vai ser, porque ele tem estado a praticar há algum tempo e não creio que vá mudar. Está comprometido com o seu nível de serviço.”

A relevância da monarquia é um tema sobre o qual “haverá muitas conversas”, acredita Ana, embora se distancie do tema. “Não é uma conversa que eu necessariamente teria. Mas acredito que é verdade que estamos num momento em que é necessário ter essa discussão. A monarquia e a constituição providenciam um nível de estabilidade a longo prazo que é difícil encontrar de outra forma.”

A repórter considerou: “Não parece preocupada com o futuro da monarquia”. Ana riu-se, hesitou e respondeu: “Acho que está a pôr palavras na minha boca”. A repórter insistiu com a questão. “Não”, respondeu finalmente Ana. “Porque acredito que que há benefícios genuínos neste acordo específico, o da monarquia constitucional. Acredito que tem benefícios a longo prazo.”