Que os jogadores de futebol recebam muita atenção, muitas mensagens, muitos requisitos e muitos convites, não é propriamente novidade. A era das redes sociais, porém, fez com que esses mesmos jogadores de futebol ficassem ainda mais expostos à atenção, às mensagens, aos requisitos e aos convites. E Mason Mount, Ben Chilwell e Billy Gilmour, três jovens britânicos, souberam recentemente o quão expostos estavam às piores intenções.

Esta semana, uma jovem britânica foi condenada a uma pena suspensa de 12 semanas de prisão, assim como a 200 horas de serviço comunitário, 30 dias de reabilitação e uma ordem de restrição de cinco anos que a impede de contactar ou aproximar-se de Mount, Chilwell e Gilmour. Orla Sloan, de apenas 22 anos, terá ainda de pagar 1.280 euros de indemnização aos três jogadores. O motivo da condenação? O facto de ter perseguido, assediado e ameaçado os três atletas, que na altura dos acontecimentos pertenciam todos ao Chelsea (Gilmour, entretanto, saiu para o Brighton).

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Orla Sloan, de apenas 22 anos, foi condenada a uma pena suspensa de 12 semanas de prisão e 200 horas de trabalho comunitário

De acordo com o The Athletic, a história começa em novembro de 2021, quando Mason Mount organizou uma festa na própria casa, na região inglesa de Surrey. Entre os convidados, naturalmente, estavam os colegas Ben Chilwell e Billy Gilmour — mas também Orla Sloan, uma jovem modelo e influencer britânica com mais de 90 mil seguidores no Instagram. Mount e Sloan conheceram-se nessa mesma noite, tiveram relações sexuais e, de acordo com a defesa do internacional inglês, este deixou claro que não queria manter o contacto e que a ligação tinha iniciado e terminado ali. Para a jovem, porém, a explicação não chegou.

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“Infelizmente, ela achou que podia haver mais qualquer coisa ali. É jovem, é ingénua. Acreditou que existia alguma coisa naquelas circunstâncias, quando toda a gente sabia que não existia nada”, explicou ao The Athletic o advogado Michael Cogan, que sublinhou o facto de Orla Sloan, na altura, ter acabado de se mudar para Londres. A jovem continuou a enviar mensagens a Mason Mount e, depois de o jogador bloquear o número, alterou-o mais de 20 vezes para continuar a contactá-lo. O inglês continuou a bloquear os números, mas as mensagens não pararam.

Algumas eram de arrependimento, com Orla Sloan a garantir que só queria conversar e pedir desculpa. Outras eram em formato de ameaça, com Orla Sloan a assegurar que tinha conhecimento e informação sobre todas as relações que Mount tinha tido entretanto. E outras eram obviamente preocupantes, com Orla Sloan a revelar que tinha deixado de comprar comida para ter dinheiro para continuar a arranjar novos números de telemóvel. A dada altura, indicou que tinha um alter ego, “devil baby”. “Tu e o Ben [Chilwell] serão destruídos. Tem cuidado com o ‘devil baby’, Mason, eu posso transformar-me a qualquer segundo”, chegou a dizer numa das mensagens.

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Os três jogadores (Chilwell à esquerda, Mount ao centro, Gilmour à direita) partilharam balneário no Chelsea, com o último a sair para o Brighton no verão passado

Nesta altura, Mason Mount decidiu contactar as autoridades. “Ele estava preocupado, achava que ela tinha uma obsessão ou uma fixação com ele e não sabia de que é que ela poderia ser capaz. Decidiu contactar a polícia porque ela sabia mais ou menos onde é que ele vivia e treinava. Tinha medo de que ela, não conseguindo contactá-lo, aparecesse no centro de treinos do Chelsea”, explicou Dmytro Palamarchuk, outro dos advogados envolvido no caso.

A perseguição de Orla Sloan ao jogador durou de junho a outubro de 2022. Pelo meio, a jovem virou-se para Ben Chilwell, tentando chegar a Mount através do colega de equipa, e acabou por arranjar maneira de chegar também a Billy Gilmour, com o escocês a tornar-se a principal vítima de todo o caso. A britânica criou várias contas de Instagram para falar com Gilmour, à medida que este bloqueava as anteriores, e enviava mensagens de caráter ameaçador, chegando mesmo a dizer que ia “caçá-lo”.

Semanas depois, a situação intensificou-se. A dada altura, Orla Sloan começou a contactar amigos e família de Billy Gilmour, chegando mesmo a comunicar com uma tia do jovem jogador e levando-o a cortar relações com algumas das pessoas mais próximas para as proteger. “Fiz tudo para evitar as mensagens. Prejudiquei relações e amizades pré-existentes. Não sei em quem confiar, nesta altura. Alguma da informação que ela tinha só era conhecida por pessoas que me eram próximas. Tudo isto teve um efeito negativo na minha performance, na minha vida profissional. Afetou-me, a mim e a todos aqueles que me rodeiam. Quero que o contacto termine de vez, para continuar com a minha vida”, explicou o escocês no testemunho que deu à polícia, revelando ainda que começou a tomar medicação para conseguir dormir.

Depois de os três jogadores realizarem as respetivas queixas à polícia, Orla Sloan foi detida e acusada de dois crimes de perseguição e outro de assédio não violento. Declarou-se culpada de todas as acusações, assumindo todas as alegações de Mount, Chilwell e Gilmour, e foi agora condenada.