A capital belga, Bruxelas, acolhe estas segunda e terça-feira a primeira cimeira em oito anos da União Europeia (UE) com os países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), marcada por divergências sobre a declaração final.

Nesta cimeira de dois dias para reforçar os laços diplomáticos entre as duas regiões, Portugal estará representado pelo primeiro-ministro, António Costa, que segundo a informação enviada à agência Lusa, tem encontros à margem marcados com os Presidentes da Argentina, Brasil, Costa Rica, Chile e Colômbia e com o primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves, que lidera atualmente a Celac.

Também presente na cimeira estará o Presidente brasileiro, Lula da Silva, que chegou no domingo à tarde a Bruxelas, segundo a informação dada à Lusa por fonte da Presidência, e que já disse que espera “um aprofundamento das relações” entre as regiões.

Esta que é a terceira cimeira da UE com a Celac, marcada oito anos depois da reunião de 2015, que se vai focar no reforço da parceria entre as duas regiões para as preparar para novos desafios, como as consequências da Covid-19 e da guerra da Ucrânia causada pela invasão russa, as transições ecológicas e digitais e a retoma da ordem internacional baseada em regras.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O regresso ao poder do Presidente brasileiro, Lula da Silva, com uma posição pró-europeia também faz com que este seja o momento propício para reforçar os laços diplomáticos entre a UE e a CELAC, segundo fontes diplomáticas comunitárias.

Ainda assim, apesar da vontade comum de estreitar laços entre as regiões, a declaração final da cimeira está a causar divergências entre o bloco europeu e latino-americano, com negociações ainda a decorrer, após oito rascunhos e de o texto ter passado de 13 páginas para sete na versão mais recente, consultada pela Lusa no domingo.

A causar maior fricção está a referência ao acordo da UE-Mercosul — o Mercado Comum do Sul, formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai — por haver países que no bloco comunitário (como França e Áustria) contestam essa menção por razões comerciais e ambientais.

Apesar da ambição de salientar o trabalho em curso, segundo a mais recente versão à qual a Lusa teve acesso, não é certo que esta menção esteja na declaração final, embora a atual a presidência espanhola da UE espere que a cimeira seja um ponto de partida para desenvolvimentos na conclusão do acordo UE-Mercosul, que abrange 25% da economia global e 780 milhões de pessoas, quase 10% da população mundial.

Outro dos pontos divergentes é referente à inclusão de uma menção à guerra da Ucrânia na declaração final, dadas as diferentes posições no bloco latino-americano (nomeadamente por parte do Brasil), estando para já apenas prevista a condenação, em termos gerais, do conflito.

Na versão a que a Lusa teve acesso no domingo, apenas era manifestada preocupação com a guerra em curso na Ucrânia, sem qualquer menção à Rússia.

A gerar consenso entre os dois blocos está a intenção de fazer cimeiras com mais regularidade, de dois em dois anos, estando a próxima prevista para a Colômbia em 2025, e de criar um mecanismo de cooperação permanente para reuniões regulares.

Em termos mundiais, a UE e a CELAC representam quase 60 países, cerca de um terço do território, 14% da população (mil milhões de pessoas) e 21% do Produto Interno Bruto.