O primeiro-ministro veio a público negar que desvaloriza o tema da corrupção, numa altura em que está a ser criticado por não falar do caso que deu origem à mais recente demissão no seu Governo, a do secretário de Estado da Defesa, Marco Capitão Ferreira. Num artigo de opinião publicado no Observador, António Costa queixa-se de ter existido, na última semana, a “construção de uma mentira a partir da deturpação de uma resposta a uma pergunta… que não foi feita”. Costa referia-se ao dia do Conselho de Ministros informal, quando foi questionado sobre a situação e evitou dizer mais do que o “deixemos a Justiça funcionar”.
No texto que escreveu este sábado, Costa pergunta em título: “Desvalorizo a corrupção?” E dá a resposta logo na primeira linha: “Não! Não desvalorizo a corrupção”. E sustenta esta sua garantia na “ação” que tem tido ao longo da sua “vida política”. Dá como exemplo disso “a profunda reforma legislativa” que diz ter produzido como ministro da Justiça”, as medidas de transparência” que assegura ter introduzido “na gestão municipal e o atual reforço sem precedentes dos meios de combate à corrupção por parte da Polícia Judiciária”.
Costa desvaloriza mais uma saída do Governo. “Deixemos a Justiça funcionar”
No final do artigo transcreve as declarações que considera estarem a ser interpretadas de forma errada, Aliás, sobre isso diz que durante a última semana foi “assistindo à construção de uma
mentira a partir da deturpação de uma resposta a uma pergunta… que não me foi feita.” E de seguida transcreve tudo o que disse nas declarações aos jornalistas no sábado passado, quando falou à margem do Conselho de Ministros informal que se realizou em Sintra. Costa diz que “ninguém falou de corrupção. Nem os jornalistas quando me questionaram, nem eu quando lhes respondi”. E repete: “Não, não desvalorizo a corrupção, mas também não desvalorizo a mentira“.
Nas declarações em causa, António Costa é questionado pela primeira vez sobre a demissão de Capitão Ferreira que tinha acontecido no dia anterior e remete o caso para a Justiça. Quando a pergunta surge de novo, muito concretamente sobre o que levou à demissão, Costa diz, “sem querer diminuir aquilo que preocupa muito os comentadores e o espaço político”, que aquilo que sente na rua “que preocupa as pessoas são temas bastante diferentes”. E quando, numa terceira vez, é questionado sobre a mesma demissão do secretário de Estado arguido e sobre uma eventual remodelação, o primeiro-ministro diz de novo que o “foco” são os “problemas dos portugueses”.
A reação de Costa à demissão que teve na origem um caso de corrupção foi comentada publicamente, nomeadamente pelo antigo presidente do PSD Luís Marques Mendes, que considerou que a “mensagem que passa é a de que está a desvalorizar o combate à corrupção”. E que “é por coisas destas que se criou o monstro Sócrates. Estavam lá todos ao lado dele: António Costa, Santos Silva, eram todos ministros”, acrescentou o comentador numa análise que suscitou, logo no dia seguinte, uma reação do próprio antigo primeiro-ministro, a braços com um caso de Justiça desde 2014, José Sócrates.
Marques Mendes acusa Costa de desvalorizar corrupção: foi assim “que se criou o monstro Sócrates”
Durante a semana, com o primeiro-ministro fora para a cimeira da NATO, o Presidente da República foi questionado sobre o mesmo caso e também sobre uma eventual desvalorização do tema da corrupção por parte de Costa. Na resposta às perguntas dos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa disse que “conhecendo o primeiro-ministro há oito anos, nunca diria que ele teria dito que a transparência ou a corrupção não era importante para os portugueses. Certamente não o disse.”
Para Marcelo, os portugueses “são muito sensíveis à transparência e à corrupção, mas à transparência em geral”. “Não é possível separar a visão da inflação, a situação económica, a situação social da ideia que os portugueses têm sobre o uso de dinheiros públicos, porque são dinheiros deles”, comentou o Presidente nessa altura.
