A observação de Fenómenos Anómalos Não Identificados (UAP, sigla em inglês) — anteriormente denominados por Objetos Voadores Não Identificados (OVNI) —  não é “rara”: não se trata de “acontecimentos isolados”. Eles “são frequentes”, ameaçam a segurança da tripulação dos voos militares e comerciais, mas o governo americano tem omitido estes acontecimentos nos seus relatórios, ignorando o perigo que representam. Quem o diz é Ryan Graves, ex-piloto da marinha norte-americana, que relatou ter observado estes objetos supostamente extraterrestres quando, estacionado na Virginia Beach, sobrevoava a costa do Atlântico, em 2014: “Os UAP estão no nosso espaço aéreo, mas são totalmente sub-relatados”. 

As declarações foram feitas perante um comité da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, que esta quarta-feira se reuniu no Congresso para uma audiência pública e transmitida em direto sobre os UAPs, onde foram ouvidos mais dois denunciantes: David Fravor, comandante reformado da Marinha, que relatou ter visto um objeto estranho no céu durante uma missão de treino, em 2004; e David Grusch, ex-oficial do Departamento da Defesa e até há pouco tempo à frente do gabinete de análise a UAPs da Agência Nacional de Informação Geoespacial (NGA). Grusch é o mais recente denunciante, tendo as suas declarações originado esta audição: declarou que o governo americano tem na sua posse veículos extraterrestres, “intactos ou parcialmente intactos”.

Os três elementos, assim como vários membros da Câmara dos Representantes nas suas declarações iniciais, descreveram discriminação e represálias direcionadas a quem observa e relata estes fenómenos, encobertos por uma alegada “falta de transparência”, relatando ainda a omissão dos acontecimentos nos relatórios.

Grusch confirmou que  já viu colegas a serem “brutalmente atacados administrativamente” — aquilo a que chamou de “terrorismo administrativo” —,  afirmou que houve pessoas feridas e adianta ainda que chegou a temer pela sua vida.

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“Tripulação discutia o risco dos UAP como parte dos briefings regulares pré-voo.”

“Existem tripulações militares de rotina e pilotos de voos comerciais, observadores treinados, cujas vidas dependem da identificação rigorosa, que frequentemente testemunham estes fenómenos”, alertou Ryan Graves.

A maioria das testemunhas destes OVNIs são, detalha, pilotos comerciais das principais companhias aéreas. Frequentemente, eles são veteranos com décadas de experiência em voos.” Segundo Graves, “o estigma associado aos UAP é real, poderoso um uma ameaça à segurança nacional”, capaz de “silenciar pilotos comerciais que temem repercussões profissionais que desencorajam testemunhas.”

O ex-piloto da marinha norte-americana relatou o episódio completo: em 2014, quando estava estacionado em Virginia Beach, foram feitos upgrades nos radares dos jatos — foi assim que  começaram a ser detetados objetos desconhecidos a operar no espaço aéreo. “Primeiro assumimos que eram erros de radar. Mas rapidamente começamos a correlacionar os rastros do radar com vários sensores a bordo, incluindo sistemas infravermelhos, eventualmente por meio de identificação visual.” Graves relatou a observarão de um objeto, um “cubo cinzento escuro ou preto dentro de uma esfera transparente que esteve a 15  metros da aeronave principal”, com um diâmetro estimado em 1,5 a 4,5 metros de diâmetro, que separou duas aeronaves que realizavam o treino. O comandante terminou o treino imediatamente e retornou à base.

O episódio parece ter sido ignorado: o relatório de segurança foi apresentado, mas “não houve reconhecimento oficial do incidente e nenhum outro mecanismo para relatar os avistamentos.”  “Partes do nosso governo estão mais cientes sobre os UAP do que deixam transparecer, por meio de práticas de classificação excessivas que mantêm ocultas informações cruciais .” Estes avistamentos tornaram-se tão frequentes, detalhou, que a “tripulação discutia o risco dos UAP como parte dos briefings regulares pré-voo. “

A observação do fenómeno, indicou, não se cingiu apenas aquele dia ou localização: “Desde que o evento ocorreu inicialmente, soube que os objetos têm sido detetados em operações da marinha em todo o mundo”, disse, citando informação que vem do Anomaly Resolution Office, gabinete que investiga os UAP.

Ao contrário de Fravor ou Graves, Grusch, não viveu um episódio de observação de UAP: “O meu testemunho é baseado em informações que recebi de indivíduos com um longo histórico de legitimidade e serviço a este país, muitos dos quais também partilharam evidências convincentes na forma de fotografia, documentação oficial e testemunho oral confidencial comigo e com outros colegas”, declarou.

Questionado sobre a possibilidade de o governo americano ter na sua posse de UAP, Grusch respondeu: “Absolutamente, com base em mais em entrevistas a mais de 40 testemunhas, ao longo dos últimos quatro anos”, declarou. “Sei as localizações exatas”, acrescentou.

Onde é que os Representantes devem procurar, questionou Alexandra Ocasio-Cortez. “Fico feliz em dar-lhe essa informação num ambiente fechado. Posso dizer-lhe especificamente”, declarou. Em vários questões, Grusch respondeu argumentando que não poderia responder publicamente.

Dez anos antes do episódio com Ryan Graves, seria Fravor, um ex-comandante reformado da marinha americana, então à frente do esquadrão Black Aces, a viver algo semelhante. O episódio, que alegadamente ocorreu em 2004, já foi relatado várias vezes na imprensa, incluindo no programa “60 Minutos“: Fravor relatou ter observado um OVNI, um cilindro sem asas, que conseguiu captar em imagem com uma câmara, imagens que deram origem ao “vídeo Tic Tac”. Nele, é possível ver-se um pequeno ponto branco com um comportamento rápido, errático e imprevisível. Foi primeiro tornado classificado e depois “desclassificado” em 2020.

“Fomos informados de que o treino seria suspenso e de que iríamos proceder com tarefas do mundo real”, começou por dizer, recordando esse dia. “O controlador disse-nos que os objetos estavam a ser observados há duas semanas, a descer de mais de 80 mil pés, rapidamente para os 20 mil pés.”

O objeto que viu, descreveu agora no Congresso, “era muito superior a qualquer coisa” que existisse naquela época, que exista hoje ou que se pretenda desenvolver nos próximos dez anos. “O que é chocante é saber que o incidente nunca foi investigado”, disse, informando que ninguém da sua equipa foi entrevistado.

Tim Burchet e Anna Paulina Luna, membros republicanos do Congresso da Flórida e do Tennessee, responsáveis pela investigação do comité de supervisão, mostram-se recetivos à realidade apresentada por Grusch — tanto que no início de julho, Burchet, declarou que as naves alienígenas estão dotadas de tecnologia que seria capaz de nos transformar em blocos de carvão. Em julho, referindo-se à audiência desta quarta-feira, indicou que as três figuras iriam fornecer “testemunho público porque o povo americano merece a verdade”, cita a CNN.

Foram vários os membros presentes que acusaram o governo de “falta de transparência” e incompetência, por esconderem dos americanos “explicações e imagens e montanhas de documentos classificados”. Houve ainda assim vozes mais céticas.

Há décadas que EUA têm estado a reunir naves inteiras e fragmentos de naves não humanas, acusou Grusch

Foi a 6 de de junho em entrevista ao site de notícias The Debrief que Grusch fez a denúncia: governo norte-americano tem escondido veículos alienígenas “intactos ou praticamente intactos”, acumulando estas provas ao longo de décadas e até aos dias de hoje.

Segundo a análise dessas provas, detalhou ao The Debrief, concluiu-se que os objetos são “ de origem exótica (inteligência não humana, seja extraterrestre ou de origem desconhecida) com base nas morfologias do veículo e testes de ciência de materiais e na posse de arranjos atómicos únicos e assinaturas radiológicas”.

Grusch, que reúne vários prémios e condecorações, tendo sido descrito por colegas como alguém profissional, credível e até “irrepreensível” — “um oficial com a bússola moral mais forte possível”, lia-se na sua avaliação de desempenho de 2022, notou o The Debrief — abandonou o governo em abril, depois de uma carreira de 14 anos. Relatou ter sofrido uma retaliação, na sequência de ter entregue à Câmara dos Representantes e Senado documentos confidenciais acerca destes veículos alegadamente extraterrestres.

NASA. Primeiro painel público sobre estudo do OVNIs revela ter analisado “mais de 800” ocorrências

Jonathan Gray, do Centro Nacional de Inteligência Aérea e Espacial (NASIC, sigla em inglês), confirmou ao mesmo site de notícias a existência destes “materiais exóticos”. “O fenómeno da inteligência não humana é real. Não estamos sozinhos”, declarou.“E isso não se limita aos Estados Unidos. Este é um fenómeno global.”

A denúncia de Grusch e de Grey surgem pouco depois de o primeiro painel público da NASA sobre estudo do OVNIs ter revelado que analisou “mais de 800” ocorrências desde a sua criação, admitindo que o estigma em torno da possibilidade de existência de vida extraterrestre tem sido um entrave ao trabalho de investigação.