Um funcionário do British Museum, em Londres, roubou peças da coleção do museu e vendeu-as no Ebay. A notícia foi avançada esta quinta-feira pelo jornal The Telegraph, que adianta que o museu britânico, um dos mais visitados do mundo, foi informado do caso há três anos.

Caso levantou a suspeita de um especialista em antiguidades, que estranhou ver uma peça de joalharia romana no site de leilões online. Rastreou o vendedor até chegar ao departamento de antiguidades do museu.

De acordo com o jornal britânico, a equipa do museu londrino foi avisada em 2020, mas a instituição não agiu perante a informação até ao início desde ano, quando o funcionário em questão foi demitido. Entretanto, a polícia já está a investigar o roubo de vários objetos que datam de 1500 a.C. até o século XIX.

Ao The Telegraph, fontes no mundo da arte garantem que o ladrão em causa começou a vender itens no eBay que não estavam registados pelo museu, tornando quase impossível provar que tenham sido roubados na instituição. O caso só terá dado nas vistas quando o funcionário ficou “descuidado”, segundo uma das fontes, e começou a vender itens catalogados pelo museu.

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O vendedor usava um pseudónimo semelhante ao seu nome real, mas a conta do Paypal estava vinculada a uma conta com o seu nome verdadeiro, enquanto membro da equipa do Museu Britânico, cujo nome de usuário no Twitter era quase idêntico à referência no Paypal. No Twitter, o ladrão usava o nome real. O especialista que deu conta do caso chegou mesmo a contactar o vendedor do eBay em 2016, afirmando saber a sua identidade, mas o vendedor negou trabalhar no museu.

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Conta o jornal inglês que o especialista — que não quer ser identificado — acabou por escrever a um académico britânico expressando a sua frustração pela inação do British Museum, sugerindo que o museu podia “não estar interessado em saber”, porque os roubos seriam “enormemente embaraçosos” para eles.

Martin Henig, reputado especialista em arte romana da Universidade de Oxford, disse ao The Telegraph que um dos motivos pelos quais o ladrão parecia ter conseguido passar despercebido por tanto tempo tem que ver com o facto de muitos dos objetos menores nas coleções do museu não estarem “adequadamente catalogados”.

“Sem um registo fotográfico online de todos os oito milhões de itens na coleção do museu, os comerciantes de arte não podem ter certeza de que um item foi roubado, já que não têm nenhuma referência para comparar, e o ladrão inicialmente garantia que os objetos roubados e vendidos se encaixassem nessa categoria”, descreve a mesma publicação.

British Museum está a “tomar medidas robustas” depois de outro roubo

“Realizámos uma investigação minuciosa, identificamos a pessoa que acreditamos ser responsável e essa pessoa foi demitida”, disse um porta-voz do museu. “Estamos a tomar medidas robustas adicionais para garantir que isso nunca possa acontecer novamente. A questão dos roubos no museu agora está sujeita a uma investigação criminal, não podemos fazer mais comentários.”

Esta quarta-feira, o museu anunciou que demitiu um outro membro da equipa após uma série de roubos de joias de ouro, pedras semipreciosas e vidro.

George Osborne, ex-ministro das Finanças britânico e presidente da administração do museu, pediu uma investigação independente para tentar recuperar as joias, descobrir o que correu mal e aumentar a segurança para evitar casos futuros. O objetivo é concluir se o museu respondeu rápido o suficiente quando tomou conhecimento dos roubos e se a polícia foi contactada o mais cedo possível.