Rizwanullah, de 15 anos, estava a caminho da escola na passada terça-feira, quando o seu caminho habitual foi interrompido. O cabo do teleférico que o jovem usava para atravessar a ravina da aldeia onde vive partiu-se. Com mais cinco crianças e dois adultos, Rizwanullah ficou pendurado a 274 metros de altura. A esperança de sobreviver, a certo momento, desapareceu.

Um vídeo da BBC captado por drone revela com pormenor o estado frágil e desequilibrado do teleférico que as pessoas ficaram durante 15 horas. 

Consegui ver a morte à frente dos meus olhos. A pressão do vento era muita e o teleférico estava a balançar. Não tinha portas de um dos lados há mais de um ano. Toda a gente estava a chorar”, disse ao Guardian.

Os oito passageiros foram resgatados numa operação que durou mais de 15 horas, e que incluiu várias tentativas fracassadas, com ventos fortes e luz fraca.

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Resgatadas as oito pessoas que ficaram presas a 274 metros de altura num teleférico no Paquistão

O terreno da aldeia, situada no distrito montanhoso de Battagram, no norte do Paquistão, é acidentado e com estradas estreitas que atravessam um rio, o que dificultou o salvamento. Os vídeos da operação espalharam-se rapidamente pelas redes sociais.

As 15 horas de uma operação “sem precedentes” para resgatar sete crianças e um adulto suspensos num teleférico a 274 metros de altura

Esta quarta-feira, a polícia prendeu Gul Zarin, o proprietário do teleférico, acusado de ignorar as medidas de segurança obrigatórias.

Paquistão. Detido dono do teleférico no qual oito pessoas ficaram presas a 174 metros de altura

O jornal Guardian falou com cinco dos jovens salvos, com os dois adultos e com o pai da sexta criança, Irfanullah, que foi levado para o hospital e está fora de perigo. O mais novo dos jovens, Ibrar Ahmed, de 13 anos, revelou ter perdido a esperança muitas vezes ao longo das horas em que esteve encurralado.

Pensei que era o mais pequeno e que morreria antes de todos. Fiquei sem esperança quando não vi qualquer ajuda. Fiquei esperançado quando o exército resgatou Irfanullah e voltei a perder a esperança quando escureceu e o exército suspendeu as operações de helicóptero. Recuperei a esperança quando um homem local resgatou o segundo rapaz”, disse Ahmed.

Attaullah revelou que o grupo partiu para a escola às 7h30 da manhã, mas pouco depois deu-se o acidente.

Passadas quatro horas, o primeiro helicóptero militar pairou sobre as nossas cabeças e fez o seu melhor, mas não conseguiu. O segundo helicóptero também regressou sem sucesso. Fiquei muito preocupado com o facto de os helicópteros não estarem a ser bem sucedidos e de irmos morrer em breve. Fiquei muito assustado e todas as crianças começaram a gritar. Começámos a agarrar-nos uns aos outros enquanto o teleférico continuava a balançar. Pensei que já estava morto”, contou Attaullah

As crianças contaram que foi Gul Faraz, de 24 anos, um dos adultos presos no teleférico, que lhes garantiu que iriam sobreviver. Apesar de o próprio ter dúvidas.

Para ser sincero, por mais que eu tentasse acalmar as crianças e dizer-lhes que íamos sobreviver, não via qualquer hipótese. Era uma situação caótica. Mas estava a tentar encontrar uma solução e o meu telemóvel salvou-nos”.

Faraz fez várias chamadas, informando o seu irmão mais velho e amigos sobre o incidente no teleférico.

Durante mais de uma hora, não houve serviço móvel no teleférico. Assim que vi as redes móveis a funcionar, telefonei a todos os meus conhecidos”.

Umraiz, pai de Irfanullah, que foi salvo pelos militares, também pensou que o teleférico cairia e que o seu filho não sobreviveria. Umraiz e outros habitantes da região acusaram as autoridades de terem conhecimento dos problemas com o teleférico, mas de não terem prestado atenção até ao momento.