“Ele não a estava a violar. Foi apenas um beijo e ela era uma amiga. O que há de errado nisso?”. Para Woody Allen, o realizador norte-americano, que também carrega um passado ligado a acusações de assédio sexual, nada. Numa entrevista ao jornal espanhol El Mundo, publicada esta segunda-feira, 4 de setembro, desvalorizou a polémica que levou à suspensão do presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales, pela FIFA, após este ter dado um beijo à jogadora da seleção feminina Jenni Hermoso, durante os festejos da vitória do Campeonato do Mundo, e de se ter recusado a demitir-se, dizendo ser vítima de um “assassinato social”.

É difícil compreender que uma pessoa possa perder o emprego e ser penalizada dessa forma por dar um beijo a alguém. Se foi inapropriado ou excessivamente agressivo, deveria ser-lhe dito claramente para não o fazer e para pedir desculpa. Não é como se ele tivesse assassinado alguém”, declarou o cineasta de 87 anos.

Apesar destas afirmações, Woody Allen confessa não ter conhecimento de todos os “factos”, não sabendo “se a mulher o afastou e disse: ‘Não faças isso'”. No entanto, é da opinião que, “como cidadão comum, foi errado, mas não foi como se tivesse incendiado uma escola”.

Após estas declarações polémicas, o realizador, que, em 1992, foi acusado de violar sexualmente a sua filha adotiva, Dylan Farrow, algo que tem vindo a desmentir ao longo dos anos, esteve presente no Festival Internacional de Cinema de Veneza, que decorreu no mesmo dia, para apresentar o seu 50.º filme: “Golpe de Sorte”. E, ainda que tenha recebido uma ovação de três a cinco minutos, segundo relata a revista Variety, do lado de fora, algumas pessoas não pareciam tão entusiasmadas com a sua chegada.

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“Tirem os holofotes de cima dos violadores”, pôde ler-se nas folhas de papel erguidas por diversos manifestantes, que, durante a passagem de Woody Allen pela passadeira vermelha, tiraram as camisolas e ecoaram a palavra “violador”.

“Este ano, o Festival de Veneza decidiu dar espaço a Woody Allen, Luc Besson e Roman Polanski, três realizadores que estiveram envolvidos em escandâlos de violência sexual contra mulheres, inclusivamente menores”, acrescentaram na notícia citada pela Variety, referindo-se também ao produtor francês, acusado de violar a sua companheira, com quem estava há dois anos, e ao realizador polaco, que enfrentou seis acusações sexuais contra uma jovem de 13 anos.