Mais um ministro da Academia Socialista, mais um ataque cerrado ao PSD. Manuel Pizarro esteve em Évora este sábado para falar na reforma do SNS, mas a intervenção resvalou rapidamente para ataques às “falácias e demagogias” da direita, em concreto o PSD e as propostas que fez para o SNS. O ministro diz que leu as ideias sociais-democratas e, perante os jovens socialistas, atirou a uma concreta: “A solução de Montenegro para as pessoas sem equipa de saúde familiar é uma espécie de chat GPT. Em vez de médico, telefona”.
O socialista referia-se em concreto a uma proposta do PSD que prevê a criação de um médico de família digital para 3 milhões de pessoas, defendendo que “os sistemas de atendimento telefónico podem ser muito úteis e temos insistido na sua requalificação, mas isso não é em vez de médico de família, é um acréscimo”. Explorou este ponto, ignorando outro que também está no plano social-democrata e que exige ao Governo que cumpra o promessa de atribuir um médico de família a cada português.
E não ficou por aqui nos ataques, passou também pela questão mais ideológica — e que já tinha sido abordada pelo secretário-geral adjunto João Torres, logo de manhã — do envolvimento de privados no serviço público. Disse que a direita acusa o PS de “preconceito ideológico” na Saúde e afirma: “Tenho mesmo um preconceito ideológico sobre o SNS, é o preconceito de quem quer assegurar que todos os portugueses têm acesso a cuidados de saúde sofisticados”. A este propósito lembra até que “por mais que os dirigentes políticos da direita se queiram apagar da fotografia, convém lembrar que quando a lei do SNS foi aprovada, o PSD e o CDS votaram contra”.
Olhando para o passado mais recente, e também em matéria de públicos/privados, Pizarro também rejeita “preconceito ideológico” noutra frente — também abordada neste mesmo painel pela ex-ministra Ana Jorge, embora aqui omita uma parte da história. Ainda na picardia com o PSD diz não perceber a acusação feita ao PS de “prescindir da colaboração de outros setores de forma complementar”, já que foram os governos socialistas que lançaram as parcerias público-privadas na saúde. “É caso para perguntar aos dirigentes do PSD de quantos hospitais em regime de PPP lançaram concurso”, afinal, lembrou, “todos os que existiam tinha saído de concursos e contratos assinados pelos governos do PS”. Foi também o PS, nomeadamente o Governo de António Costa que decidiu não renovar os contratos de PPP que acabariam entretanto.
Quanto ao SNS, Pizarro disse genericamente que “está mais forte do que alguma vez esteve. Ainda assim, não conseguimos responder inteiramente à procura de cuidados“. O ministro ainda ensaiou uma explicação benévola sobre esta crescente procura, dizendo que ela acontece também porque “as pessoas têm mais literacia” e “há mais resposta do SNS”. Mas também fala na necessidade de reorganizar o sistema.
“Não se deve alimentar a procura incessante por cuidados que podem não ser necessários”, afirmou o ministro que quer apostar nos cuidados de saúde primários para tirar pressão das urgências hospitalares. Mas da reforma que quer arquitetar fazem também parte os profissionais de saúde, que estão difíceis de convencer em várias frentes. No caso da dedicação plena que quer promover, Manuel Pizarro diz que tem, neste momento, “muita expectativa de poder ser possível aproximar posições de forma suficiente para que se possa prosseguir com o apoio e a participação activa dos profissionais de saúde”. Não diz no que está disposto a ceder, mas afirma que “a dedicação plena é fundamental para o que o Governo quer fazer na organização dos hospitais”.
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