O bispo Américo Aguiar, que foi o principal responsável operacional pela organização da Jornada Mundial da Juventude e que no final deste mês vai ser criado cardeal pelo Papa Francisco, deverá ser o próximo bispo de Setúbal, noticiou este fim de semana o jornal especializado em religião 7 Margens, citando diversas fontes eclesiásticas não identificadas.

A diocese de Setúbal encontra-se sem bispo há quase 600 dias, desde janeiro de 2022, quando o bispo José Ornelas, anterior bispo de Setúbal, foi nomeado bispo de Leiria-Fátima para substituir o cardeal António Marto, que renunciou ao cargo por razões de saúde.

Desde então, a diocese tem sido administrada interinamente pelo padre José Lobato, na qualidade de administrador diocesano — mas sem poderes para ir além da gestão quotidiana da diocese.

Contactado pelo Observador, o bispo Américo Aguiar diz não comentar qualquer informação sobre eventuais nomeações futuras, afirmando que se encontra a aguardar instruções da parte do Papa Francisco sobre a sua missão futura.

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Américo Aguiar, de 49 anos, é bispo desde março de 2019, quando foi nomeado pelo Papa Francisco bispo auxiliar de Lisboa. Nessas funções, foi o presidente da Fundação JMJ, a entidade da Igreja que organizou a Jornada Mundial da Juventude de Lisboa.

Dias antes do arranque da JMJ, o Papa Francisco anunciou que Américo Aguiar seria elevado a cardeal no próximo consistório, agendado para 30 de setembro. A nomeação cardinalícia de Américo Aguiar levantou a possibilidade de ser ele o sucessor de Manuel Clemente à frente do patriarcado de Lisboa — uma hipótese sobre a qual se especulava havia muito tempo, devido à grande exposição mediática do bispo Aguiar.

Contudo, a hipótese que se afigurava como mais provável no clero português era a de Américo Aguiar se mudar para Roma, já como cardeal, para liderar o Dicastério para os Leigos, Família e Vida. Por um lado, o atual responsável, o cardeal Kevin Farrell, já completou a idade limite de 75 anos; por outro, é aquele organismo que tutela a JMJ. O sucesso da edição de Lisboa, bem como a vontade do Papa em transformar o modelo da JMJ para as edições futuras, levava a crer que Aguiar poderia ser o homem escolhido para as funções.

Na diocese de Setúbal, um dos territórios do país mais afetados por problemas sociais e pela pobreza, Américo Aguiar terá de coordenar no terreno a missão de uma Igreja Católica envolvida em múltiplas obras sociais de proximidade, mas também de pacificar um clero crescentemente descontente com o facto de não ter bispo há quase dois anos.

Falta de bispos tem afetado várias dioceses portuguesas

A falta de bispo em Setúbal tem sido alvo de críticas entre o clero da diocese, com as responsabilidades a serem apontadas sobretudo ao núncio apostólico em Portugal, o arcebispo italiano Ivo Scapolo, que é o principal responsável pela organização dos processos de nomeação episcopal no país.

Os atrasos nas nomeações de bispos têm sido registados não apenas em Setúbal, mas em diversas dioceses do país. Por exemplo, Viana do Castelo esteve um ano sem bispo: entre a morte repentina do anterior bispo, Anacleto Oliveira, em setembro de 2020, e a nomeação do novo bispo, João Lavrador, em setembro de 2021.

A nomeação de João Lavrador para Viana do Castelo abriu uma vaga em Angra do Heroísmo, que só ficou resolvida mais de um ano depois, em novembro de 2022, com a nomeação de Armando Esteves Domingues, então bispo auxiliar do Porto, para o cargo.

Pelo meio, em dezembro de 2021, o bispo de Bragança-Miranda, José Cordeiro, foi nomeado arcebispo de Braga, para substituir Jorge Ortiga, que renunciou por limite de idade — abrindo uma vaga em Bragança-Miranda que só se resolveu em maio de 2023, quase um ano e meio depois, com a nomeação de Nuno Almeida, então bispo auxiliar de Braga, para o cargo.

A demora nas nomeações para estas três dioceses, que estiveram todas pelo menos um ano sem bispo, contrasta com a rápida nomeação de Rui Valério como patriarca de Lisboa — não tendo a diocese ficado qualquer dia em sede vacante entre a saída de Manuel Clemente e a entrada do novo patriarca. Situação diferente será a da diocese das Forças Armadas e de Segurança, que Rui Valério deixou agora e que ainda não tem novo bispo.

Mais recentemente, numa altura em que ainda se mantinha a diocese de Setúbal sem bispo, o Papa nomeou dois novos bispos auxiliares para a diocese do Porto, que tem hoje três bispos auxiliares — o que causou ainda mais perplexidade dentro da Igreja em Portugal.

Enquanto as três maiores dioceses do país — Braga, Lisboa e Porto — tiveram as suas nomeações episcopais rapidamente resolvidas, as dioceses mais pequenas têm tido grandes dificuldades em receber novos bispos.

No resto do país, dois outros bispos já pediram para sair (Manuel Felício, na Guarda, por limite de idade, e João Marcos, em Beja, por questões de saúde), mas mantêm-se em funções, ao passo que o bispo de Portalegre-Castelo Branco, Antonino Dias, completa os 75 anos, o limite de idade, em dezembro deste ano.